No quarto livro da série Mistérios de Meg Langslow, intitulado Urubu Agachado, Mergulhão Saltando (2003), surgiram-me sérias dúvidas quanto à habilidade de Donna Andrews em resgatar a graça e a vitalidade que marcaram seus primeiros cozy mysteries. Havia preocupações de que o universo já estabelecido pudesse atrapalhar o desenvolvimento de novos volumes, como já vinha acontecendo. Aqui, estamos diante de uma localidade pequena e aparentemente desprovida de elementos para sustentar tramas secundárias cativantes. Embora a autora pudesse optar por levar Meg e Michael em viagens marcadas por assassinatos instigantes (como ocorreu em Assassinato com Papagaios-do-mar), o retorno à cidade natal era o problema. No entanto, Andrews provou ser capaz de revitalizar tematicamente os assassinatos envolvendo Meg Langslow e manter o leitor interessado nos acontecimentos das novas narrativas, mesmo quando o pano de fundo não é tão chamativo — pelo menos para mim — como no caso deste livro, com seu drama esportivo.
Tenho muitos problemas com livros cuja temática principal é algum esporte ou que envolva diretamente atletas ou jogadores no exercício de suas funções. Neste Sem Ninho Para o Batedor, porém, é possível atravessar com tranquilidade os jogos de “Extreme Croquet”, que são sempre citados e guiam as ações dos principais personagens (a vítima é encontrada por Meg durante uma partida, por sinal), porque trata-se apenas de uma “brincadeira de familiares, vizinhos e convidados“, e por mais que tenhamos momentos de regras do jogo e cenas da partida, isso nunca fica chato. E esta também não é a principal coisa para a qual Donna Andrews chama a nossa atenção. Além do croquet, temos como animais dessa história os filhotinhos de pato que nascem na propriedade de um vizinho de Meg (contudo, diferente das corujas do livro anterior, eles não são verdadeiramente essenciais para a história) e uma farsa local sobre uma certa batalha da Guerra de Secessão.
Em alguns aspectos, este livro me lembrou a feira de garagem que a família de Meg organizou em A Vingança dos Flamingos de Ferro Forjado, com a diferença de que lá, estávamos falando da Guerra de Independência, e aqui, a notícia falsa criada por brincadeira por um grupo de universitários nos anos 1950, em Caerphilly, estava relacionada à Guerra Civil. Desta vez, o assassinato foi de uma historiadora que teve problemas para encontrar um cargo fixo numa Universidade local, e utilizou de sua personalidade bélica para perseguir pessoas, fazer chantagem, extorsão e ameaças, por isso não espanta o fato de ter aparecido morta. O leitor não tem nenhum contato com a vítima ainda viva, então é interessante, para uma questão de adicionar a dúvida, o fato de que todas as informações sobre ela são fornecidas pelos outros personagens. O problema é que nenhuma dessas visões é positiva.
Este é um livro contido, com a ação acontecendo no espaço de um único dia, tornando os eventos ainda mais intensos. São muitas descobertas, muita gente com segredos para esconder e uma lista de picuinhas de cidade pequena que sempre acaba em discussão ou, a longo prazo, pode causar a morte de alguém, como foi o caso. O que gostei bastante desse volume foi o fato de que a autora investiu em desenvolver bem as tramas paralelas, como no caso dos universitários suspeitos e, principalmente, na farsa de uma batalha da Guerra Civil, criada para sacanear uma das famílias tradicionais da cidade. Apesar de não crescer em qualidade literária diante daquilo que se propõe, Sem Ninho Para o Batedor é um livro divertido e, no geral, um mistério muito bom, com momentos curtos, mas marcantes de suspense, além de uma revelação final que vai arrancar algum tipo de riso do leitor, seja de descrédito, seja de cumplicidade.
Mistérios de Meg Langslow – Livro 7: Sem Ninho Para o Batedor (Meg Langslow Mysteries – Book 6: No Nest for the Wicket) — EUA, agosto de 2006
Autora: Donna Andrews
338 páginas