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Crítica | Round 6 – 2ª Temporada

O jogo não acabou.

por Kevin Rick
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É irônico que Round 6 tenha se tornado uma “vítima” de suas críticas ao capitalismo moderno. Para quem não sabe, o criador Hwang Dong-Hyuk não queria fazer uma segunda temporada – que pode sim ser chamada de desnecessária, mas estou me adiantando -, só que a produção foi um fenômeno cultural tão imenso que uma renovação era inevitável. Alguns caminhões de dinheiro depois, cá estamos no segundo ano da história de Seong Gi-hun (Jung-Jae Lee), um endividado viciado em jogos de azar que participa e ganha um jogo de vida ou morte. Apesar de gostar do ano de estreia – provavelmente não tanto quanto grande parcela do público -, não queria uma nova temporada, tampouco uma terceira, que já foi filmada e será o desfecho da obra, mas o final aberto de Um Dia de Sorte certamente deixou espaço para essa continuação.

Em síntese, Gi-hun passa três anos usando a fortuna que ganhou para explorar o país em busca do vendedor (Gong Yoo), a figura misteriosa que recruta jogadores para a competição. Evitando entrar em muitos detalhes ou spoilers, o personagem eventualmente acaba voltando ao jogo, mas dessa vez com atitudes e objetivos completamente diferentes. Logo de cara, torci um pouco o nariz para a escolha de Dong-Hyuk em reestabelecer a narrativa através desse lado mais investigativo, primeiro porque a mudança de personalidade e de posição de Gi-hun – de jogador a “detetive” – me soa estranha em alguns momentos, apesar de gradualmente se mostrar uma evolução de arco orgânico; e em segundo lugar, porque a trama do policial Hwang Jun-ho (Wi Ha-joon), que ganha mais força aqui, é, de longe, a parte que menos gostei no ano de estreia. Eventualmente, porém, a escolha de Dong-Hyuk se mostra assertiva para evitar uma narrativa repetitiva e, olhando em retrospecto, talvez fosse a única saída do showrunner para continuar a história, não só narrativamente, mas também tematicamente com uma trama que é uma espécie de rebelião contra a elite dentro do microcosmo do jogo.

Os dois primeiros episódios funcionam bem para preparar o terreno para o retorno à ilha dos jogos, com uma base relativamente lógica e que faz sentido dentro dos parâmetros da história, com destaque para alguns coadjuvantes que adicionam boas doses de humor à história, que segue comicamente ácida, e especialmente para a participação marcante de Gong Yoo como o cruel recrutador dos jogadores, dando base para a interessante análise moral e o espaço dramático que o texto cria para diversos antagonistas, como uma atiradora da equipe dos jogos, em uma subtrama interessante, ainda que subutilizada, e, claro, Hwang In-ho (Lee Byung-Hun), o grande líder mascarado por trás da segurança dos jogos. A participação de Hwang In-ho como o jogador 001 é um aceno para a reviravolta e traição com Oh Il-nam (O Yeong-su) na temporada de estreia, mas que dessa vez sabemos desde o começo, o que evidencia a forma como Dong-Hyuk retorna para os jogos com propostas familiares cheias de temperos diferentes.

Por exemplo, não só os jogos mudam, como também as dinâmicas entre os personagens. O envolvimento de Seong Gi-hun como ex-jogador; as votações após todas as rodadas; a participação externa da equipe do protagonista; a presença sempre duvidosa de Hwang In-ho em uma interpretação marcante de Lee Byung-Hun; entre outras escolhas do roteiro, alteram completamente a estrutura dos jogos, que dessa vez ganham mais holofotes nas discussões de ganância e angústia entre as partidas do que na própria violência das competições. Alguns pontos positivos da obra também retornam quase intactos, como o trabalho competente em tornar participantes coadjuvantes simpáticos e com personalidades bem definidas dentro de seus arquétipos, que destacam suas presenças e mortes, assim como a continuação do criativo trabalho visual e estético da produção, que segue com uma ótima direção de arte inspirada em games, encenações precisas e cuidadosas, enquadramentos chamativos e uma montagem sempre pensada em dar bom ritmo à história.

Confesso, porém, que senti mais falta de tempo e engenhosidade em torno dos jogos em si. Talvez seja a ausência do fator de novidade falando alto, mas tanto Seis Pernas quanto Socializar não se aproximaram do nível de diversão dos jogos da primeira temporada, tampouco da construção de tensão ou do peso dramático de algo como Gganbu. Por mais que o elenco coadjuvante seja novamente relevante e carismático, o meu envolvimento com a trama e com o destino dos personagens foi emocionalmente bem menor, além de que o fator de entretenimento cai bastante na atrapalhada segunda metade da temporada com a rebelião de Seong Gi-hun, não tão bem construída na minha visão, seja por algumas conveniências aqui e ali, seja pela forma que é desenvolvida para ter um gancho, não um clímax. O menor número de episódios – e consequentemente de competições – também é um fator negativo.

É compreensível pensar que a segunda temporada de Round 6 não é necessária, mas é notável como Dong-Hyuk consegue voltar a um terreno familiar com diferentes ângulos, tornando a continuação intrigante. Apesar disso, noto uma pequena queda de qualidade. Às vezes o criador parece se esforçar tanto para trazer algo diferente que a produção se afasta ou passa muito rapidamente de onde brilha mais, que é o envolvimento com os participantes dentro dos jogos, além de um claro esvaziamento de imaginação no palco de situações extremas, mas vejo muito mérito na forma como a obra não se contenta com o mais do mesmo e realmente oferece uma sequência de eventos lógica e orgânica para o enredo, que é a tentativa de destruição da competição e os dilemas do valor da vida humana entre as perspectivas diversas do protagonista e do principal antagonista. Nunca achei o ano de estreia brilhante, então essa segunda temporada ainda menos, mas é inegável que a série entretém visualmente, tematicamente e narrativamente. Veremos o que o embate final nos entregará; se as críticas sociais da obra são um indicativo, não espero um final feliz… mas definitivamente será sangrento!

Round 6 (오징어 게임 | Squid Game) – 2ª Temporada | Coréia do Sul, 2024
Criação: Hwang Dong-Hyuk
Direção: Hwang Dong-Hyuk
Roteiro: Hwang Dong-Hyuk
Elenco: Jung-Jae Lee, Lee Byung-Hun, Gong Yoo, Wi Ha-Joon, Im Si-wan, Jo Yu-ri, Park Gyu-young, Lee Jin-wook, Park Sung-hoon, Yang Dong-geun, Kang Ae-shim, Kang Ha-neul, Oh Dal-su, Jeon Seok-ho, Song Young-chang, Chae Cook-hee, Lee David, Roh Jae-won, Choi Seung-hyun, Won Ji-an, Kim Si-eun
Duração: 07 episódios de aprox. 60 min.

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