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Crítica | Rumo a uma Terra Desconhecida

Prisioneiros no limbo da imigração.

por Roberto Honorato
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Os árabes venderam suas almas […]

A máscara caiu da máscara;

Você não tem irmãos, irmão. E nem amigos.

(Mahmoud Darwich, 1983)

Narrativas de protagonistas refugiados nem sempre se dão ao trabalho de explorar o sistema que os obrigou a assumir essa identidade, e muitas vezes apenas os trata como uma figura sem muita complexidade. Rumo a uma Terra Desconhecida trata seus protagonistas como pessoas que precisam encontrar novas maneiras de driblar obstáculos do cotidiano, então há decisões que fazem com que eles sejam postos em uma posição antagonística enquanto assistimos a forma como a violência é uma sombra constante na vida de quem foi forçado a estar longe de casa. É uma proposta diferente, mas o filme não consegue fugir de algumas convenções e se tornar mais conservador em outros aspectos.

A dupla de palestinos Chatila (Mahmood Bakri) e Reda (Aram Sabbah) saem de seu estado para se refugiar em Atenas, na Grécia. Eles têm o sonho de se mudar para a Alemanha e abrir um restaurante, mas para conseguir um passaporte, mesmo que falso, precisam juntar dinheiro da única forma que conseguem, o que envolve roubar e inventar golpes. Quando conhecem um jovem garoto, também palestino, tentam ajudá-lo a retornar para casa e correm para resolver sua própria situação, o que faz com que ultrapassem seus próprios limites e arrisquem seu futuro e amizade.

Com ótimas atuações da dupla principal, suas personagens seguem uma abordagem mais realista, algo que geralmente não faço questão, mas aqui se faz necessário por conta da delicadeza da premissa. A dinâmica entre Bakri e Sabbah tem seus momentos de alívio cômico, mas ainda que sejam primos, tentam manter uma certa distância de alguns aspectos da vida um do outro. Há muita ambiguidade no enredo, principalmente na resolução de algumas subtramas, o que ajuda na escalada da tensão, mas pode frustrar pela falta de concretude de alguns elementos que depois tornam-se essenciais. Também no âmbito mais realista tem a direção, indo por um caminho mais seguro com um tratamento visual pouco inspirado, o que admito ter me entediado em algumas partes.

Por mais que eu tenha elogiado a abordagem do longa quanto às personagens, é compreensível que surjam interpretações mais negativas sobre a forma que o filme pouco explora algumas consequências das ações dos protagonistas, chegando a ter um comportamento mais moralista na forma que tenta justificar suas ações, com alguns diálogos onde fazem questão de mencionar como talvez sejam “pessoas ruins” ou “não se deve roubar”, o que acontece num monólogo de Reda para o garoto palestino e se intensifica na segunda metade da obra, quando a trama começa a correr.

Com uma reflexão sobre a brutalidade da perda de identidade de uma pessoa que está longe de sua casa e vive em constante dúvida não apenas sobre o futuro, mas o próprio presente, Rumo a uma Terra Desconhecida tem a intenção de questionar as complexidades do cotidiano de suas personagens imigrantes, mas não quer se arriscar o suficiente, deliberadamente evitando debater outros aspectos mais arriscados (se escondendo na ambiguidade do enredo), porém há um drama envolvente focado nessas personagens que vivem de incertezas e arriscam seu orgulho na esperança de uma vida melhor.

Rumo a uma Terra Desconhecida (Vers un Pays Inconnu) – França, Dinamarca, Reino Unido, Palestina, 2024
Direção: Mahdi Fleifel
Roteiro: Mahdi Fleifel, Fyzal Boulifa, Jason McColgan
Elenco: Mahmood Bakri, Aram Sabbah, Mohammad Alsurafa, Angeliki Papoulia, Mouataz Alshaltouh, Mohammad Ghassan, Monzer Reyahnah
Duração: 75 min.

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