Passados 46 anos desde que Polanski levou às grandes telas a primeira adaptação do livro de Ira Levin, a NBC reconta a mesma história, desta vez ambientada na requintada atmosfera parisiense. O casal Woodhouse se muda de Nova Iorque para a capital francesa a fim de recomeçar a vida após o aborto sofrido por Rosemary. Lá o marido Guy nutre uma perigosa relação com o casal de vizinhos Roman e Margaux Castevet.
A diretora, também polonesa, Agnieszka Holland (O Jardim Secreto) traz uma proposta mais realista, não tem pena em fixar o pé no chão e deixa de lado o terror psicológico presente na obra de Polanski. O resultado final é um produto de três horas com uma trama comprometida, horrivelmente previsível, que é desperdiça a história de grande potencial pensada por Levin que Polanski contou de maneira belíssima em duas horas.
Se no seu clássico, Polanski conseguia viajar muito bem entre terror, suspense, drama e comédia, Holland falha terrivelmente em sua composição. Sua adaptação não estimula de maneira alguma o imaginário de quem assiste. Em cada cena, os elementos são dispostos e entregues e o espectador não tem o mínimo trabalho de somar dois mais dois.
É possível resumir o insucesso da minissérie em poucos aspectos.
Corpo de atores pouco expressivos
Como distribuir de maneira convincente alguns papeis já bem desenvolvidos e consagrados no longa de Polanski? O que vemos na adaptação da NBC é um Guy muito mais apático e bem menos opressor que o encarnado por John Cassavetes.
Jason Isaacs (Harry Potter) talvez seja o único a conseguir transitar bem entre a essência do personagem e as características necessárias para uma composição atual. Carole Bouquet (Too Beautiful To You) no papel da esposa Margaux, em contrapartida, além de não conseguir impor sua personalidade ao papel, não consegue se desvencilhar da sombra criada pela magnífica interpretação de Ruth Gordon em 1968.
O que sem dúvida alguma se destaca na obra é a atuação surpreendente de Zoe Saldana. A atriz já ganhou papeis de destaque em blockbusters de grande audiência e boa crítica, como Avatar e Star Trek, mas revela em Rosemary’s Baby o grande potencial em um papel de drama. Enquanto vemos Saldana em cena, nada de Mia Farrow vêm à mente.
Adaptar um roteiro já bem adaptado
Não é fácil para ninguém. Adaptar um roteiro já consagrado em outra adaptação anterior exige planejamento, ousadia, mas também cautela. Isso acontece nas melhores famílias, no cinema, no teatro e na TV. O exemplos vão de Psicose (1998) até O Dia Em Que a Terra Parou (2008) e não param por aí. Ou será que Tim Burton não sente até hoje as duras críticas de sua péssima adaptação a Planeta dos Macacos?
Aqui não seria diferente. A obra de Ira Levin é bem construída, mas que deu a sua marca e assina de fato os créditos à originalidade e à construção narrativa em O Bebê de Rosemary é Polanski. Criar uma nova versão que propõe, além de adaptar o livro, resgatar diversas marcas do longa original, exige o mínimo de preparo e planejamento. Isso não foi visto na minissérie, que em nada ousa e acaba por ser apenas uma versão imitada e sem vida de um clássico.
NBC
Dentre os canais da TV aberta americana, vejo na NBC uma grande preocupação em criar séries bem produzidas com qualidades técnicas exemplares. Assim é visto em Hannibal que, ao meu ver, configura em uma das melhores adaptações em curso na TV aberta americana.
Como nem tudo são flores, entretanto, a emissora atravessa uma crise de azar há algum tempo. Somente neste mês, dez séries foram cortadas de sua grade, incluindo a progressiva Community. Suas séries, por algum motivo, não emplacam e atingem ínfimos índices de audiência. Foi o que aconteceu com Rosemary’s Baby durante os dois dias em que seus episódios foram exibidos. A grande campanha produzida antes do lançamento da série não foi suficiente e o público foi de apenas 3,5 milhões de espectadores, valor pouco expressivo na TV americana.
Como não poderia fugir à regra, ainda que seja uma minissérie apático, tenha conseguido baixos índices de audiência e não seja uma das produções mais felizes da emissora, Rosemary’s Baby impressiona na qualidade cenográfica e fotográfica. Novamente a NBC se mostra uma competidora de nível a muitos canais fechados por aí.
Rosemary’s Baby (EUA, 2014)
Direção: Agnieszka Holland
Roteiro: Scott Abbott, James Wong
Elenco: Zoe Saldana, Patrick J. Adams, Jason Isaacs, Carole Bouquet, Christina Cole
Duração: 190 min.