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Crítica | Sembene! (2015)

por Luiz Santiago
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O documentário Sembene! (2015) é uma valiosa porta de entrada dos espectadores para conhecer a vida e a obra do icônico diretor senegalês — também chamado de “pai do cinema africano” — Ousmane Sembène. A obra tem como ponto central os depoimentos de um de seus criadores, Samba Gadjigo, que cresceu admirando os livros e os filmes de Sembène, e que na vida adulta, já como acadêmico, teria a oportunidade de se tornar um tradutor e uma espécie de “guia” do mestre senegalês por muitos anos.

Há portanto uma linha de abordagem bastante pessoal aqui. A forma de apresentação do documentário é simples e genericamente padrão para o gênero, com entrevistas feitas com pessoas que fizeram parte da jornada de Sembène (inclusive o filho Alain, que rompeu com o pai durante algum tempo, por motivos que ainda ficam meio nebulosos no filme, mas que retomou o contato com ele nos anos finais da vida do diretor), ótimos vídeos de entrevistas com o artista, também em diferentes momentos de sua carreira; fotografias e cenas de todos os seus filmes.

Samba Gadjigo e Jason Silverman fazem um bom trabalho de exposição da filmografia do cineasta, embora deixem de flora uma marcação mais precisa dos filmes exibidos, o que pode ser muito frustrante para espectadores que não viram nenhum ou apenas alguns filmes do homenageado. Além disso, nem todos os filmes aqui mostrados são dirigidos por Sembène. Temos, por exemplo, cenas do início de África Sobre o Sena (Mamadou Sarr e Paulin Vieyra, 1955), considerado o primeiro curta totalmente realizado por africanos, além de trechos do que parecem ser imagens de cinejornais realizados no porto de Marselha, onde Sembène trabalhou como estivador.

Uma marcação precisa daquilo que estávamos vendo seria mais interessante para a obra, tanto por fazer a separação entre a arte de Sembène e a de outros artistas, quanto para ampliar o leque de contexto imagético e pesquisa. Ainda assim, o resultado geral é interessantíssimo, pois explora o processo de produção, as lutas e ideias do diretor desde O Carroceiro (1963) — e aqui chamo a atenção para o fato de que nada é comentado sobre o curta considerado perdido de Sembène, L’empire Sonhrai (1963), produzido pelo Mali — até Moolaadé (2004). Algumas obras possuem mais detalhes de criação do que outras e ficamos sabendo do lado nada elogiável do diretor, que disse que “dormiria até com o diabo para ser capaz de fazer um filme“. Essa frase vem no momento em que o documentário expõe o processo de produção de Campo de Thiaroye (1988), permitindo que a gente entenda por que Thierno Faty Sow foi co-diretor do filme.

As ideias, o estilo e a mensagem de uma “África capaz de contar a sua própria História” estão no centro da abordagem desse documentário sobre a vida do grande diretor africano. Uma história de vida intensa, completamente tomada pelo processo de criação e de defesa de suas ideias. Como disse no início, é um ótimo veículo para compreender melhor o diretor e também o contexto de bastidores de suas obras.

Sembene! (Senegal, EUA, 2015)
Direção: Samba Gadjigo, Jason Silverman

Roteiro: Samba Gadjigo, Jason Silverman
Duração: 89 min.

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