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Crítica | Saga – Volume Nove

Se você quer paz...

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais volumes.

Duas ideias aparentemente antitéticas permeiam Saga desde o começo. A primeira delas é novamente expressa no começo do nono volume da série mensal de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, o último antes do longo hiato de mais de três anos e meio que os autores se auto impuseram, com Marko citando o falecido autor ciclópico D. Oswald Heist para Upsher e Doff no interior do foguete-árvore na linha de que guerras são inevitáveis. A outra ideia ganha um excelente momento no mesmo arco, só que razoavelmente lá para a frente, logo após o assassinato de Doff pela obcecada Ianthe, com Marko sendo novamente o porta-voz ao afirmar, basicamente, que todo ato de violência tem repercussões.

É, portanto, fascinante constatar que, talvez mais do que todos os anteriores, esse arco pré-hiato seja o que mais materializa esses conceitos dentro da épica história de Romeu e Julieta no espaço. E o melhor é que Vaughan e Staples são capazes de unir os dois conceitos de forma limpa e fluida, já que a guerra, aqui representada pela chegada de Ianthe com O Querer subjugado a tiracolo para caçar Marko, Alana e Hazel na ilha remota de Jetsam em que eles se encontram, tem como origem o assassinato de um guarda-costas (uma toupeira antropomórfica) por O Querer lá atrás em Sextillion. Não dá nem para chamar o falecido de personagem, pois ele não tem nenhuma construção, não muito mais do que um extra de filme de faroeste que morre em terceiro ou quarto plano sem que o espectador ligue. Mas, como as proverbiais ondas na água depois que jogamos uma pedrinha, a morte desse “ninguém” acaba levando ao mortal clímax alongado que é este arco.

E provando que absolutamente nada que a dupla criativa mostra em sua série está ali só para constar, o andamento narrativo do volume é como uma sinfonia que usa todas as notas disponíveis, com o retorno perfeitamente encaixado de personagens como o amigo de Doff que acaba contando onde eles estão e o chefe dos jornalistas que é chantageado a não levar adiante a escandalosa e genocida história de cooperação entre Grinalda e Aterro que IV promete contar em troca de um programa de proteção de fontes jornalísticas e que inclui a completa transmutação de seu corpo, de seu filho e também de Petrichor, esta última em uma ironia do destino, claro. Todas as peças desta vasta teia narrativa que vem sendo construída desde 2012 ganha encaixe e funciona para impulsionar a história macro.

Claro que era de se esperar que Vaughan e Staples, certamente já se preparando para o hiato, despejariam neste arco todo tipo de cliffhanger desesperador e é justamente isso que eles fazem, só que basicamente dobrando a meta. Interessantemente, de certa forma invertendo a lógica de mulheres assassinadas como elemento impulsionador das mais variadas histórias, eles continuam a tendência de ceifar personagens masculinos e normalmente pais. Foi assim com o pai de Marko, com Heist e, agora, com IV e o próprio Marko, isso sem contar com a destruição de uma das asas de Alana e a já citada morte de Doff.

Sem dúvida alguma que esse quadro – ou parte dele pelo menos – pode ser revertida no vindouro novo arco, especialmente a aparente morte de Marko (pois IV teve sua cabeça arrancada por O Querer), mas eu não me espantaria se o pai de Hazel permanecesse morto justamente como uma forma de derrubar a lógica de que atos de violência acabam gerando mais violência, já que Marko deixa de matar o caçador de recompensas quando tem oportunidade e é covardemente atravessado pela mão metálica de O Querer pelas costas. Violência pode sim gerar mais violência, mas a não-violência não fica muito atrás… Pessimista, sem dúvida, mas não é lá muito longe da verdade se pararmos friamente para pensar.

Seja como for, o status quo de Saga deve mudar daqui em diante. Se as duas mortes citadas não forem desfeitas, temos Squire e Hazel órfãos de pai (o primeiro também de mãe) e Alana sem a vantagem de suas asas tendo que reorganizar o grupo remanescente e fugir do planeta onde estão com Ghüs e Upsher a tiracolo. Claro que as chances de um pulo temporal são grandes, mas, não sei se seria a melhor saída dada a gravidade dos acontecimentos. Seja como for, Vaughan e Staples provam que, por mais que queiramos evitar a guerra – e entendam a palavra da maneira mais ampla possível – ela sempre dá um jeito de nos encontrar e, por mais que queiramos evitar a violência, ela, às vezes, pode ser o menor dos males. Não é algo bacana de se ouvir ou de se ler, mas o mundo é bem mais cruel do que aceitamos que ele é, e, na pancadaria que segue, as primeiras vítimas são sempre os ideais.

Saga – Volume Nove (Saga – Volume Nine – EUA, 2018)
Contendo:
 Saga #49 a 54
Roteiro: Brian K. Vaughan
Arte: Fiona Staples
Letras: Fonografiks
Editora (nos EUA): Image Comics
Data original de publicação: fevereiro a julho de 2018
Editora (no Brasil): Editora Devir
Data de publicação no Brasil: outubro de 2019
Páginas: 152

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