Concorrente ao prêmio da Academia de melhor canção original no Oscar 2016, Racing Extinction é uma obra que busca conscientizar sobre o impacto da humanidade na vida animal, mostrando as diferentes formas como mudamos o meio ambiente, além de propor algumas alternativas para contornar a questão. De forma interessante, o roteiro de Mark Monroe aborda sem sensacionalismo como diversos outros documentários que vemos – existe, sim, todo o apelo visual e sonoro, mas o longa atua de maneira mais sóbria, levantando pontos que, de fato, merecem nossa atenção, sem criar maniqueísmos e grandes vilanizações.
Um exemplo claro da ausência desse antagonismo vemos em uma sequência já na segunda metade da obra em que uma vila – altamente dependente da caça de raias – é abordada pela equipe do documentário (todos ativistas) e um dos representantes do local afirma que precisam que eles apresentem soluções. A cena seguinte nos mostra a morte de uma raia, nenhuma solução é apresentada, reconhecendo, portanto, o diretor, que há uma profundidade econômica-social muito mais profunda nas questões ambientais. Do outro lado temos as grandes corporações emitindo CO2, dentre outros gases na atmosfera, que poderiam procurar soluções mais sustentáveis, mas que acarretaria em uma diminuição nos lucros – Racing Extinction não se concentra em apenas um fronte, demonstrando toda a amplitude da questão.
Há evidentemente um foco maior nos oceanos, não é mero acaso a canção tema ser denominada Manta Ray, não pelo animal em si, mas representando toda a vida marinha, dos peixes ao plâncton. O enfoque do diretor, Louie Psihoyos, é justamente o perigo de causar uma extinção em massa em virtude da morte do ecossistema marinho – sem vida nas águas, não há vida na terra. A partir daí, a extinção se amplia para a raça humana, o roteiro ganha um tom mais impactante, que passa do “precisamos preservar os outros seres-vivos” para a auto-preservação, obviamente, portanto, atingindo uma parcela maior da humanidade, aquela que liga somente para si.
A argumentação, contudo, seria completamente ineficaz não fosse o trabalho louvável dos cinematógrafos John Behrens, Shawn Heinrichs, Sean Kirby e Petr Stepanek, que utilizam tanto a fotografia still quanto a filmagem para contrastar as belas imagens da vida e as amargurantes mortes causadas pela ação humana. Com um orçamento impressionante, o documentário nos leva ao redor do mundo, demonstrando cada aspecto de nosso impacto na natureza, com imagens que completariam livros e mais livros de fotografia, tanto para contemplar, quanto para conscientizar. O longa ainda é finalizado, de forma interessante, com a gravação de ações humanas em um tom bastante otimista, com a mensagem/ hashtag #StartWith1Thing, traduzido livremente para comece com uma coisa, faça sua mudança no mundo um passo de cada vez, mas faça.
E já que a obra foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, não poderia deixar de comentá-la. Manta Ray se encaixa perfeitamente na atmosfera do filme, é uma música que captura toda a angústia vivida pelos ativistas que vemos no filme. Acima disso, porém, ela representa o argumento central do documentário: Without my home / With no reflection / I cease to exist – sem minha casa, sem reflexão, eu deixo de existir. Infelizmente na canção não somos deixados com a visão positiva, de ação do desfecho do filme, há apenas a tristeza e não a vontade efetiva de algo se realizar. Nesse aspecto, ela não corresponde perfeitamente com o objetivo dos realizadores, ainda que seja utilizada repetidas vezes de forma precisa ao longo da projeção.
No fim, Racing Extinction foge do típico filme ambientalista; ele procura nos mostrar alternativas e soluções para os problemas ambientais que aborda e revela o quanto impactamos a Terra desnecessariamente, o quanto poderíamos viver de forma sustentável, sem dizimar toda a vida ao nosso redor. Merece ser visto não só pela sua indicação, e sim como forma de conscientização geral.
Racing Extinction – EUA, 2015
Direção: Louie Psihoyos
Roteiro: Mark Monroe
Elenco: Louie Psihoyos, Jane Goodall, Leilani Münter, Elon Musk, Charles Hambleton
Duração: 90 min.