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Crítica | Red Dead Redemption 2

por Kevin Rick
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A evolução da indústria de games tem apresentado gráficos cada vez mais lindos, ambientações vastas e narrativas extremamente cinemáticas. Tal progresso traz consigo vantagens e desvantagens, pois existem obras que se resignam ao visual e/ou a ótimas histórias e perdem o foco principal da arte dos games, que é a jogabilidade. Confesso que sou mais fã de jogos nos quais sou capaz de interagir o máximo possível com o sistema jogável, enquanto outros elementos como trama e gráfico vêm depois, ainda que, claro, sejam muito importantes para a experiência. No entanto, quando um jogo é capaz de equilibrar todos os componentes em uma unidade coesa, normalmente nos deparamos com uma obra-prima, ou pelo menos algo próximo disso, denominação esta que se encaixa perfeitamente à Red Dead Redemption 2.

Apesar de ser uma continuação em termos de lançamento, RDR2 é um prólogo de Red Dead Redemption, que acompanhava a história de John Marston, um antigo fora-da-lei forçado pelo governo a caçar membros da sua antiga gangue, Van der Linde, para que possa encontrar sua família, raptada por agentes governamentais. A continuação/prólogo expõe o passado da gangue, enquanto ainda funcionavam como um grupo coeso, porém, mesmo que John já faça parte do bando criminoso, jogamos da perspectiva de Arthur Morgan, um membro bastante importante da gangue, já que Dutch Van der Linde vê Arthur como um filho e o posiciona como alguém em quem ele pode confiar dentro do grupo, muitas vezes devido aos trabalhos sujos que muitos outros não aceitariam livremente.

Desenvolvido pela Rockstar, famosa pela habilidade de construir mundos abertos do gênero, Red Dead Redemption 2 oferece uma viagem ampla pelo Velho Oeste, enorme em escala, repleto de vida e atividade, e surpreendentemente detalhado. A abertura completa do período western toma seu tempo, já que os desenvolvedores propõem uma longa jornada até que possamos explorar livremente o faroeste americano, contudo, desde o início da história, com a gangue fugindo após um roubo desastrado em Blackwater, somos sugados para dentro deste universo histórico, e para a dinâmica disfuncional da “família” Van der Linde. E logo de cara, a principal proposta da obra é apresentada ao jogador, nos situando de uma história sobre mudança, em todos os aspectos possíveis.

O deslocamento contínuo é o primeiro artifício utilizado para expor o ideal de modificação da trama. À medida que o acampamento da gangue é estabelecido, somos apresentados à classe de personagens locais, majoritariamente antagonistas, provendo diferentes aventuras sanguinárias a cada novo capítulo, já que Dutch sempre elabora um plano mirabolante de roubo, normalmente terminando em desastre, com perda de membros e o bando fugindo para uma nova localidade. Dessa forma, a mudança do grupo assume um papel trágico de falha conforme a sucessão de viagens trabalham em paralelo com o sumiço da unidade da gangue. Isso acontece pela desconfiança no líder, gradualmente tornando-se a pior versão do que criticava; cruel, desleal, vingativo e egoísta.

A estrutura de deslocação constante abre um interessante leque de recursos para o jogo. Primeiro que preenche a construção de mundo com várias ambientações, entregando uma variedade insana de missões paralelas e exploração quase infinita das áreas do jogo. Este é o melhor aspecto da obra, não necessariamente da gameplay, apesar de ser sensacional, mas sim em termos de imersão geral no mundo. Um dos maiores pontos fortes do RDR2 é até onde ele vai para fazer seu mundo parecer que está respirando por conta própria. Além disso, existe um manuseio cirúrgico entre a já citada vastidão do Velho Oeste e o teor mais intimista da narrativa.

Como Arthur, você é essencialmente o consertador da gangue. Além de participar de vários roubos e crimes relacionados que acontecem ao longo do jogo, você também estará no comando do acampamento da gangue, um movimentado espaço comum onde você coleta missões, gerencia recursos e simplesmente existe ao lado de várias personalidades que encapsulam o bando. A forma como o game interage os personagens secundários com Arthur, em vários diálogos, sidequests e momentos bastante trágicos, compõe a qualidade profunda da história. A narrativa faz questão de conhecermos estes personagens, vários deles são importantes e queridos, e uma certa intimidade bacana é criada com o jogador a respeito da gangue como um todo, seja de ódio com alguns membros, ou então de se importar com outros.

Mas é o próprio Arthur que rouba a cena, sendo, surpreendentemente, na minha opinião, um protagonista melhor que John Marston no primeiro jogo da série. Novamente, a mudança, agora de ideais e não lugares, permeia a trama do game, concebendo o arco de desenvolvimento redentor de Arthur. O personagem sofre de lealdade cega para com Dutch, levando-o a cometer atrocidades em nome da gangue, e à medida que a situação do grupo piora e o mentor de Arthur descende na escuridão da malignidade, nosso protagonista vai na contramão do pessimismo geral. Após descobrir ter contraído tuberculose e estar próximo da morte, em uma espécie de epifania, o personagem decide mudar, assumindo um posicionamento benevolente. Muitas das escolhas misericordiosas de Arthur estão nas mãos do jogador, contudo, seus conflitos internos são cuidadosamente retratados ao longo da campanha.

O jogo oferece várias tutoriais sobre caça, criação, tiro, amarração de cavalos e um milhão de outras coisas, grandes e pequenas. Alguns desses sistemas são mais importantes do que outros, mas há oportunidades de interagir com eles quase sempre. Em jogos de mundo aberto, você eventualmente encontrará missões e atividades que parecem ter sido copiadas de algum outro lugar no jogo, criando uma certa repetição exaustiva na exploração do mundo. Mas em RDR2, desde as maiores missões até as menores interações, todas essas coisas parecem ter sido construídas individualmente.

Dessa forma, a sensação transposta é de algo gigantesco, amplo e lindo de se ver, mas extremamente detalhista, dinâmico e divertido de descobrir, algo que poucos jogos do gênero são capazes de proporcionar. Como disse, é uma pegada cinemática dada ao jogo, não apenas na história principal, mas nas missões secundárias e reconhecimento do ambiente, com NPC’s em constante movimentação e interação. Muito pouco da experiência soa artificial ou preguiçosa, já que o cuidado do game atira para todos os elementos da jogabilidade, desde um sistema que, em certa medida, ignora convenções de mundos abertos, como pontos de experiência, aumento de skills e uma interlocução de sistemas, até o incentivo de assumirmos a mesma ideia do jogo, sempre em mudança, sempre experimentando novas atividades. Red Dead Redemption 2 te obriga e instiga a conhecer seu universo de forma progressiva e contemplativa, até mesmo nos mínimos detalhes, perpetuamente modificando e moldando seu período rigoroso aos olhos de um bruto em busca de mudança. Uma obra-prima artística em todos os sentidos.

Red Dead Redemption 2
Desenvolvedor:
Rockstar
Lançamento: 26 de outubro de 2018
Gênero: Ação/Aventura
Disponível para: PS4, Xbox One, PC

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