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Crítica | Quem é Você, Alasca?, de John Green

Um labirinto e um grande talvez.

por Felipe Oliveira
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O primeiro livro do autor norte-americano queridinho do público jovem, John Green, Quem é você, Alasca?  nos apresentava o adolescente Miles Halter, fascinado pelas últimas palavras das pessoas e tocando a vida que descrevia como “sem graça”. Ele estava determinado a buscar “um grande talvez” para si, seguindo o que foram as últimas palavras do poeta François Rabelais. Para isso, deixou sua família e amigos na Flórida, a fim de ir para o internato Culver Creek, no Alabama, o ponto de partida para a história se desenrolar.

Lá somos apresentados a Alasca Young, o que representa o lado oposto dessa jornada, da busca de Miles por um talvez. Se ele anseia e sofre pela pressão do não-pertencimento e faz da anulação desse sentimento um objetivo, uma meta em descobrir seu lugar no mundo enquanto se é jovem; Alasca é a alma em fuga, sempre em negação como forma de escapismo de seus sentimentos. Olhar para esse livro de estreia de Green é curioso por apontar como o seu estilo foi tomando forma, mas já se tinha indícios da escrita que conquistaria o seu público, como o característico clima quente e úmido da Flórida, o humor inerente às histórias, no entanto, um dos pontos mais marcantes são os personagens, e a individualidade com que Green consegue trabalhar as angústias modernas do seu público-alvo.

Conhecendo suas obras, é claro identificar a fórmula, a estrutura que segue as narrativas, porém, Green traça um equilíbrio entre sensibilidade e a “aventura peculiar do anti-herói navegando no entendimento dos dilemas pessoais”. O segredo de sua escrita está em saber conversar com o leitor, retratando personagens que se sentem de alguma forma deslocados e em buscar uma linguagem simples que transita por referências nerds a autores literários, filosóficos, científicos mas sem fazer isso soar parte de um reflexo intelectual de sua autoria e sim próprio dos personagens, o que torna cada leitura familiar — pela presença de citações — e também específico tratamento às temáticas propostas. No caso de Looking for Alaska, a ansiedade, a incerteza e angústias reprimidas são alguns dos tópicos que conferem o livro, mas sem propor uma abordagem existencial, melancólica, apenas o estilo Green de contar histórias.

O que facilita a identificação do público com a escrita de Green é como ele insere premissas presentes na cultura pop e costura isso ao forro do coming of age. Se em A Culpa é das Estrelas tinha os aspectos de um romance dramático, aquela que deu o nome do seu primeiro livro, Alasca, lembra o modelo de personagem criado no termo “manic pixie dream girl”, a garota superficial do imaginário e projeções do protagonista masculino, problemática essa que não torna determinante uma vez que Alasca é protagonista feminina e não uma coadjuvante sem desenvolvimento; temperamental, solitária, intensa, apaixonada e protetora, essa era Alasca. E quando somos apresentados a trupe que se forma com Alasca, Takumi, Chip “Martin” Coronel e o recém-chegado Miles é algo que remete aos “besteróisde comédias americanas, no entanto, nenhum desses traços definem sobre o que é Quem é Você Alasca? e em como esses personagens se tornam envolventes.

Nessa busca pela autodescoberta representada na perseguição de “um grande talvez” — o que traduz a primeira vez que Miles se permite experimentar sua juventude no internato — e no questionamento de Alasca de como sair do próprio labirinto — sendo oposto de Miles, ao ilustrar os sentimentos conflitantes da jovem misteriosa, seus cigarros e as flores de margarida —  Green criava um vínculo de conexão e apoio entre os personagens, ponto esse que se torna essencial com Takumi e o Coronel. Seja nos traços de romance ou na narrativa que incitava um tom de mistério e suspense ao se passar dentro de cento e trinta e seis dias — antes e depois de um evento trágico — para seu livro de estreia, Green mostrava um dinamismo e confiança ao contar uma história reconfortante, esperançosa com uma escrita honesta, o que chamou atenção por embalar vários elementos que compoēm narrativas teens, e ainda assim, ser um talento ímpar com o consagrado gênero.

Quem é Você, Alasca? (Looking for Alaska – EUA)
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Tradução: Edmundo Barreiros
Ano: 2014
Páginas: 272

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