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Crítica | Rivais (2024)

Tesão e rivalidade.

por Felipe Oliveira
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A escolha de começar Rivais com um plano detalhe no olhar de cada um do trio de protagonistas – o suor escorrendo, a apreensão para não perder a bola de vista – diz muito sobre a tensão pulsante que se desenrola com pouco mais de 120 minutos em tela. Essa tensão não seria por se tratar de um filme de esporte, afinal, o tênis aqui é só alegoria visual para o sexo, rivalidade e emoções dos personagens. Se a cada rebatida na bola Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor) emitem um gemido cheio de intenção e intensidade, a bola seria o controle do orgasmo, algo que fica evidente no ato final com o movimento mais forte da câmera simulando a chegada do ápice.

Depois de alguns minutos, não é difícil se perguntar quem é o telespectador nessa rivalidade; talvez como a bolinha verde sendo jogada de um lado a outro nessa relação, mas o que torna Rivais uma experiência eufórica, sensual e envolvente é como Luca Guadagnino torna o roteiro de Justin Kuritzkes um drama erótico excitante. O que faz a fala da Tashi (Zendaya) de que “tudo é tênis” ser precisa quando nos damos conta que desde os cortes criativos na edição, à batida progressiva da trilha sonora, tudo é sempre cheio de insinuações: as arfadas, os gemidos, o suor, o barulho de uma mordida, a pegada na bola, as batidas da raquete. São feromônios que se traduzem em tela, provocando a imaginação e libido do telespectador. 

Dividindo a trama em diferentes linhas temporais, percebemos aqui que o tênis em si nunca é totalmente o foco, mas é usado como mecanismo para o triângulo amoroso que se desenrola. Desde que a disputa  entre Art e Patrick dá início, é como acompanhar uma extensa transa que vai ganhando cada vez mais intensidade. É ótimo como a narrativa vai abrindo espaço para explorar com flashbacks a relação desses três personagens que, mesmo numa quadra, as reações de Tashi na arquibancada e as sacadas entre os dois competidores são os únicos que importam para a câmera e na edição dinâmica e vibrante. E assim como a fotografia brinca com ângulos e pontos de vista, as linhas de tempo vão mudando de foco na narrativa.

O fato de Challengers ser um filme erótico que dispensa demonstrações explícitas faz da direção de Guadagnino ser a mais estimulante visualmente, enquanto comanda uma história sobre amizade, rivalidade, e tensão sexual. Então, não é exagero dizer que Rivais é tesão um de filme, uma vez que Guadagnino não perde nenhuma chance de brincar com duplos sentidos e de provocar a audiência com insinuações sexuais, tudo isso envolto numa câmera empolgante, slow motions e trilha sonora vibrante. É ótimo observar como a música de Trent Reznor e Atticus Ross entra em sintonia com as ações dos personagens, a exemplo de toda tensão sexual que se desenrola e a batida eletrônica surge para acompanhar e dar tesão à cena.

Ao retomar para a partida de tênis inicial e fazer disso a sequência do seu último ato, Guadagnino brinda em Challengers o ápice da tensão depois de filmar com tanta intencionalidade cada curva do seu trio de protagonistas; seja os músculos tensos de Faist, os pelos espalhados no corpo de O’Connor e toda vez que Zendaya usa um creme hidratante, o cineasta italiano quer se certificar que audiência está com os ânimos a flor da pele. Afinal, o tênis aqui é um relacionamento e sua câmera não foge da provocação, e filma cada momento erótico como uma disputa e cada partida em quadra como uma foda em que os personagens competem por seus desejos e satisfações.

Rivais (Challengers – EUA, 2024)
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Justin Kuritzkes
Elenco: Zendaya, Josh O’Connor, Mike Faist, A. J. Lister, Naheem Garcia, Hailey Gates
Duração: 131 min.

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