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Crítica | Ruptura – 2X03: Who Is Alive?

Sobre cabras e pinturas.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da segunda temporada e, aqui, da série.

Como falei na crítica de Goodbye, Mrs. Selvig, o final do episódio deu a entender que a narrativa daria o mesmo espaço para os externos, fazendo com que a história se aproveite ainda mais das suas características de fragmentação e dos contrastes entre os dois lados desse universo. Isso já acontece com extrema qualidade nesse terceiro episódio, com uma montagem e uma estrutura muito bem pensada para dar o destaque necessário para cada personagem e, especialmente, para cada versão desses personagens, explorando a dualidade, a identidade e a complexidade humana em torno do que efetivamente é a ruptura. Para além disso, Who Is Alive? tem uma mudança de ritmo narrativo muito clara, movendo a história com mais velocidade do que eu imaginaria. Estou me adiantando, porém.

De início, o terceiro capítulo dessa temporada soa como uma progressão calma pela exploração interna da Lumon, mas gradualmente assistimos uma espécie de rebelião não tão quieta se formando. É interessante como o texto começa com algo relativamente simples – a distribuição de pôsteres do desaparecimento da Sra. Casey -, mas exponencialmente se torna uma jornada bizarra pelos departamentos da empresa e pela mitologia rica da seita de Kier. Gosto de tudo nesses blocos, passando pela forma como as alegorias e o subtexto ganham mais força em sensações do que respostas sobre as coisas surreais que estamos vendo, com destaque para a absolutamente inusitada – e quase cômica – passagem pelos Mamíferos Nutríveis com Lorne (Gwendoline Christie), que traz um pouco mais de contexto sobre Casey e sobre os estranhos experimentos da Lumon, e para o encontro de Millchick com Natalie (Sydney Cole Alexander), que traz novas camadas grotescas para o culto à Kier. A cena em torno das pinturas é um misto de sentimentos incrivelmente bem feito, tanto pelas simbologias quanto pelas reações faciais dos dois atores, que entregam uma mistura de orgulho, confusão e desespero em uma situação que parece celebração, mas que também parece preconceito ou até sacrilégio à imagem de Kier. Sinto o mesmo pela interação sinistra entre Cobel e Helena. É tudo muito, muito intrigante.

Da mesma forma, Irving ganha um bloco delicado e muito bonito em suas conversações com Felicia (Claudia Robinson) sobre Burt. Há um agregado dramático substancial para o arco melancólico e romântico do personagem, bem como uma revelação sobre o corredor sinistro de seu desenho, na forma como o roteiro da série continua esperto em mover suas peças com sutileza sem perder o excelente trabalho com os personagens – é notável como o ritmo da narrativa é mais rápido em termos de revelações, mas se mantém paciente quando se trata de desenvolver o grupo principal. Vemos isso feito de uma maneira extraordinária com Dylan. A sequência da versão interna dele conhecendo Gretchen (Merritt Wever) parte de um conceito tão estranho e é desenvolvido com uma delicadeza e uma profundidade realmente marcante, passando, mais uma vez, por um misto de sensações, como confusão, amor, autodescobrimento e sacrifício – além de ser muito invasivo. A pequena cena de Gretchen com seu marido “real” conclui – ou inicia – uma discussão bem provocante, em que a conversa com o interno soa sincera e terna ao mesmo passo que parece quase uma “traição” – notem como Gretchen mente ou pelo menos omite informações sobre o encontro. Mais um vez, é tudo muito, muito intrigante, sendo que esse arco do Dylan pode ser considerado o menos importante para a trama principal, mas talvez o mais interessante dentro da discussão de identidade da série.

Isso porque a reviravolta final ainda não mostrou suas consequências. Não esperava nunca que a reintegração fosse acontecer tão cedo na temporada, uma vez que Mark e sua irmã ainda estavam bolando formas de comunicação com o interno – repito, o ritmo do roteiro acelerou bastante se comparado com o ano de estreia -, mas é um evento perfeitamente orgânico dentro da história e dentro do arco de Mark, que decide passar pelo procedimento sem titubear após descobrir que sua esposa estava viva. Torço um pouco o nariz para a participação de Reghabi, que é quase uma conveniência narrativa com suas respostas e soluções fáceis, mas confio na produção para tornar o papel da personagem para além disso. O desfecho chega a ser desesperador para a audiência, com um dos melhores ganchos que assisti nos últimos anos – e melhor, não é um season finale! -, abrindo um leque de possibilidades para o restante da temporada. Assim, Who Is Alive? mostra mais uma vez porque Ruptura é uma série que dá aula, com outro capítulo assustadoramente técnico – da fotografia belíssima, da ótima montagem entre os dois lados narrativos, da trilha sonora sempre atmosférica, das simbologias, da direção cuidadosa de Ben Stiller – e incrivelmente bem estruturado, dando tempo para cada personagem, desenvolvendo cada aspecto da narrativa e nos deixando ansiosos para semana que vem!

Ruptura (Severance) – 2X03: Who Is Alive? | EUA, 31 de janeiro de 2024
Criação: Dan Erickson
Direção: Ben Stiller
Roteiro: Wei-Ning Yu
Elenco: Adam Scott, Zach Cherry, Britt Lower, Tramell Tillman, Dichen Lachman, John Turturro, Bob Balaban, Alia Shawkat, Stefano Carannante, Sarah Sherman, Christopher Walken, Patricia Arquette, Jen Tullock, Michael Chernus, Sarah Bock, Ólafur Darri Ólafsson, Gwendoline Christie
Duração: 48 min.

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