- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Dizem que, depois da tempestade, vem a bonança, mas, em See, é a bonança que prenuncia a tempestade tanto literal quanto metafórica e que, por sua vez, promete prenunciar eventos ainda mais destruidores na estirada final da derradeira temporada de See. E isso é ótimo, pois já havia passado da hora de o terceiro ano da série acelerar o passo e mostrar a que veio, considerando que os três primeiros episódios, apesar de bons, não passaram de repetições e reiterações daquilo que já havia sido mais do que estabelecido antes.
Para Sibeth, que escapa de Paya espalhando fezes de cavalo em seu rosto porque sim, ela faria qualquer coisa por seus objetivos, a tempestade que logo começa e dificulta sua vida de refugiada na floresta significa renascimento. Ela sobrevive a fome, a lobos, a uma noite sob a copa das árvores camuflada por folhas e encontra finalmente um abrigo da chuva em uma caverna atrás de uma cachoeira, caverna essa que abriga a versão animal daquilo que ela é, ou seja, uma cobra cascavel. O embate que segue é carregado de simbologia e termina com Sibeth matando e comendo o animal, provando para ela mesma que sim, ela é a única rainha de Pennsa, quase que na literalidade um ser que recebeu seu lugar dos deuses e nada pode impedi-la de retomar seu trono.
Em outras palavras, como já havia começado a ficar claro no final de This Land Is Your Land, a relutância quase irritante de Steven Knight de matar Sibeth tinha o objetivo de reposicioná-la como a verdadeira grande vilã da série, potencialmente mais ainda que Tormada e suas bombas, especialmente considerando o final em que a vemos retornar para seu país para recrutar os descontentes Caçadores de Bruxas para o seu lado, tarefa essa que, tenho certeza, ela não terá dificuldade alguma de cumprir, mesmo que a origem do descontentamento deles tenha sido justamente a decisão dela de perdoar aqueles que enxergam. Será inegavelmente interessante ver como a dinâmica dessa sua vindoura tentativa de golpe funcionará, especialmente considerando a ameaça representada pelos trivantianos.
Falando neles, outro grande acerto do episódio foi abrir espaço para a revelação da traição de Tormada e, surpreendentemente, de Nevla, o Banco, e da própria Embaixadora Trovere, que passa a ser o vértice do povo do Triângulo que rege Trivantes depois que dois terços foi sumariamente eliminado por uma das queridas bombas do braço direto do finado Edo Voss. Alguns provavelmente dirão que essa movimentação toda era previsível, mas minha resposta para isso é um sonoro “ainda bem!”, pois surpresas imprevisíveis costumam depor contra a qualidade de qualquer obra. A reformulação do equilíbrio de poder em Trivantes, com Trovere potencialmente como o elo mais fraco nessa corrente, elo esse que, desconfio, será aproveitado por Lorde Harlan, que dificilmente trairá sua nação e seu amor platônico, a Rainha Maghra, em um esforço final para puxar o tapete dos trivantianos golpistas em algum momento.
E esse momento não deve demorar muito para vir em razão da tomada do complexo de Jerlamarel por Baba Voss e companhia. Confesso que a ação, nesse aspecto, poderia ter sido desenvolvida com mais vagar e cuidado, pois ela pareceu corrida e fácil demais em relação à importância da fortaleza, mas eu compreendo a necessidade de Anders Engström em privilegiar as outras linhas narrativas neste episódio, preferindo diferir a batalha pelo arsenal de bombas para o próximo capítulo que provavelmente envolverá um cerco ao lugar por Tormada e seus soldados, ainda que a mera existência das bombas em tese nas mãos dos invasores já deixe entrever como a pancadaria acabará (a não ser que Baba Voss seja contra o uso desses instrumentos de guerra, claro).
A tempestade literalmente representada pelo episódio epônimo realmente veio para nos lembrar que See, apesar de nunca ter sido uma série espetacular, definitivamente tem qualidades peculiares que merecem ser enaltecidas. Agora é torcer para que o impulso dado à temporada final pelo golpe em Trivantes, pelo retorno de Sibeth para formar seu exército e pela invasão da fábrica de bombas por Baba Voss tenha força suficiente para que o segundo grupo de episódios nos ofereça mais do tipo de ação e intrigas que vimos aqui em The Storm de forma a encerrar See em uma curva ascendente.
See – 3X04: The Storm (EUA – 16 de setembro de 2022)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström
Roteiro: Dagny Looper, Nelson Greaves
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Tom Mison, Joshua Henry, Olivia Cheng, Trieste Kelly Dunn, Dean Jagger, David Hewlett, Michael Raymond-James, Tamara Tunie, Damaris Lewis, Michael Raymond-James
Duração: 52 min.
