- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Os macro mistérios de Raised by Wolves persistem, mas, considerando que ainda estamos apenas na segunda temporada da série, isso é de se esperar. O que eu realmente não esperava é o tanto de desenvolvimentos em escalas menores que aconteceram em Good Creatures e, agora, novamente em Control. É o melhor é a percepção de que eles realmente se encaixam no plano maior de Aaron Guzikowski, não dando aquela incômoda sensação de que tudo o que a série faz é empilhar mistérios e mais mistérios sem oferecer soluções.
Não que soluções sejam oferecidas, vejam bem, pois elas não são. Mas meu ponto é que o showrunner demonstra um caminho, com cada evento, revelação ou descoberta pelo menos em tese levando à convergência narrativa, nem que ela só venha mesmo a acontecer completamente bem lá para a frente. Como exemplo, basta ver o androide milenar que Pai reconstrói e que “acorda” aqui, salvando Campion da morte com sua aparição – e fazendo o garoto achar que viu Sol – e servindo como cliffhanger quando retorna para seu local de renascimento. Podemos não saber nada da criatura, mas fica a ideia de que ela será essencial para compreendermos o que aconteceu no planeta antes dos colonizadores atuais chegarem, além de ela também funcionar como uma forma de Pai sentir orgulho por ter criado vida, considerando que, mesmo sintético, ele claramente sente uma ponta de inveja de Mãe depois que ela gerou Número 7.
Falando em Mãe, seu reencontro com Marcus depois que Paul é vitimado pelo ataque biológico perpetrado pelos ateístas usando o jovem como “mensageiro” leva a consequências imediatas muito interessantes. Não só ela rapidamente extirpa o suposto Profeta de seus superpoderes, recuperando seus olhos de Necromancer, como ela parte para lidar com a inteligência artificial que comanda cada detalhe da vida do Coletivo, fazendo uma versão mais seca do que Dave faz com HAL 9000, em 2001 – Uma Odisseia no Espaço. A androide cuja programação base é ser mãe, ou seja, cuidar de seus filhos, em um estalar de dedos aumenta exponencialmente o número de sua prole, tomando controle da colônia e fazendo de todos ali seus filhos, em um desenvolvimento perfeitamente lógico dentro da construção da série. Será interessante ver como será a reação a ela em comando (inclusive e especialmente a de Pai), especialmente considerando que, diferente da I.A. anterior, que precisava agir por terceiros, ela pode tomar as decisões e, ato contínuo, executá-las.
E, com isso, temos um movimento circular e retornamos ao androide que Pai acordou e que, para todos os efeitos, parece ser uma versão mais antiga de um Necromancer, só que pelo menos em princípio atuando para os Mitraicos. Ao que tudo indica, se minha suposição estiver correta, veremos um conflito de larga escala se formando entre as vidas artificias, refletindo nas dos humanos, claro, como uma repetição, em Kepler 22-b, do que aconteceu na Terra. Não faço a menor ideia como a serpente voadora entra nessa equação complexa, mas fico muito curioso para ver, ainda que também um pouco apreensivo, já que ela parece ser aquela peça do quebra-cabeças que não parece se encaixar naturalmente em lugar algum.
Marcus sem poderes especiais também terá, aparentemente, problemas em breve, já que seu status de “Profeta” já começou a ser desafiado por Decima. Fico imaginando se, por acaso, ele de alguma forma encetará uma aliança com o tal androide que acabou de acordar, o que devolveria a ele essa sua qualificação e, provavelmente, muito mais poder do que jamais teve. Da mesma forma, considerando o simbolismo que é um casulo, tenho certeza de que o que sairá daquela crosta que envolveu Paul não será nem de longe o mesmo Paul de antes e talvez ele possa assumir a figura de Profeta ou de Messias de alguma maneira, talvez até usurpando a posição de Marcus.
Control, antes mesmo da metade da temporada, basicamente muda tudo o que sabíamos sobre Raised by Wolves ao reposicionar Mãe como líder dos ateístas, trazer um novo personagem que pode ser uma formidável força opositora a ela e, mais interessante ainda, com conexão com Pai, ao em princípio converter Campion em adorador de Sol e prometer transformar Paul em algo mais do que ele era. E o mais bacana é que o episódio faz tudo isso sem forçar situações e sem tirar nada de estranho (ou de mais estranho, deveria dizer) de dentro da cartola. Tudo parece ser desenvolvimento natural do que vimos até esse ponto, o que é um testamento da qualidade do que Guzikowski vem fazendo, mesmo considerando o final razoavelmente decepcionante da temporada inaugural.
Raised by Wolves – 2X04: Control (EUA, 17 de fevereiro de 2022)
Criação: Aaron Guzikowski
Direção: Sunu Gonera
Roteiro: Karen Campbell
Elenco: Amanda Collin, Abubakar Salim, Niamh Algar, Travis Fimmel, Jordan Loughran, Felix Jamieson, Ethan Hazzard, Aasiya Shah, Ivy Wong, Peter Christoffersen, Selina Jones, Morgan Santo, James Harkness, Kim Engelbrecht, Jennifer Saayeng
Duração: 43 min.