A franquia Red Dead, originalmente da Capcom, foi comprada pela Rockstar pouco após a primeira entrada da série, Revolver, se abandonada. A empresa famosa por Grand Theft Auto reviveu o projeto e transformou o western americano que Revolver seria em um faroeste spaghetti, trazendo consigo a típica violência do subgênero além dos icônicos personagens e trilha de Ennio Morricone. Porém, não seria até Red Dead Redemption que o desenvolvedor encontraria a linguagem ideal para o jogo, fazendo de uma franquia menor, um dos melhores games da geração PS3/ Xbox 360, “rivalizando” até mesmo com GTA.
Redemption segue o princípio básico dos games pós GTA 3 da Rockstar, controlamos um personagem em terceira pessoa em um mundo aberto repleto de indivíduos caricatos que formam, ao todo, uma ferrenha crítica à sociedade norte-americana. Dessa vez, contudo, não estamos no século XXI e sim nos princípios do XX, 1911, em pleno Velho Oeste. John Marston, um ex-bandido, membro de uma gangue, abandonou seus meios violentos para cultivar a vida em família como dono de uma fazenda. Sua paz, todavia, é interrompida quando é forçado a trabalhar para o governo e caçar os antigos membros de sua gangue, trazendo-os para a justiça. Somente feito isso poderia ver sua mulher e filho novamente, que foram raptados pelo alto escalão do governo americano. Marston, então, dá início a uma jornada contra sua vontade, que o levará dos estados do recém formado Texas até o México, realizando tarefa atrás de tarefa que o trazem cada vez mais perto de sua família.
O primeiro elemento que nos chama a atenção em Redemption é a retratação do protagonista. John é um homem feio, cheio de cicatrizes, uma figura tirada diretamente dos spaghetti-western, mais similar a um vilão que o “mocinho” à la John Wayne do faroeste clássico. Marston, porém, conta com uma personalidade quase caricata, tem boas maneiras que perfeitamente contrastam com suas expressões ameaçadoras e aos poucos passamos a entender, simpatizar e gostar do personagem. Esta é, sem dúvidas, a melhor construção de personalidade feita pela Rockstar, superando até mesmo o lendário Tommy Verceti de Vice City. John oscila harmonicamente entre o herói e o bandido, o cavaleiro de armadura branca e o sanguinário pistoleiro e, a cada momento, conseguimos acreditar nisso.
![redeadredemption1](https://www.planocritico.com/wp-content/uploads/2015/01/redeadredemption1.jpg)
“I’ve been to the desert in a horse with no name…”
Esse fator é muito bem aproveitado pelo sistema de honra e fama presente no game, que se altera (do mau para o bom) de acordo com nossas ações. Teremos em Marston uma figura que assassina pessoas inocentes, sempre com um preço em sua cabeça, ou um justiceiro do Oeste, honrado que somente mata em último caso? Cabe ao jogador decidir e a escolha, obviamente, traz suas repercussões diretas. O típico bandido será constantemente perseguido pelas autoridades, enquanto que o “mocinho” terá problemas maiores com os fora-da-lei. Ambas as escolhas se encaixam idealmente dentro da proposta do personagem e não nos é causado um estranhamento com uma súbita alteração de personalidade do protagonista.
É interessante notar como a disposição de Marston vai se alterando ao longo do jogo, conforme obstáculos e mais obstáculos aparecem em seu caminho. Redemption certamente é um jogo que será mais aproveitado pelos conhecedores do western, que irão identificar, a cada estágio do game, um diferente subgênero. Northerners, spaghetti, zapata, inúmeros subgêneros são retratados dentro da história a fim de tornar esta entrada de Red Dead uma amálgama do gênero cinematográfico verdadeiramente americano. De forma surpreendente acompanhamos essas transições de tom sem termos uma percepção nítida de ruptura ou até mesmo uma quebra de ritmo narrativo. Ao invés disso, a Rockstar faz o que sabe fazer de melhor: dividir sua trama em diversos atos, com uma problemática central clara para o jogador – o plano de fundo, obviamente, continua sendo a busca pela família.
Mas é claro que todos esses elementos e homenagens ao faroeste cairiam por terra não fosse a ótima jogabilidade do game. Claramente espelhado nos recentes Grand Theft Auto, Redemption conta com uma mecânica muito similar e já introduz alguns elementos que veríamos se repetir em GTA V, como a ótima roda de armas e as habilidades especiais. No caso de Red Dead, temos o dead-eye, que permite o jogador a ver em câmera lenta e atirar com uma maior precisão por um tempo limitado. Isso, aliado com a sensação de perigo constante nos duelos, torna cada tiroteio um verdadeiro êxtase, nos remetendo imediatamente aos western spaghetti.
![reddeadredemption2](https://www.planocritico.com/wp-content/uploads/2015/01/reddeadredemption2.jpg)
Vejo 1, 2, 3, 4 homens mortos
O verdadeiro trunfo, porém, está no andar a cavalo: um verdadeiro deleite dentro do jogo. Cada cavalgar traz um evidente gosto ao jogador, que raríssimas vezes utiliza o recurso do fast-travel. Não só a movimentação do cavalo é realista, como presenciamos, em nossas jornadas, acontecimentos randômicos que praticamente nos obrigam a cruzar um lado do outro do mapa. O cavalo é, de fato, nosso melhor amigo em Red Dead e com ele queremos explorar cada detalhe das províncias dos estados do sul dos EUA (e norte do México). A sensação de que estamos diante de um mundo verdadeiramente vivo é completa e isso se amplia pelas missões secundárias do game, que nos levam por estranhos e bizarros caminhos que não esperaríamos – similarmente ao que veríamos posteriormente com Trevor em GTA V. Para coroar, existem ainda diversos colecionáveis e tarefas extras que liberam interessantes itens para o personagem, como roupas com atributos especiais.
Portanto, seja para simplesmente cavalgar por aí, ou atuar como caçador de recompensas, ou apenas para presenciar uma sensacional história, Red Dead Redemption é um jogo obrigatório. Goste ou não de western, é inegável que a Rockstar encontrou a linguagem perfeita nesse seu épico faroeste e, assim como seu protagonista, trata-se de um game cujo gosto cresce no jogador, atingindo o máximo em um final de arrancar lágrimas de qualquer um. Temos aqui uma harmônica mistura dos subgêneros do western em uma verdadeira obra-prima que merece ser vivida do início ao fim.
Red Dead Redemption
Desenvolvedor: Rockstar San Diego
Lançamento: 18 de Maio de 2010
Gênero: Ação
Disponível para: PS3, Xbox 360