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Crítica | Sem Conexão: Parte 2

Uma bola de neve monstruosa.

por Felipe Oliveira
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Quando anunciada este ano pela Netflix, a trilogia de terror Rua do Medo surpreendeu e chamou atenção por cada filme ser lançado semanalmente na plataforma, e não sendo isso motivação o suficiente, a produção prometia muita nostalgia, uma inspiração slasher, e o enredo que se interligava ao longo de três narrativas em diferentes épocas. E não teve jeito: o sucesso foi estrondoso, embora a crítica tenha apreciado as produções mais que o público, a visão concebida por Leigh Janiak rendeu frutos positivos. Ao contrário do que acontece com as séries, os lançamentos cinematográficos do horror e seus subgêneros no streaming dificilmente emplacam no quesito apreciação, apesar de muita coisa com potencial ser desenvolvida, por isso, a saga Fear Street assombrou, e foi disponibilizada em um período atípico do Halloween.

Longe da linha do hype, muitas histórias estão sendo contadas e para todos os efeitos, o menos esperado, era que o slasher Sem Conexão, lançado no ano passado, ganharia uma sequência, e mais, que está se preparando para uma trilogia — ou quadrilogia, quem sabe?. Comandado por Bartosz M. Kowalski, o terror polonês flertava sobre a possibilidade de traçar críticas sociais com o subgênero como plano de fundo, o que acontece. Mas para o espanto da audiência, a produção que apontava uma inspiração ao slasher camp, bebia também de títulos americanos como Pânico na Floresta, Floresta do Mal, Halloween e, claro, Sexta-Feira 13, entregando um gore violento que se perdia no excesso de referências e alusões narrativas, mas que em suma, conseguiu agradar. E eis que sua continuação vem, sofrendo uma mutação que resulta em uma das experiências mais esquisitas para um terror que ninguém viu chegando.

A coisa aqui é uma sequência, mas já abre apresentando seu novo protagonista, Adas (Mateusz Wieclawek), um policial extremamente tímido e medroso que fantasia sendo um badass oficial, capaz até de conquistar sua amada Wanessa (Zofia Wichlacz). Mas distante dessa personalidade — e o cartaz do terror Maniac Cop: O Exterminador estampado na parede ironicamente contrapondo essa realidade —, o que surge, é a consequência do desfecho de um massacre no que deveria ser um acampamento de verão, com a delegacia local lidando com o depoimento da final girl Zosia (Julia Wieniawa-Narkiewicz), e estamos em um daqueles casos em que, por mais que as provas falem, a palavra da sobrevivente é posta em dúvida.

Ainda assim, esta não como alguma outra continuação de um terror que estejamos esperando, não; o primeiro indício é a mudança de tom da seriedade quanto ao antecessor, para este, que beira a cafonice e incongruência quando as ameaças não são tão perigosas assim, e depois o roteiro tornando o risco em destaque novamente, fazendo uma transformação inesperada que não muda só a sua base como sequência de slasher, e sim, aproveita as sequelas e joga o enredo para outro cenário que por mais que tente, exige do envolvimento da audiência para funcionar.

Se a premissa predecessora homenageava o slasher, trazendo personagens estereotipados e uma crítica à Geração Z, Sem Conexão: Parte 2, decide usar sua final girl para explicação do que seriam as criaturas que aterrorizavam o acampamento, nisso, sacrificando o slasher, agora para o subgênero dos monstros. Como se ser uma sequência não fosse um passo arriscado, transformar a figura de protagonista e sobrevivente como agente de ampliação mitológica, é duas vezes maior o risco, e o filme de Kowalski não poupou em misturar o humor deslocado e com todos os elementos disponíveis na nova abordagem que debate através da consciência dos monstros, os códigos morais e éticos da sociedade, bem como os tópicos do Homem vs. Monstro, Natureza vs. Monstro. Nesse contexto, essa bola de neve que se forma, causando uma enorme sensação de bizarrice, vem como resposta a esta realidade degradante das relações, impunidade, aspereza, futilidade, desesperança e desleixo, da natureza buscando um equilíbrio em forma de contestação. Contudo, o resultado é ainda inconsistente, ignorando o sentido lógico e de coerência para uma explicação do seu universo sobre monstros.

De toda forma, enquanto tenta se levar a sério com uma trilha sonora risível e até mesmo infantil, a parte 2 deste terror é curiosa por invalidar a própria premissa base e explorar outros ângulos de maneira peculiar. A execução é ridícula e beira a vergonha alheia, mas não deixou de pintar o que vem a ser a terceira parte, e o que tudo indica, se desdobrar para o sci-fi sobre monstros.

Sem Conexão: Parte 2 (W lesie dzis nie zasnie nikt 2 – Polônia, 2021)
Direção: Bartosz M. Kowalski
Roteiro: Bartosz M. Kowalski, Mirella Zaradkiewicz
Elenco: Mateusz Wieclawek, Julia Wieniawa-Narkiewicz, Zofia Wichlacz, Andrzej Grabowski, Izabela Dabrowska, Robert Wabich, Sebastian Stankiewicz
Duração: 96 minutos

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