Home TVEpisódioCrítica | Ruptura – 2X08: Sweet Vitriol

Crítica | Ruptura – 2X08: Sweet Vitriol

Um passado não tão distante.

por Kevin Rick
9,6K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da segunda temporada e, aqui, da série.

Depois da jornada caótica e trágica de Chikhai Bardo, a série muda completamente de trajetória para contextualizar o paradeiro de Harmony Cobel (Patricia Arquette), sumida desde que fugiu da proposta críptica da Lumon. O episódio dirigido por Ben Stiller abre com belíssimos shots aéreos da deslumbrante e abandonada cidade natal da personagem, a qual já foi o lar da extinta fábrica de éter da Lumon, onde Kier Eagan supostamente conheceu sua esposa Imogene. Como resultado do abandono da fábrica, a cidade está praticamente morta e vários moradores locais são viciados em éter, incluindo Hampton (James LeGros), um antigo amigo de Cobel que a ajuda a voltar para sua casa de infância, onde confronta sua tia Sissy (Jane Alexander), uma seguidora fanática do culto à Kier que aparentemente matou a mãe doente da personagem.

Sweet Vitriol tem alguns problemas que abordarei mais à frente, mas algo que o episódio trabalha muito bem é o retrato da destruição deixada pela Lumon na cidade. É um capítulo importante para expor os efeitos que a companhia tem por onde passa, expandindo um pouco mais da visão já perturbadora que temos da empresa. Ben Stiller transpassa com esmero esse sentimento de desolação e isolamento do cenário que estamos assistindo, como se estivéssemos sendo apresentados a ecos do passado fadados a se repetirem, com destaque para a trilha sonora fantasmagórica e arrepiante que casa com a fantástica locação em que o episódio é filmado. O texto de Adam Countee e K. C. Perry também sugere e revela outras atrocidades realizadas pela empresa, passando pela exploração infantil, os resquícios de doutrinação (tanto de quem ficou com trauma, como Hampton, quanto com quem ainda é dominado pelo dogma, como Sissy), o vício em éter e, de maneira geral, a sensação de abandono e desamparo daqueles que ficaram para trás. As correlações com grandes corporações que têm sweatshops, que destroem e depois abandonam diversos locais, que exploram moradores deixando-os com as consequências naturais, sociais e financeiras dessa exploração, etc, não são meramente ilustrativas.

Além disso, é um capítulo que desenvolve com qualidade dramática a intrigante Cobel. Pouco sabíamos da personagem e, aqui, aprendemos que ela também é uma vítima do culto à medida que gradualmente entendemos seu background, de forçada a trabalho infantil, da perda da sua mãe, de ter sido doutrinada, até ter seu projeto do chip da ruptura roubado (!). Essa grande revelação recontextualiza todas as cenas da neurocientista submetida a supervisora, passando por seu interesse em Mark, o medo que a Lumon tem da mesma e principalmente o papel dela na trama, de maior expressão do que o esperado. O twist também traz outras camadas para os funcionários da companhia, em especial Milchik e suas cenas com comentários raciais, levantando a possibilidade de que ele e outros passaram pelo mesmo processo. E até fora desse quadro geral, também é um capítulo interesse como um estudo de personagem com ótima interpretação de Arquette, abordando dramas eficientes sobre luto, ressentimento e problemas familiares, com um recorte doméstico e situado quase que inteiramente na casa de Sissy e suas assombrações do passado.

No entanto, é difícil não olhar para Sweet Vitriol como o capítulo mais fraco da temporada até aqui, o que não significa que ele seja ruim (longe disso), vale ressaltar. O episódio todo tem cara de desvio narrativo, apesar de, no fim das contas, ser extremamente importante para o enredo principal, e o ritmo oscila bastante, com a trama, mesmo com uma minutagem menor, soando mais esticada do que o necessário, principalmente nas cenas forçadas do “romance” entre Harmony e Hampton (único trecho dramático do episódio que não gosto). O núcleo como um todo parece sua típica subtrama em outro episódio e não um capítulo único, mas quanto mais penso, mais entendo a abordagem aqui, porque, por exemplo, se esse bloco tivesse sido encaixado em Chikhai Bardo, seria um ônus à uniformidade e à proposta daquele episódio. Penso que Sweet Vitriol é um bom “capítulo-ponte”, contextualizando muitos elementos, trazendo outra ótima reviravolta e estabelecendo o ocorrido por trás da ligação de Devon. Talvez o mais interessante de tudo apresentado aqui seja o fato de que Cobel agora provavelmente vai enfrentar a Lumon ao lado de Mark.

Ruptura (Severance) – 2X08: Sweet Vitriol | EUA, 07 de março de 2025
Criação: Dan Erickson
Direção: Ben Stiller
Roteiro: Adam Countee, K. C. Perry
Elenco: Adam Scott, Zach Cherry, Britt Lower, Tramell Tillman, Dichen Lachman, John Turturro, Bob Balaban, Alia Shawkat, Stefano Carannante, Sarah Sherman, Christopher Walken, Patricia Arquette, Jen Tullock, Michael Chernus, Sarah Bock, Ólafur Darri Ólafsso, Robby Benson, James LeGros, Jane Alexander
Duração: 37 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais