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Crítica | Segundo Prêmio (2024)

Música, drogas e crise psicológica.

por Luiz Santiago
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Neste drama musical assinado por Isaki Lacuesta e Pol Rodríguez, a cidade de Granada, na Espanha, é o local onde, no final dos anos 1990, uma interessante cena musical inspira jovens a se unirem para compor e performar em bares, seguindo uma onda de efervescência artística e cultural na cidade, um verdadeiro “espírito do momento” regado a manifestações criativas, todo tipo de droga e um sem-número de conflitos emocionais. É aí que reside a atenção de Segundo Prêmio, acompanhando a trajetória de uma banda de indie rock prestes a gravar seu terceiro álbum, um momento crucial que pode levá-los ao sucesso… ou ao fracasso, principalmente depois de um segundo disco experimental mal recebido, em oposição ao sucesso do primeiro projeto do grupo.

A premissa, embora interessante, não se traduz em uma experiência que acompanha bem a contradição entre a sutileza e a agressividade da música produzida pelo conjunto protagonista. A narrativa oscila entre o drama musical psicológico e uns pontos oníricos quase aleatórios, motivados pelas drogas consumidas por um dos integrantes da banda Los Planetas, criando uma atmosfera confusa que prejudica o ritmo e o foco da película. A direção muda o ponto de vista da banda para o indivíduo, e a cada troca, mais frágil fica o bloco abandonado. Em adição a isso, a exploração do imaginário popular em torno de jovens músicos e bandas de rock resulta em clichês e situações previsíveis, a despeito dos momentos de criação musical que são bem dirigidos e capturam com intensidade a atenção do público, com destaque para toda a sequência dos ensaios antes da ida à Nova York.

Não penso que o roteiro seja frágil na construção dos personagens, mas se analisarmos a ideia de uma obra sobre uma banda; sobre uma cena musical e sobre as relações entre os músicos, Segundo Prêmio basicamente se desvia da intenção primária e escolhe os seus favoritos, fazendo com que a noção de profundidade e desenvolvimento convincente de outros personagens seja posta em xeque. Acredito que a obra ainda conseguiria se sustentar com essa dinâmica se a narrativa fosse mais clara em relação ao seu objetivo dramático. Porque não dá para ter um bom enredo que seja meio-filme sobre uma banda, e meio-filme sobre os principais músicos dessa banda + seus demônios psicológicos em fase máxima de perturbação.

A direção até consegue imprimir um ritmo envolvente às cenas de ensaios e shows, mas como essas são pontuais, todo o restante torna-se uma indefinição em tom e intenção, com cenas desnecessariamente confusas; com muitas sequências sobre uso e abuso de drogas; e também sobre “lavagem de roupa suja” entre alguns membros da banda, uma maré de situações que, ao cabo, não se casam bem. Esteticamente, muitos desses momentos são incríveis. A reprodução de época pela direção de arte e figurinos é ótima, e a abordagem noturna que o fotógrafo Takuro Takeuchi faz aqui é notável, conseguindo imprimir uma atmosfera quase sólida de “liberdade irresponsável” que traz certa nostalgia para o público, especialmente considerando a década em que o filme se passa e as loucuras e crises de jovens adultos no meio artístico destruindo seus corpos, criando música e tentando amadurecer e construir algo positivo em suas vidas. O diálogo com a plateia existe, a temática é instigante e a música é boa. A gente só não sabe verdadeiramente o que os diretores queriam explorar aqui: a banda ou a história individual de dois de seus membros. 

Segundo Prêmio (Segundo Premio / Saturn Return) — Espanha, França, 2024
Direção: Isaki Lacuesta, Pol Rodríguez
Roteiro: Isaki Lacuesta, Fernando Navarro
Elenco: Daniel Ibáñez, Cristalino, Stéphanie Magnin, Mafo, Chesco Ruiz, Edu Rejón, Julen Clarke
Duração: 109 min.

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