- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
See não é das séries mais complexas ou que mais exigem do espectador, mas é inegavelmente fascinante a distopia criada por Steven Knight e as oportunidades audiovisuais que ela permite pelo inusitado da coisa toda. Inverter a lógica normal em que aqueles que têm visão são maioria absoluta no mundo e estabelecer uma Terra no futuro em que enxergar é tido como bruxaria ou, na melhor das hipóteses, a razão pela qual tudo foi destruído, foi uma jogada de mestre, mesmo que, por vezes, a história fique pelo caminho, como foi o caso da 1ª temporada.
O bom é que a 2ª temporada tem conseguido fazer uma bela correção de rumos, ampliando o universo e saindo daquela conversinha messiânica de Jerlamarel que fazia a narrativa pesar demais. Com duas nações próximas a uma guerra basicamente fabricada, com as maquinações da Rainha Sibeth Kane tornando o confronto inevitável, e Edo Voss, por seu turno, também não escondendo sua tendência pelo conflito como parte de um jogo de poder, a narrativa vem andando a passos largos, ainda que, considerando que faltam apenas dois episódios, não vejo como o segundo ano acabará que não seja com um baita cliffhanger, provavelmente jogando o grande conflito para a 3ª temporada.
The Truth About Unicorns gira ao redor das tratativas de paz entre Trivantis e Paya. Qualquer espectador sabe muito bem que não haverá paz alguma, pelo menos nenhuma alcançada nessas conversas, pelo que tudo é construído – inclusive e especialmente o sonho premonitório de Paris, cuja função verdadeira para existir é colocar Haniwa neste cenário – de forma a desabar logo em seguida. Para que isso aconteça, a solução é simples e já foi usada antes: Sibeth envia “ninjas” para o acampamento diplomático de forma a liquidar com os mensageiros de Trivantis, com apenas Baba Voss conseguindo perceber a presença deles ali.
Essa sequência é uma daquelas oportunidades audiovisuais que mencionei no primeiro parágrafo, pois a fotografia no quase breu total é um triunfo de Michael Snyman, o diretor de fotografia do episódio, que trabalha quase que exclusivamente com superfícies não reflexivas – a exceção é a neve no chão, claro – sem jamais tornar a progressão narrativa confusa ou perdida na escuridão. A arquitetura sonora também merece comenda por fazer muito uso do silêncio interrompido por mínimos sons da natureza, dos sinais verbais e do metal das armas, resultando em um balé assíncrono, se considerarmos a entrada de Baba Voss na “dança”, que consegue fazer o coração de qualquer um bater mais forte.
Claro que, a reboque, vêm as grandes conveniências do roteiro, a primeira delas sendo Haniwa e Wren se recolherem para ficarem juntas exatamente na hora em que tudo acontece, somente saindo do torpor pós-transa pelos berros de Baba Voss, o que leva Wren a testemunhar o exato momento em que parece que ele matou um dos emissários. Foi inegavelmente forçado, mas, ao mesmo tempo, interessante em termos de desdobramentos narrativos, já que leva à separação das duas amantes, a revelação por Wren a Edo Voss que seu irmão mais velho parece ter sido o líder da traição e, finalmente, a bela sequência em que Wren finalmente conta a seu mentor que ela enxerga. Como a jovem conseguirá convencer Edo de que ela não ajudou na fuga tripla não muito tempo atrás, eu já não sei dizer…
Enquanto isso, em Paya, Sibeth continua a por em andamento sua sedução de menor de idade – e seu sobrinho ainda por cima! – com o uso de alucinógenos para conseguir um filho que tem o dom da visão. Tenho para mim que Kofun sequer precisar da droga para ter uma noite de amor com a tia, pois ele parece completamente encantado pela mulher mais velha que quer sua atenção íntima com aparente sinceridade (ó inocência!). Quando o jovem finalmente perceber que foi manipulado, tenho para mim que ele estará tão profundamente enamorado por Sibeth, que ele simplesmente permanecerá ao seu lado, mesmo com Trivantis batendo à porta e com seus pais desesperados dizendo-lhe a verdade. A esperança é Toad, diria, mas só mesmo esperando para ver.
Chegamos à reta final da temporada e tudo segue de acordo com os planos dos grandes vilões, sem que Baba Voss e companhia possam fazer muita coisa a respeito. Tudo parece apontar mesmo para a guerra, mas não descartaria ou uma reviravolta que arrefeça os ânimos ou que os dois episódios finais sejam usados apenas para armar o tabuleiro para o conflito no ano seguinte se houver orçamento suficiente para fazer jus ao que é prometido aqui.
See – 2X06: The Truth About Unicorns (EUA – 1º de outubro de 2021)
Criação: Steven Knight
Direção: Anders Engström
Roteiro: Nelson Greaves
Elenco: Jason Momoa, Sylvia Hoeks, Hera Hilmar, Christian Camargo, Archie Madekwe, Nesta Cooper, Eden Epstein, Hoon Lee, Tom Mison, Dave Bautista, Alfre Woodard, Joshua Henry, Olivia Cheng, Yadira Guevara-Prip
Duração: 58 min.