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Crítica | REC 2 – Possuídos

por Iann Jeliel
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  • Contém SPOILERS. Leia aqui, críticas de todos os filmes da franquia.

REC 2 – Possuídos já é feito em outro contexto de found fotage, diferente do que o primeiro programou e mais próximo ao rótulo que o estilo tomou com Atividade Paranormal. A dupla Paco Plaza e Jaume Balagueró não exatamente trairia a proposta que instaurou, só a usaria para outros fins que não somente a compra da ficção como realista fortificando o terror. Eles pressupõem por meio da continuidade direta ao final do antecessor que esse sentimento já é uma realidade, assim, podem desenvolver a mitologia através de outros pontos de vista nos quais o registrador possui mais informações, o que porventura retira a dúvida da origem da ameaça e consequentemente retira o elemento do desconhecido, que era o sustentáculo do horror, abrindo margem para abraçarem outros gêneros, especialmente o da ação, que na mistura ao terror found footage traz um resultado bastante interessante.

Contudo, longe de ser um filme limitado aos mesmos recursos, REC: Possuídos abre essa mistura de gêneros ainda na graduação plausível das possibilidades da premissa e do universo, sempre de forma bastante objetiva. Por exemplo, no primeiro ponto de vista que nos oferece, apresenta quatro soldados numa missão de recuperar a amostra de sangue da paciente um, aquela do final do filme anterior. O processo é gravado pela câmera na mão de um dos soldados, o que claramente não faz muito sentido visto que aquela ação deve ser secreta, e a gravação obrigatória seria somente quando fosse testar o sangue procurado, assim, gravar tudo se torna uma grande conveniência, admitida no momento em que você escolhe soldados para protagonizarem o filme. Ora, mas como isso é admitido? Simples, não se trata mais de uma luta pela sobrevivência passiva ao ambiente, é uma missão investida contra ele, ou seja, nós como público estamos participando da ação planejada.

Temos esse controle que não tínhamos anteriormente, além de não termos mais a dúvida sobre o que estávamos enfrentando, e o legal é que a dupla admite as duas coisas que sugeriu anteriormente. Sim, são zumbis, e sim, são também demônios, e isso conceitualmente é muito único e dá abertura para diversas soluções criativas dos confrontos que vão lentamente trazendo o filme para a ação. Uma ação bem direta e cooperativa, quase como um videogame, mas que nunca nega o terror de sobrevivência. O found footage só reforça o caráter de mistura quando utiliza outras câmeras acopladas aos capacetes dos soldados, a imagem em primeira pessoa remete muito ao gameplay de Left 4 Dead, principalmente considerando as características misturadas dos zumbis, que ganham ameaça pela velocidade.

A filmagem nesse ponto começa a ficar mais visualmente orquestrada, embora ainda não negue por completo a intenção realística. Tanto que a câmera em um determinado ponto quebra na ação, e uma nova óptica previamente estabelecida no meio dela toma a frente. Em um primeiro momento, essa pausa tão brusca parece quebrar essa continuidade transicional de tom, mas não é o caso, ainda que seja um trecho que tente levantar uma questão dramática forte e não consegue pelo pouco tempo em que se desenvolve, com o bônus de ter sido criado sob circunstâncias extremamente irracionais. Era melhor já ter admitido aquele gancho como somente uma continuidade para amarrar pontas, porque essa intenção é feita cirurgicamente para o ato final que confirmará todo esse processo de reinvenção da franquia. Ângela, a repórter do filme anterior, volta com a última dúvida: como ela sobreviveu? E a missão então atinge sua fase final: encontrar e derrotar o chefão.

O clímax dá uma última guinada explícita no horror, é verdade, mas funciona pela nova descoberta mitológica especialmente bem amarrada sobre a funcionalidade do demônio junto ao esconderijo que lhe deu origem, somente físico pela escuridão. Portanto, a câmera volta à ponte fundamental, pois somente com a visão noturna é possível enxergar a menina Medeiros e a porta de entrada ao laboratório. A direção ganha um toque especial de inspiração ao fazer trocas precisas entre luz e visão noturna com mudança de cenário sem perder o fator sequencial. É angustiante tanto quanto o final do anterior, mas com o porém da virada sobre a última revelação da dúvida que o próprio filme implantou. Ângela vira heroína e vilã em questão de segundos, o que se torna a ponte definitiva para o caráter mais reativo da franquia.

Quando parece mocinha, ela mata Medeiros com um instinto de final girl delicioso, contudo é revelado que Medeiros inseriu um parasita nela, assim, daqui para frente os vilões também estão revitalizados a reagirem contra a investida que foi feita durante todo o filme, sendo Ângela o grande centro para a expansão desse universo para além do prédio. A partir daqui, vira uma sobrevivência em conjunto, e o terror se agarraria ao mote de ação numa mistura que se tornaria ainda mais potente nos filmes subsequentes, já fora do found footage. Enquanto nele, mesmo não sendo tão brilhante quanto o primeiro, REC 2 – Possuídos foi uma continuação justa que buscou ser inventiva sem apelar para a desvirtuação total da proposta, revitalizando-a com consciência e habilidade.

REC 2 – Possuídos (REC 2 | Espanha, 2009)
Direção:
Jaume Balagueró, Paco Pláza
Roteiro:
Jaume Balagueró, Manu Díez, Paco Pláza
Elenco: Jonathan D. Mellor, Manuela Velasco, Óscar Zafra, Ariel Casas, Alejandro Casaseca, Claudia Silva, Javier Botet
Duração:
85 minutos

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