Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Rebel Moon: Casa de Bloodaxe

Crítica | Rebel Moon: Casa de Bloodaxe

Para quem precisa desesperadamente saber mais de Devra e Darrian Bloodaxe.

por Ritter Fan
5,1K views

Em uma das citações de críticas elogiosas na quarta capa de Rebel Moon: Casa de Bloodaxe, há o seguinte trecho: “Se você gostou muito do filme de Zack Snyder… esta história em quadrinhos é para você”. Para mim, isso é muito mais um aviso para me afastar da leitura da HQ que conta a “história de origem” de Devra e Darrian Bloodaxe, líderes da revolta contra o Império na saga espacial em questão, do que qualquer outra coisa. Mas, mais do que isso, as reticências usadas na citação me fizeram coçar o queixo e procurar o texto integral que, conforme apurei, contém o seguinte: “e tem uma necessidade desesperada de aprender mais sobre os irmãos Bloodaxe”. Como eu não gostei nada dos longas de Snyder (e isso é apenas um eufemismo, vale dizer) e, muito sinceramente, tinha menos do que zero de interesse em saber mais sobre esses personagens (ou quaisquer outros), eu simplesmente deveria ter ignorado essa minissérie em quatro edições escrita por Magdalene Visaggio e publicada pela Titan Comics, não é mesmo?

Sim, óbvio que eu deveria ter ignorado. No entanto, meu lado masoquista falou mais alto e eu simplesmente não resisti, reconhecendo, com isso, que eu realmente tenho sérios problemas de autocontrole e talvez precise de algum tipo de tratamento.

Seja como for, aqui estamos. E, dentre todos os personagens da ópera espacial de Zack Snyder, Devra e Darrian Bloodaxe são, sem dúvida algum, os que menos tiveram algum tipo de desenvolvimento maior. Não que os demais tenham sido brindados com arcos narrativos, pois não há arcos de personagens nos filmes, talvez com exceção do androide Jimmy, mas os Irmãos Bloodaxe ganham uma cena juntos, com Darrian e quase todos os que o seguem sendo buchas de canhão ao final do primeiro filme e Devra só reaparecendo na base do deus ex machina nos segundos finais do segundo filme, ou seja, eles são não-personagens em não-filmes. Portanto, uma minissérie para contextualizar sua rebelião contra o Império malvado fazia sentido, especialmente porque eu tenho certeza de que Snyder efetivamente imaginou pelo menos a base das histórias de origens de cada um de seus personagens recortados em cartolina.

No entanto, o que poderia ter sido uma história de aventura, tragédia e revolta, torna-se uma pretensamente complexa narrativa de gerações no planeta Shasu, em que, por um bom número de páginas, o foco permanece em Yisrael Bloodaxe, pai de Darrian e Devra, primeiro lamentando a morte de sua amada Amirami, esposa e mãe dos irmãos e, depois, ficando em dúvida sobre o que fazer quando a Coronel Helika, de Motherworld, chega em seu planeta exigindo que ele extermine um clã acusado de abrigar os revoltosos que teriam matado a família real (que, conforme vemos nos filmes, não foi nada disso). Invocando a retitude moral de seu pai, mas também precisando lidar com as visões opostas de seus filhos, Yisrael é o típico líder hesitante que não sabe se obedece cegamente ordens superiores ou se faz aquilo que é certo. E é esse dilema, com direito a tediosos flashbacks para 30 anos antes, quando Yisrael e Amirami se conheceram e também para 50 anos antes, quando Yisrael era pequeno, que faz da minissérie uma modorrência infinita que cansa o leitor.

E o mais curioso – ou, melhor dizendo, estranho – é que, com isso, os próprios irmãos Bloodaxe, toda a razão de ser da minissérie, são jogados para escanteio e ganham desenvolvimentos básicos e óbvios, em que vemos Darrian revoltar-se contra as ordens de Helika e, por tabela, contra a inação do pai e Devra manter-se fiel a Yisrael. Mais estranho ainda é que, surpresa, surpresa, a minissérie acaba sem efetivamente levar a dupla a um ponto minimamente próximo ao status quo em que os vemos nos filmes, ou seja, trata-se de uma enganação em quadrinhos ou, tentando levar na esportiva, uma aposta de que Rebel Moon seria um projeto tão bem sucedido, que haveria toda a razão do mundo para que o spin-off nas HQs continuasse a todo o vapor.

Com um texto que é muito mais blá, blá, blá do que ação, a arte de Clark Bint sofre bastante e acaba cambando para a burocracia, para o mínimo que se poderia esperar de um desenhista que não tem muito com que trabalhar. Seus visuais tentam seguir os designs sem graça dos filmes e, quando ele pode sair dessa caixinha, ele não entrega nada que seja realmente marcante, talvez com uma única exceção, que é a sequência de caça que une Yisrael e Amirami. O restante é a lei do menor esforço resultante de um roteiro de Visaggio que não consegue se desvencilhar do detalhamento exagerado e da grandiosidade profundamente falha das ideias de Snyder.

Rebel Moon: Casa de Bloodaxe definitivamente talvez só encontre alguma ressonância com o público que gostou muito dos filmes e que realmente queria saber mais de Darrian e Devra Bloodaxe. De minha parte, eu apenas esperava uma HQ interessante dentro desse universo, ou seja, mais uma chance para Zack Snyder, mesmo que por intermédio de terceiros, mostrar que a mitologia que criou tem algum valor. Infelizmente, tudo o que li aqui apenas confirma o que já achava dos filmes e seus cortes do diretor, ou seja, uma história cheia de nada que não consegue levantar uma sobrancelha de interesse em quem já não estivesse predisposto para gostar desse universo só porque ele veio da mente de quem veio.

Rebel Moon: Casa de Bloodaxe (Rebel Moon: House of the Bloodaxe – EUA, 2024)
Contendo: Rebel Moon: House of the Bloodaxe #1 a 4
História: Zack Snyder
Roteiro: Magdalene Visaggio
Arte: Clark Bint
Cores: Sabrina Del Grosso (#1 a #3), Francesco Segala (#3 e #4)
Letras: Jame
Editora: Titan Comics
Datas de publicação: 10 de janeiro, 14 de fevereiro, 20 de março e 22 de maio de 2024
Páginas: 129

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais