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Crítica | Scrooge: Um Conto de Natal

A nova leitura da Netflix para o clássico conto natalino de Charles Dickens.

por Leonardo Campos
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Há críticos literários e estudiosos que afirma, categoricamente, que Charles Dickens é o inventor do Natal tal como o conhecemos e celebramos hoje. Independente da não confirmação desta hipótese, uma certeza que temos é a permanência do clássico conto do escritor na memória cultural contemporânea, haja vista a quantidade de releituras realizadas anualmente sobre a história de Ebenezer Scrooge, um homem avarento, egoísta e tirano que atravessa uma existência amarga, algo que saberemos com a chegada de entidades responsáveis por revelações sobre o seu passado, presente e apresentação de perspectivas para o futuro. Tendo a chance de redescobrir valores mais amenos para os anos que ainda restam em sua vida, o personagem passa por uma grande transformação, estrutura narrativa que se estabeleceu como marco para muitas histórias natalinas posteriores, não apenas na literatura, mas no teatro, cinema, televisão, dentre outros suportes para tramas ficcionais e documentais.

Em Scrooge: Um Conto de Natal, dirigido por Stephen Donelly, também responsável pelo roteiro, embasado na mencionada história de Charles Dickens e no filme homônimo de 1970, temos uma excepcional equipe técnicas de realizadores, profissionais responsáveis por transformar este mote narrativo num deslumbre visual encantador: Jeremy Holland-Smith assume a textura percussiva de Leslie Bricusse, músico homenageado nos créditos finais, dando ritmo ao filme de 101 minutos de duração, acompanhada de números musicais constantes, uma estratégia bastante recorrente no campo das produções com temáticas natalinas. Com supervisão de animação de Simone Allen e Marion Strunck, as imagens da animação são magníficas, o deleite visual que demonstra o quão competente são os envolvidos na concepção desta nova versão do clássico de Dickens. Numa tela de cinema, provavelmente, a experiência teria sido ainda mais encantadora. Merece destaque, também, os efeitos visuais eficiente da equipe de Kevin Hoppe.

Dito isto, vamos ao conteúdo textual. O roteiro de Scrooge: Um Conto de Natal segue os principais caminhos do conto que serve como ponto de partida. O personagem principal é um homem temido por todos. Ele é o contraponto do número musical de abertura protagonizado por seu sobrinho, passagem como diversos ângulos e enquadramentos que reforçam a ousadia estética dos realizadores. Enquanto há diversas pessoas pobres e famintas nas ruas, acometidas por doenças, o esguio senhor caminha como se nada estivesse ao seu redor, sem se importar com as condições nada favoráveis de pessoas que não gozam dos seus privilégios financeiros. Um homem, em linhas gerais, que faz questão de tudo e não pensa no próximo, gélido e distante, comportamento que compreenderemos depois da visita do fantasma de seu antigo sócio, um homem também muito avarento, acorrentado no além, por causa de sua ruindade em vida. A aparição faz uma revelação: três fantasmas aparecerão, um do passado, outro do presente e outro do futuro. A missão é tentar salvar Scrooge do seu futuro sombrio.

Assim, começa a jornada de transformação do personagem. O passado, na voz de Olivia Colman, o leva para uma viagem aos processos traumáticos do passado que o tornaram esta pessoa tão ranzinza e medíocre. Sabemos do grande amor de sua vida não vingou, que a sua irmã atravessou questões de saúde bastante complicadas e que a sua relação com pares de trabalho foi muitas vezes vilipendiada por avarentos tão egoístas quanto ele, agora no presente. Nos compadecemos com a sua trajetória e, assim, atravessamos para os dois tempos posteriores, era de mudança para o homem que se torna uma pessoa totalmente diferente do que era, tornando-se um ser caridoso, gentil e modificado. No geral, como no conto e na maioria de suas adaptações, Scrooge: Um Conto de Natal é uma história moralista cristã fofa, sobre como determinados valores necessitam de ganhar a prática, saindo da hipocrisia da teoria. É a saga de alguém em busca do seu novo “eu”, da reescrita de sua história, numa animação contagiante que poderia, pelo menos, ter menos números musicais para não se arriscar a entrar no tédio.

Foi por pouco, mas panoramicamente, uma linda história de Natal.

Scrooge: Um Conto de Natal (Scrooge: A Christmas Carol) – EUA | 2022
Direção: Stephen Donnelly
Roteiro: Leslie Bricusse
Elenco original: Karl Olivia Colman, Luke Evans, Jessie Buckley, Jonathan Pryce, Johnny Flynn, Fra Fee, Giles Terera
Duração: 101 minutos

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