- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Quando The Lowlands acabou, com o batalhão da aliança profana entre Tormada e Sibeth armando as catapultas para lançar as bombas em Pennsa que aparecia bem lá no fundo, fiquei pensando em como a série conseguiria transcorrer por mais dois episódios sem enrolar demais em seu sétimo e penúltimo episódio. Afinal, o arremesso de algumas amostras do “Deus Trovão” seria o suficiente para levar ao caos a cidade, especialmente considerando que apenas a realeza sabe que o fogo que cai do céu é uma arma maligna e não fogo que cai do céu.
Ou seja, fiquei com receio que God Thunder acabasse sendo um puro filler daqueles evidentemente desnecessários, que poderia ser facilmente pulado para o momento em que Baba Voss e seu fiel amigo Ranger partem para acabar com a ameaça representada pelo cientista insano e rainha louca. Mas existem fillers e fillers. Porque sim, o episódio é inegavelmente um “preenchedor de espaço” entre dois eventos importantes, mas a grande verdade é que o roteiro de Jennifer Yale e Jonathan Tropper mantém uma lógica razoável, faz uso de bons momentos de flashback para quando Baba e Maghra se conheceram e, com isso, acaba reiterando a coesão familiar que existe entre os dois, Kofun e Haniwa e apontando para um final trágico para esse núcleo se e somente se Steven Knight tiver coragem em seguir por esse caminho que, em minha cabeça, levaria à morte do protagonista.
Seja o que for que o futuro próximo reserve para Baba Voss, o ponto é que o ataque violento, mas interrompido por Sibeth para ela usar Kofun como mensageiro do que exatamente ela quer – que a irmã se renda, sozinha, para possivelmente ser morta em seguida, pois sabemos que a ex-rainha não se importa para a cidade, já que ela, sozinha, destruiu integralmente a sede de seu governo – tem todos os traços daquele maquiavelismo que esperamos da personagem. E o melhor é que ainda somos brindados com um belo momento entre Sibeth e Kofun, em que vemos nos olhos lacrimosos da antagonista que sim, ela tem sentimentos, que sim, como ela diz, ela ama talvez mais profundamente que os demais. É, portanto, uma boa maneira de fazer de God Thunder um episódio de compasso de espera.
E, nessa espera, não só somos lembrados de que o sacrifício de Harlan por Haniwa, como sua derradeira demonstração de amor por Maghra, como seu também derradeiro presente é a chave (com trocadilho) para a salvação da população da cidade a que ele era verdadeiramente devotado. Mais do que isso, o que poderia ser apenas um deus ex machina daqueles bem safados tirados da cartola no literal último segundo para evitar a multiplicação da tragédia, de certa forma vem sendo construído desde quando Harlan foi introduzido na série. Sabemos de seus esquemas desde os primeiros segundos, sabemos que ele, apesar de nobre, era um contrabandista primeiro e a existência do túnel que leva para fora da cidade é a culminação dessa lógica e não algo que existe do nada. Contexto é tudo e contexto é o que temos.
Também nessa espera temos a já mencionada conexão familiar que pode ser o último momento de felicidade dos seis juntos (contando com o pequeno Wolffe e a pouco utilizada, ainda que sempre presente Wren) e toda a criação daquela atmosfera finalista em relação a Baba Voss e Ranger, especialmente com os dois fumando uma erva juntos um pouco antes do abraço em família. Era evidente que Baba sumiria nos túneis considerando o quanto ele sempre foi mais furtivo do que os mais furtivos guerreiros e vê-lo novamente de armadura de samurai ao lado de seu amigo para a infiltração no acampamento de Tormada e Sibeth (sem esquecer de deixar Não quietinho dentro dos muros) foi uma belíssima forma de fechar o episódio.
Agora é aguardar para ver como Knight pretende encerrar See. O final trágico alinhavado para Baba Voss pode ser facilmente evitado de diversas maneiras, seja Tamacti Jun e um pequeno destacamento voltando para ajudar no último segundo, sejam os filhos de Jerlamarel também chegando no último segundo com o mesmo objetivo, talvez carregando algumas providenciais armas de fogo ou os dois. Até porque eu acho difícil que Sibeth Kane morra pelas mãos de Baba, já que seria muito mais satisfatório que ela se fosse ou pela espada de Tamacti Jun ou pela “lâmina do assobio” de sua irmã. Agora é aguardar!
See – 3X07: God Thunder (EUA – 07 de outubro de 2022)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström
Roteiro: Jennifer Yale, Jonathan Tropper
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Joshua Henry, Olivia Cheng, Dean Jagger, David Hewlett, Michael Raymond-James, Tamara Tunie, Damaris Lewis, Michael Raymond-James
Duração: 55 min.
