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Crítica | Red Rose – 1ª Temporada

O terror da tecnologia.

por Felipe Oliveira
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Já não é novidade como há algo tentador no terror e os subgêneros em espelharem a tecnologia em suas histórias, uma forma de adaptar para as telas comportamentos virtuais, a transição do indivíduo frente os adventos da web e etc, a exemplos de Stay Alive: Jogo Mortal e Medo Ponto Com Br, produções que tentaram pegar o que era viral no período que foram lançados e levar isso para o âmbito do sobrenatural e do suspense. É notável que são poucos os títulos que conseguiram unir terror e tecnologia sem soarem apelativos e rasos no conceito — tendo mais êxito quando evitam esse caminho, como Desaparecida — e que ainda se tenha uma estranha fixação em conceber a típica trama da tecnologia acompanhada de uma maldição.

Ao menos inicialmente a série inglesa Red Rose parecia seguir uma abordagem mais palpável da temática, fazendo do terror um mecanismo para trazer uma alegoria entre a relação do indivíduo com a tecnologia, depois, como as diretrizes virtuais vão assumindo diferentes proporções no cotidiano. O conceito criado pelos gêmeos Michael e Paul Clarkson consegue se mostrar pertinente ao apresentar um aplicativo — que intitula a atração — que aos poucos vai penetrando na realidade de seus usuários, como um conto de fadas virtual que vai distorcendo seu encanto até revelar as áreas mais sombrias da web. É uma premissa trivial mas bastante convincente para uma proposta teen ao lembrar como o espaço cibernético é perigoso.

Por esta escolha, foi como os Clarkson fizeram de Red Rose um ponto chamativo quando o assunto é terror e tecnologia, graças a forma que articula e executa a premissa sobre as vulnerabilidades do mundo virtual. Mesmo que os repetidos furos e conveniências sejam os que mais posicionam o resultado final como inferior ao que poderia ter sido, é inegável que há uma atmosfera que consegue ser convincentemente assustadora, e isso vem da sacada de trabalhar a trama conforme a protagonista interage com o misterioso aplicativo, e enquanto se reflete a possibilidade dos acontecimentos serem sobrenaturais, a todo tempo somos lembrados das vazões, permissões que concedemos num ambiente online, ou seja, a série acerta por aproximar sua trama de um realismo que espelha nossos hábitos virtuais: a preocupação com as aparências, os anseios em permanecer em evidência.

É interessante como os Clarkson contornam a estrutura da série se inspirando nos tropos de filmes de terror adolescente, a exemplo da quebra de expectativa da protagonista que funciona como uma abertura introdutória demonstrando o mecanismo da “maldição virtual” que se inicia com a primeira vítima para depois atingir o grupo de amigos. O que acompanha essa configuração é a trilha sonora que traz “versões sombrias” de músicas da década de 90, fazendo ouvir Barbie Girl e Blue (Da Ba Dee) por uma montagem que consegue ser esteticamente bem elaborada e assustadora, mas também de uma forma estranha transmitir melancolia. Por um lado, é ótimo como Red Rose tenta criar um estilo partindo de diferentes inspirações, por outro, parece que não sabe mais como manter o argumento-base consistente.

Um exemplo disso é no desenvolvimento dos personagens, o que fica clara a prioridade dos Clarkson em dar uma importância em torno dos dilemas que acompanham os jovens de Bolton, servindo também um contraste da relação entre filhos e pais, porém, o leque interessante de personagens nunca parece atingir um objetivo narrativo ao ensaiar arcos dramáticos que não conversam com a abordagem de terror psicológico que a série usa para articular suas discussões. Depois, é como se Red Rose se dividisse em meio a uma típica série adolescente e que também quer ser mais madura e relevante.

No geral, Red Rose é mais assertiva quando não abraça de vez o realismo de sua proposta, afinal, são nesses momentos que a tensa abordagem que mais funcionava pelo teor do terror psicológico nas alegorias vai ficando em segundo plano, quando a série não consegue inserir tão bem os reflexos dos perigos da web sem usar de um exercício de gênero. O episódio em que os personagens se colocam em quarentena é bom exemplo dessa perda de qualidade, por termos de início um texto afiado mostrando como o aplicativo afetou a normalidade desses de Wren e seus amigos e depois se afastar desse enfoque por um suspense mal desenvolvido e sem inspiração, nisso, Red Rose se mostra mais eficiente quando se mantém na linha da representação e sugestões.

Red Rose – 1ª Temporada (Reino Unido, 2022)
Criação: The Clarkson Twins
Direção: Henry Blake, Lisa Siwe, Ramón Salazar
Roteiro: The Clarkson Twins, Poppy Cogan, Tolula Dada, Gemma Harley
Elenco: Amelia Clarkson, Isis Hainsworth, Natalie Blair, Ali Khan, Ellis Howard, Harry Redding, Ashna Rabheru, Natalie Gavin
Duração: 345 minutos (8 episódios)

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