Dando continuidade à minissérie de 2004, Night of the Living Deadpool, Return of the Living Deadpool é mais uma brincadeira com o apocalipse zumbi envolvendo o mercenário tagarela. Similarmente ao original, esta continuação mantém um tom mais sombrio do que estamos acostumados em histórias do anti-herói, utilizando o humor do personagem de forma mais parcimoniosa, transformando-o em um alívio cômico dentro do cenário de desolação que encontramos. Naturalmente não temos aqui o mesmo clima de histórias como The Walking Dead, mas existe sim um sentimento de angústia criado no leitor, por mais que a problemática central seja, no mínimo, hilária.
Alguns anos após os eventos de Night of the Living Deadpool, acompanhamos uma menina, por volta de seus quinze anos, que ainda luta para sobreviver em meio aos mortos-vivos. A maior ameaça, porém, não são os zumbis e sim a legião de Deadpools que se prolifera transformando pessoas normais em zumbis e esses, por sua vez, em mais cópias do mercenário. Aqui, o autor Cullen Bunn, realiza uma sátira direta ao conceito de que no cenário pós-apocalíptico, independente de sua forma, o elemento mais perigoso é o ser humano. Naturalmente, o homem foi trocado por variações do anti-herói. Nesse cenário, a garota se encontra com um único Deadpool que aparenta não ser puramente cruel, e conta com sua ajuda para reverter a situação catastrófica apresentada.
O interessante do roteiro de Bunn é a maneira como ele dispensa a necessidade de termos lido a história anterior para entendermos o que se passa aqui. Logo na =primeira edição ele nos conta o que aconteceu no primeiro volume e a arte de Nik Virella se encarrega do humor, satirizando a outra revista com um visual de flashback que parece ter sido desenhado por uma criança – já na história em si, Virella apresenta um traço mais autoral que o de Ramon Rosanas e consegue nos puxar direto para o tom dos quadrinhos. Dito isso, ainda é altamente recomendável que o leitor leia a minissérie anterior, até mesmo porque não há a menor desculpa para não se ler uma publicação com apenas quatro edições.
A história, porém, não é ausente de seus defeitos, alguns dos pontos apresentados são muito mal explorados. Exemplos disso são a amnésia do Deadpool-protagonista, o porquê de existir uma área livre das legiões do mercenário ou até mesmo como criaram uma máquina como aquela mostrada no desfecho. Jamais anseio por histórias didáticas repletas de explicações, mas tais pontos são centrais para a trama apresentada, o que acabam oferecendo a sensação de que o roteirista não conseguiu pensar em uma saída razoável para tais detalhes.
Return of the Living Deadpool, por mais que seu roteiro peque em alguns pontos, consegue se manter em um nível de qualidade similar ao original. Apresenta uma problemática bastante original que certamente trará algumas risadas para os leitores. A sátira ao apocalipse zumbi continua da melhor forma possível, traçando inúmeras referências não só ao universo Marvel como a obras do próprio gênero.
Return of the Living Deadpool – EUA, 2015
Roteiro: Cullen Bunn
Arte: Nik Virella
Cores: Nik Virella
Letras: Joe Sabino
Capas: Jay Shaw
92 páginas