- Contém SPOILERS. Leia aqui, críticas de todos os filmes da franquia REC e Quarentena.
Depois de um derivado extremamente descarado do original, Quarentena como várias outras franquias originadas de remakes, faz o certo e adota o caminho da originalidade, criando sua história própria dentro do universo da franquia primordial. É verdade que esse caminho, nem sempre trás resultados categóricos. Numa generalização genérica, da para dizer que a maioria não consegue, nem mesmo, se equivaler ao remake, mas isso é por conta de ideias mal construídas, ao menos eles tem ideias. Fato é, e especialmente no caso específico de Quarentena, todo acréscimo a mitologia parte de narrativas isoladas fora de termos importantes que o original pregou.
Isso é bastante satisfatório, primeiro por abraçar a lógica do universo do americano e não do original, tentando assumir a ele uma personalidade própria que não fosse uma derivação sem vida do espanhol, o que proporciona por exemplo, que as explicações buscadas não prejudiquem o filme em delinear comparativo com o material fonte, algo que a primeira fica impossibilitada por ser baseada em venda numa “versão nova” ao invés de um novo filme da franquia. Segundo que, mesmo que ocorra com Quarentena 2 em expandir e dar uma nova cara, origem e personalidade a seus conceitos, o foco não está somente nisso, ou pelo menos, sua narrativa não é construída para essas explicações, mas sim ao entorno delas. O que mais prende no filme é o fator situacional e a humanidade dos personagens em questão, na sobrevivência dessa situação e isso conquista independente da plausibilidade do que será as explicações.
Só não acho essa continuação boa, de fato, por não abraçar totalmente as pequenas apostas geográficas que belisca. O início do filme é fenomenal, e dá a impressão de que a narrativa inteira iria se passar no confinadíssimo espaço de um avião de pequeno porte, em isolamento aéreo. Sim, seria um típico suspense fácil, mas dentro dos contextos do universo, poderia sair algo tão interessante quanto são os primeiros 20 minutos do longa, presos nesse espaçamento extremamente desconfortável e que até então, estava criando situações bastante inventivas para o prolongamento da história. Quando o avião desembarca no terminal e o isolamento passa a ser feito por lá, a construção da tensão sobre a cenografia ainda é boa, mas não causa metade da angústia que é passada somente nos minutos iniciais onde nem acontece de fato, os movimentos climáticos.
É uma tensão bem mais baseada em iluminação, mas gosto de como essa transformação de ambiente também transforma o tom do filme em algo aproximado da ação. É uma ideia de transição originada da franquia espanhola, mas que surpreendente, antes dela, se livrou do elemento found footage, já que REC 3: Gênesis, seria feito um ano depois. Então méritos de John Pogue, que mesmo sem intenção, conseguiu prever o próximo movimento de evolução da franquia e o aplicou junto ao processo do segundo REC, num mesmo filme de Quarentena. E não para por aí, há uma construção honesta da feminilidade poderosa da protagonista, que se abraçasse um pouco mais a cafonisse no lado da ação poderia ser devidamente relevante. O filme opta por um arco narrativo mais voltado para uma maternização da sua figura perante a criança (viajando sozinha sem os pais?) no meio dos sobreviventes.
Não soa tão autêntico por falta de espelhamentos narrativos mais claros, ainda que o improviso que gere esse arco no meio da situação seja bastante plausível. O que é mais difícil de comprar é a questão do bioterrorismo imposta pela nova origem do vírus em seu paradeiro americano. O roteiro faz um malabarismo danado para tentar justificar essa canonização dentro da ideia de que o primeiro filme, por cópia, meio que assumia também o lado demoníaco da coisa, aquela ótima mistura de zumbis e demônios da franquia original, completamente bagunçada pela péssima refilmagem. Curto a tentativa, não tanto o resultado, e como fica para os finalmentes, acaba que o filme perde impacto na densidade climática que humanisticamente estava bem encaminhada.
Fico honestamente bem dividido com a escolha, mesmo que seja apenas uma escolha, ela não pode ser vista em isolado, porque é o centro comunicativo entre os focos dramáticos do filme, ou seja, inevitavelmente estraga. O que é uma pena, porque no geral é um filme bem mais corajoso que a média de continuações de remakes americanos pode propor, tem ideias muito proveitosas, além de ser um filme funcional na maior parte do tempo. Por pouco, não desmancha a relação conturbada dos EUA com a grandiosa franquia espanhola.
Quarentena 2 – O Terminal (Quarantine 2: Terminal | EUA, 2011)
Direção: John Pogue
Roteiro: John Pogue
Elenco: Mercedes Mason, Josh Cooke, Mattie Liptak, Ignacio Serricchio, Noree Victoria, Bre Blair, Lamar Stewart, George Back, Phillip DeVona
Duração: 86 minutos