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Crítica | São Paulo, Sinfonia da Metrópole

São Paulo, sem confiança na sinfonia da metrópole.

por Rafael Lima
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Na década de 1920, uma série de documentários exploraram o cotidiano de grandes cidades do planeta, transformando essas metrópoles em verdadeiros personagens dentro desses filmes. Entre esses projetos destacam-se obras como Berlim, Sinfonia da Metrópole (1927) de Walter Ruttman. Um Homem Com Uma Câmera (1929) de Dziga Vertov, que se tornaram referência para esse tipo de abordagem em documentários. São Paulo, a maior cidade da América Latina, com certeza merecia o mesmo tratamento que essas metrópoles europeias, tanto por sua importância histórica quanto por sua natureza cosmopolita. São Paulo, Sinfonia Da Metrópole, claramente busca inspiração no filme de Ruttman, a começar pelo título, mas diferente dos outros projetos, a produção brasileira raramente deixa que a sua cidade fale por si mesma.

Dirigido a quatro mãos por Rudolf Rex e Adalberto Kemeny, a partir de um roteiro escrito por Kemeny, São Paulo, Sinfonia da Metrópole inicialmente parece buscar retratar a capital como um organismo vivo, focando-se no comércio e na indústria nas primeiras horas da manhã. Diferente da obra alemã que inspirou o título, o filme parece interessado em mostrar as pessoas como parte essencial da cidade ao invés de meras peças, ao explorar ambientes como as escolas paulistas; seus espaços culturais, e as áreas de convivência pública.

Entretanto, são precisos só alguns minutos de rodagem para percebermos que as pessoas em cena são só perfumaria mesmo, pois não estão ali para representar o povo paulistano, e sim as suas instituições; do comércio a educação, da polícia militar ao trabalhador da cultura. Não existe problema algum com essa abordagem por si só, mas ela acaba se tornando extremamente incômoda pela forma como a obra explana sobre tais instituições de maneira irritantemente didática.

O filme de Rex e Kemeny não parece ter confiança de que as imagens de São Paulo que exibe serão capazes de falar por si mesmas, enchendo o longa de intertítulos para explicar cada detalhe que surge na tela. Até mesmo para os padrões do período, o longa metragem tenta manipular as emoções do espectador de maneira ingênua, através de um discurso ufanista, que tenta através do texto nos enfiar goela abaixo o orgulho nacional, ao invés de tentar inspirar esse orgulho através da cidade. Isso acaba deixando a incomoda impressão de que São Paulo, Sinfonia da Metrópole é mais um vídeo institucional do que propriamente um documentário.

Mas se mesmo dentro de sua natureza institucional, a obra de Rudolf Rex e Adalberto Kemeny encontrasse alguma lógica de progressão narrativa (como muitos institucionais fazem), essa escolha poderia até ser desculpada. Mas o trabalho de montagem da película parece saltar de um assunto para o outro sem se preocupar em estabelecer qualquer elo ou transição. Por exemplo, em um momento, o filme está louvando as forças da polícia militar paulistana, para logo em seguida começar a falar do potencial da zona rural, não havendo qualquer tentativa de costurar de forma coerente os diferentes blocos da projeção. 

Ao menos, São Paulo, Sinfonia da Metrópole é bem-sucedido em um dos aspectos que mais lhe interessa, que é captar a imponência e as belezas arquitetônicas da capital paulista. É um retrato que realmente transmite a sensação de uma metrópole viva e cheia de promessas para o futuro, mas essa boa seleção de imagens apenas expõe ainda mais o didatismo desenfreado do filme.

São Paulo, Sinfonia Da Metrópole acaba soando como uma oportunidade perdida. As belas imagens do projeto não são o suficiente para salvar o filme da sensação de ser um grande institucional com seus intrusivos intertítulos dizendo o quanto São Paulo é maravilhosa. Se o filme não estivesse tão desesperado para transmitir essa mensagem, eu poderia comprá-la, ao invés de sentir repulsa por ela.

São Paulo, Sinfonia da Metrópole- Brasil, 1929
Direção: Rudolf Rex, Adalberto Kemeny
Roteiro: Adalberto Kemeny
Duração: 90 minutos

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