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Crítica | “SAWAYAMA” – Rina Sawayama

por Matheus Camargo
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Won’t you break the chain with me?

“I’m losing myself in the darkness of the world” e estamos em uma espiral que seguimos, corremos, destrinchamos, e nunca termina, só se afunila infinitamente. É assim que Dynasty, a primeira faixa do álbum de estreia da artista Rina Sawayama, introduz a um mundo ardendo em feridas emocionais, herdadas pelas guerras familiares e sociais de forma sempre tão inocente. SAWAYAMA consegue ser uma reunião das dores mais cruas e enraizadas que a atual geração enfrenta e, ainda assim, encontrar espaço e explorar diversos gêneros musicais para tornar-se, do pop ao R&B ou do dance ao rock, uma das experiências mais variadas, intensas e gratificantes que a indústria da música viu nos últimos dez anos. 

Após conhecermos a angústia e negação de um descarrilhar quase que destinado, tomamos novos horizontes de até onde a música de Rina está disposta a ir. E, quebrando fórmulas prontas de como uma canção pop exige ser, XS esbanja originalidade ao retratar o consumismo de uma geração já desgastada pelas emoções flácidas que o capitalismo nos induz a acreditar que é real, enquanto STFU! relata as micro-agressões causadas por comentários preconceituosos e como o seu entendimento do sofrimento que esses detalhes causam, mudam conforme você se torna mais desperto. É um nu-metal grandioso, que se torna mais e mais épico a cada segundo.

Nada é plastificado e entregue com uma etiqueta para encaixar-se numa norma, até mesmo quando o seu intuito é fazer um bubblegum pop destinado a criar momentos e memórias nos clubes noturnos (o que, infelizmente, não foi possível no momento que vivemos) como em Comme des Garçons, música que, inclusive, possui um ótimo remix com Pabllo Vittar. Basta escutar as quatro primeiras faixas para perceber a diversidade de sons e camadas contidas no álbum. Mas ainda há muito para expressar. Akasaka Sad é absurda. Uma canção que incomoda, rasga suas impressões do que é real ou não, e tem uma atmosfera por si só. E, entre essas camadas de distorções, Rina descreve o sentimento de ser perseguido, assombrado pela depressão em todo lugar, sozinho num quarto ou nos lugares que costumavam trazer alguma alegria, relembrando constantemente de que muitos desses transtornos têm raízes familiares.

Bad Friend é uma das melhores canções de 2020. Do tipo de música que se constrói, passo a passo em sua cabeça, cria vida e se dispõe a dançar com suas memórias e brinca com o sentimento de nostalgia. Noites de karaokê, pertencer a um grupo de pessoas, dias de glória. E o cair da ficha. Como as coisas podem mudar tão rápido? Em que momento nós perdemos aquela faísca? É de se lembrar, mastigar, mas não conseguir engolir. E, em contrapartida, temos Fuck This World (Interlude), que reforça o sentimento de culpa, de estar perdido no tempo, desesperado com o estado atual do mundo. Sobre aqueles momentos que parece que a única solução é sair do planeta e começar uma vida nova em qualquer outro canto, longe daqui. E ah, se pudéssemos…

E se não podemos, então criamos um novo lugar para ser. Chosen Family é uma carta de amor. Sobre celebrar os rios que cruzamos, as montanhas que escalamos, celebrar a força que tivemos para chegar até aqui, um poema de orgulho à família que a escolheu e que, agora, ela escolhe, sendo essa a comunidade LGBTQ. SAWAYAMA é, acima de tudo, sobre coragem. É um álbum que quebra barreiras, molda gêneros, discute os pecados determinados por uma sociedade que falha em tentar definir pessoas a um único e inflexível regulamento. Acredito que o maior triunfo do trabalho é a sinceridade, sempre escrachada, diluída no que, para alguns, canções comerciais, enquanto para outros, um lugar de liberdade que extravasa intensidade, sonhos e ambição. Use cada atributo para explorar suas próprias histórias, e criar, dentro de si, uma força imparável. 

Rina, você não quebrou apenas a sua, mas milhares de cadeias. 

Aumenta!: Akasaka Sad
Diminui!: Paradisin’
Minha canção favorita do álbum: Bad Friend

SAWAYAMA
Artista: Rina Sawayama
País: Reino Unido
Lançamento: 17 de abril de 2020
Gravadora: Dirty Hit
Estilo: Pop, R&B, Rock

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