Obs: Leiam as demais críticas dos filmes da franquia Rocky, aqui.
Hoje é muito comum, e tem se tornado uma mania quase incômoda, que atores voltem com versões envelhecidas de personagens icônicos que viveram há décadas atrás. É uma nostalgia sem tamanho ver Harrison Ford com o chapéu de Indiana Jones em O Reino da Caveira de Cristal ou o blaster de Han Solo em O Despertar da Força, assim como foi divertido ver Arnold Schwarzenneger como o T-800 no fracassado Exterminador do Futuro: Gênesis ou até mesmo Michael Douglas voltando ao papel premiado de Gordon Gekko em Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme. Porém, foi Sylvester Stallone quem começou a brincadeira, quando trouxe de volta seu personagem mais querido em Rocky Balboa.
A trama nos apresenta novamente à Rocky. Aposentado da carreira de boxe, agora gerencia um restaurante em homenagem à falecida Adrian e tenta de tudo para se reaproximar de seu filho Robert (Milo Ventimiglia), enquanto é constantemente parado para autógrafos, fotos e antigas histórias de guerra. Quando uma simulação virtual coloca Balboa contra um dos nomes quentes do boxe contemporâneo, Mason “The Line” Dixon (Antonio Tarver), uma chama reacende no antigo lutador, que decide voltar aos ringues para uma última luta.
Pode até soar uma ideia ridícula, que Rocky volte aos ringues por uma mera simulação de computador, mas a verdade é que Rocky Balboa é um dos mais complexos e honestos filmes da franquia – sem dúvida alguma o melhor filme dirigido por Stallone. O roteiro é de uma melancolia nada forçada, com o drama de um sujeito parado na vida e ansiando por tornar-se relevante novamente é comovente, sem apelar para recursos mais forçados: a trilha sutil de Bill Conti é certeira por pegar o vibrante tema de “Gonna Fly Now” e reduzi-lo a uma melodia lenta de piano que vai evoluindo – conforme o andar da narrativa – até a tradicional música que adoramos ouvir para nos inspirar.
E, claro, havia a grande dúvida se Stallone ainda seria capaz de aguentar trazer o personagem de volta em seus 60 anos. Como desempenho físico, não há dúvida da capacidade do ator, já que se sai bem em cenas de treinamento pesado, lutas sem camisa e até mesmo em seus trabalhos posteriores, vide Rambo e Os Mercenários. É no drama que o ator realmente surpreende. Vê-lo com uma aparente calmaria, apenas para soltar um pequeno bufo animalesco quando desabafa “há uma besta dentro de mim” é impressionante, revelando a cuidadosa construção de Stallone. Rocky é uma figura muito fácil de se gostar, e vendo-o conversando com o túmulo de Adrian ou elogiando seu adversário após a luta climática apenas ilustram a boa alma de Balboa.
O oponente da vez também demonstra um crescimento de Stallone como artista. Longe de ser uma máquina soviética como Ivan Drago em Rocky IV ou uma figura simplesmente má como o Mr. T no terceiro filme, Mason Dixon é um bom lutador que se sente limitado por nunca ter enfrentado um desafio à sua altura – além de sofrer uma pesada crítica da mídia por isso -, e sua frustração vem de um fator humano, ao invés de um simples “Preciso destruir todos inferiores a mim”.
Dentro da franquia, Rocky Balboa facilmente se destaca como o melhor filme após o original, revelando uma faceta madura de Sylvester Stallone como artista, além de oferecer um desenvolvimento apropriado para este que é um dos mais carinhosos ícones da cultura pop mundial. Uma aposentadoria digna para Balboa, como lutador.
Rocky Balboa (Rocky Balboa, EUA – 2006)
Direção: Sylvester Stallone
Roteiro: Sylvester Stallone
Elenco: Sylvester Stallone, Milo Ventimiglia, Burt Young, Antonio Tarver, Geraldine Hughes, Tony Burton, A.J. Benza, James Francis Kelly III
Duração: 102 min