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Crítica | Sem Conexão

por Ritter Fan
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Às vezes, o básico é suficiente, ainda que básico seja uma palavra que permita definição bastante elástica. No Cinema, diria que os filmes feitos única e exclusivamente para entreter, sem exigir absolutamente nada do espectador, cairão nessa categoria se – e somente se – eles apresentarem uma narrativa coerente e seus aspectos técnicos estiverem nos conformes, ou seja, se a direção tiver noção mínima do que está fazendo.

Esse é exatamente o caso de Sem Conexão, filme polonês dirigido por Bartosz M. Kowalski em seu segundo longa de ficção. Também co-escrito por ele juntamente com Jan Kwiecinski e Mirella Zaradkiewicz, estreantes em longas, o filme tenta emular slashers setentistas e oitentistas despejando na tela serial killers pustulentos com afinidade com toda sorte de instrumentos cortantes e perfurantes, adolescentes estereotipados e uma ambientação clássica de floresta no meio do nada com coisa nenhuma. O título em português entrega o único diferencial da obra, já que os tais adolescentes estão ali para alguns dias de desintoxicação eletrônica e são obrigados a deixar seus aparelhos na base do acampamento. Está estabelecido o cenário perfeito para a mortandade começar.

Assim como diversas obras mais recentes do sub-gênero, há outro elemento que se tornou clichê muito rapidamente: a autoconsciência do roteiro sobre o que o filme é, emprestando um caráter metalinguístico. Portanto, os adolescentes não só citam como obedecem as regras básicas de filmes de horror, como “transar é mortal”, “nunca devemos nos separar” e assim por diante. É o roteiro tentando ser esperto, mas apenas repetindo algo hoje tão lugar-comum e de maneira tão tola que nem dá para levar em consideração para além de um tentativa fracassada de paródia.

Mas o longa segue um ritmo constante e Kowalski sabe usar seu baixíssimo orçamento da melhor forma possível, dedicando algum tipo de sofisticação – mas nada assim muito especial – nas próteses dos assassinos que ele, muito corretamente, não demora a revelá-los, evitando mistérios bobos que restringiriam o filme ainda mais. Entre uma morte sanguinolenta e outra, há até espaço para ele contar uma história de origem um pouquinho diferente do usual para as ameaças e, claro, para desnecessariamente deixar as portas mais do que escancaradas para eventual continuação.

O leitor reparará que não mencionei nomes de personagens ou de atores até agora e a razão é muito simples: eles não importam e, se fossem animatrônicos de parques de diversão, daria no mesmo. Todos que aparecem diante da câmera são 100% fungíveis, diferenciando-se apenas pela altura (e também largura, he, he, he) e gênero. De resto, eles são todos iguais, sem nenhuma tentativa de desenvolvimento além de um ou outro flashback para criar o mínimo de empatia, algo que não fiquei convencido que eles conseguem. Ninguém vai se espantar se eu disser que há a garota introspectiva, o garoto nerd, a loira burra e assim por diante, não é mesmo? Afinal, Sem Conexão é uma síntese diria até apressada dos slashers de outra era, especialmente da franquia Sexta-Feira 13, o que inclui o obrigatório e sempre divertido “não adianta o quanto o personagem corre, o assassino chega lá meramente andando”.

O básico com certeza consegue divertir e Sem Conexão cumpre pelo menos essa promessa, talvez a definição perfeita de filme descompromissado. O problema é que o básico parece preguiça, especialmente com os recursos disponíveis aos diretores modernos mesmo em obras de orçamento apertado. Isso fica particularmente claro quando lembramos que os filmes que Sem Conexão tenta emular conseguiram, com pouco dinheiro e o emprego de imaginação, criatividade e inteligência, imortalizarem-se no Cinema, algo que nem de longe e com muita boa vontade acontecerá aqui.

Sem Conexão (W lesie dzis nie zasnie nikt – Polônia, 28 de outubro de 2020)
Direção: Bartosz M. Kowalski
Roteiro: Bartosz M. Kowalski, Jan Kwiecinski, Mirella Zaradkiewicz
Elenco: Julia Wieniawa-Narkiewicz (Julia Wieniawa), Michal Lupa, Wiktoria Gasiewska, Stanislaw Cywka, Sebastian Dela, Gabriela Muskala, Michal Zbroja, Miroslaw Zbrojewicz, Piotr Cyrwus, Olaf Lubaszenko, Wojciech Mecwaldowski, Bartlomiej Kotschedoff, Bartlomiej Firlet, Malgorzata Szczerbowska, Izabela Dabrowska
Duração: 102 min.

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