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Crítica | Scavengers (2016)

Uma jornada lisérgica por um bioma inacreditável.

por Ritter Fan
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Não sei muito bem como classificar Scavengers para além do óbvio, ou seja, um curta-metragem animado em 2D de ficção científica de paleta de cores que parece emular obras setentistas que aborda uma espécie de ritual que dois astronautas perdidos em um planeta de riquíssimo ecossistema seguem por meio do uso variado de seres vivos para alcançar determinado objetivo. Afinal, essa explicação toda é como tentar decupar uma experiência hipnotizante, lisérgica e absolutamente viciante pela originalíssima dupla Joe Bennett e Charles Huettner, e, como qualquer explicação, ela é reducionista, até mesmo completamente desinteressante se comparamos com a obra em si.

Apesar de ser tecnicamente sci-fi, é importante o espectador ter a mente aberta e receptiva a uma abordagem completamente fora da proverbial caixinha que é capaz de deslumbrar na mesma medida em que causa repugnância, com os dois humanos já há muito tempo no planeta perdido investindo tempo em uma cadeia de efeitos biológicos esotéricos que parecem cada vez mais profundamente conversar com o ambiente ao seu redor, como em uma complexa e belíssima simbiose de que eles próprios fazem parte. Assistindo Scavengers, podemos facilmente imaginar – ou pelo menos começar a ter alguma ideia – como povos nativos em uma era pré-tecnológica viviam em plena harmonia com a natureza ao seu redor, extraindo insumos para sua sobrevivência e para seu cotidiano. Da mesma forma, podemos interpretar que os dois astronautas, ao contrário, parecem interferir na harmonia planetária, sendo duas anomalias ali naquele meio em perfeito equilíbrio.

Sentimentos contraditórios assim marcam os oito minutos desse curta que passam como se fossem oito segundos e que exige algumas revisitas para capturar os detalhes extraordinários que a dupla criativa insere nele, criando o que arrisco afirmar ser a sensação mais “alienígena” que já tive o prazer de sentir em uma obra sci-fi, um verdadeiro passeio por um infinito de possibilidades da imaginação humana sendo materializado como uma representação de um bioma assombroso que até pode carregar algumas correlações com o nosso (frutos, embriões e assim por diante), mas que, no final das contas, acaba representando algo realmente extraterrestre. E o mais interessante é como a progressão dos eventos transcorre, como cada ação da dupla de astronautas é relevante para a ação seguinte e assim por diante, até que o final chega e eles encontra uma espécie de “libertação”.

E o que chega a ser mais surpreendente é que, por mais bizarro, por mais surreal que sejam as sequências, elas, em seu conjunto, transmitem uma espécie de tranquilidade, de calma, de assombro que parece vir não só da maneira quase que natural como os exploradores fazem o que fazem, mas também pela paleta de cores rosácea em tons pasteis, pela trilha sonora transcendental e pelo próprio fluxo de informações que parece agarrar o espectador e levá-lo imediatamente a um transe audiovisual, um transe do qual não queremos sair, diria ainda. São oito minutos de absoluto fascínio pelo estranho, pelo diferente e por uma estranha melodia sobre a vida, a morte e sobre fuga.

Scavengers precisa ser experimentado, precisa ser sentido. Escrever sobre esse curta é quase sacrílego, quase transgressor. Uma obra dessas exige um mergulho sem reservas no universo criado por Bennett e Huettner. Voltar de lá é que é o problema e isso é maravilhoso!

Scavengers (EUA, 2016)
Direção: Joe Bennett, Charles Huettner
Roteiro: Joe Bennett, Charles Huettner
Duração: 8 min.

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