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Crítica | Raised by Wolves – 2X05: King

Teste de fé.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Raised by Wolves é uma montanha-russa de emoções e uma panaceia inventiva que, como acontece com os personagens da série, testa a fé de seus espectadores na criação de Aaron Guzikowski. Mesmo reconhecendo que os mistérios continuam firmes e fortes, longe de resoluções ou de explicações mínimas, como escrevi na crítica de Control, afirmei com todas as letras que tudo parecia seguir uma direção só, com uma promessa de convergência. Ao acabar de assistir King, porém, eu já não consigo continuar com essa mesma convicção, pois o episódio introduz outros conceitos que se somam aos vários que foram trabalhados ao longo desses 15 episódios até agora, empilhando mais segredos e desenvolvimentos.

Mas o problema – se é que isso é um problema! – é que a série continua, pelo menos para o meu gosto, absolutamente fascinante e cativante. Não só a estética e atmosfera lúgubres que comentei extensivamente em minha crítica de Good Creatures continuam cada vez melhores, ganhando, aqui, excelentes sequências com fotografia noturna (que, desconfio, foi capturada com luz natural ou artificial e convertida em impressão de noite), como a expansividade da história da colônia terráquea em Kepler 22-b e dos mistérios sobre o passado do planeta parece um baú sem fundo de tesouros de arregalar os olhos e fazer a boca salivar.

Entre Sue salvando Paul depois de recolher sanguessugas diretamente dos alienígenas submarinos com base em mensagem obtida por sua súplica à entidade que se convencionou chamar de Sol, Marcus descendo naquele buraco infinito para ressuscitar uma criatura milenar com o dente de Romulus(WTF?), a pequena e completamente psicopata e desfigurada androide Vrill aniquilando seus seguidores e sua própria “mãe”, Mãe reprogramando Cleaver naquela “roda da fortuna” e Pai aliando-se a Lucius para achar Holly e, também, dando de cara com a sinistra androide mascarada que ele reconstruiu e que, nos créditos, é apropriadamente chamada de Avó (Selina Jones), o episódio foi uma sinfonia muito bem afinada de bizarrices, sanguinolência, tensão e ação que, confesso, me hipnotizou do começo ao fim. Certamente tenho receio que o showrunner não consiga terminar sua série a contento considerando a crescente complexidade da coisa toda, o que não significa que ele precisa responder todas as perguntas que faz, que fique bem claro, mas, por outro lado, consigo me imaginar concluindo, na pior das hipóteses, que a forma sobre substância que a série muita vez salienta, é mais do que o suficiente para me deixar satisfeito.

Afinal, mesmo considerando a oferta de séries por aí, inclusive no gênero ficção científica, Raised by Wolves está em um categoria rara de obras que os elementos visuais, aqui entendidos como tudo que vai da fotografia aos figurinos, passando pelo design de criaturas, efeitos especiais e direção de arte, são tão importantes quanto a discussão filosófica de fundo que aborda a fé, a humanidade e a esperança. Há um equilíbrio de se tirar o chapéu em tudo o que é feito, do orgulho de Pai por ele ter se firmado como gladiador e ter criado vida – características de Mãe que ele invejava – até o breve diálogo entre Paul e Sue sobre o divino e a convergência entre o sobrenatural e o científico, passando pela equiparação do homem em carne e osso com o homem biomecânico no diálogo também breve entre Mãe e um Cleaver em petição de miséria.

As incongruências permanecem, claro, como a incômoda situação do oceano ácido que só corrói pele e metal quando conveniente, com a montagem dando a impressão que Sue só teve tempo para pegar uma ou duas sanguessugas, somente para depois revelar que ela, na verdade, capturou dezenas, ou com o esquecimento das demais crianças de Mãe que passaram a ser figurantes para composição cenográfica e até mesmo como a colônia, depois que passou a ser comandada pela Necromante, esvaziou-se. Diria, porém, que esses e eventuais outros problemas são detalhes que realmente são manobrados pelos roteiros na medida do que é necessário para essa ou aquela cena funcionar, sem muito escrúpulo com a manutenção estrita da lógica interna. Certamente eu gostaria que não fosse assim, mas há tanta coisa mais interessante acontecendo e há tanto para meramente observar e admirar (olhem só essa relativamente prosaica, mas belíssima imagem de Pai na cela de Lucius que usei para ilustrar a presente crítica!), que os problemas se tornam inconveniências que, ato contínuo, desaparecem no todo.

King, portanto, marca com louvor a metade da segunda temporada de Raised by Wolves. Não tenho mais ideia dos rumos que essa prosa vai tomar, e começo a me acostumar com isso, mesmo ainda mantendo a fé de que aquela convergência que detectei em Control voltará a aparecer em breve com a ativação completa de Avó e a potencial revelação de seu passado e do que é aquela voz que Sue ouve ao final (fiquei desconfiado de que poderia ser o Trust ainda ativo de alguma forma, mas não sei…). É, sem dúvida alguma, e cada vez mais, uma série única e, diria até, especial, que mesmo não agradando a todos em tudo o que oferece – que série consegue isso, não é mesmo? -, precisa ser reconhecida por sua ousadia e capacidade de intrigar.

Raised by Wolves – 2X05: King (EUA, 24 de fevereiro de 2022)
Criação: Aaron Guzikowski
Direção: Alex Gabassi
Roteiro: Aaron Guzikowski
Elenco: Amanda Collin, Abubakar Salim, Niamh Algar, Travis Fimmel, Jordan Loughran, Felix Jamieson, Ethan Hazzard, Aasiya Shah, Ivy Wong, Peter Christoffersen, Selina Jones, Morgan Santo, James Harkness, Kim Engelbrecht, Jennifer Saayeng
Duração: 55 min.

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