Número de temporadas: 05
Número de episódios: 97
Período de exibição: 26 de março de 1989 a 05 de maio de 1993
Há continuação ou reboot?: Sim. Em 19 de setembro de 2022, uma série revival que serve de continuação da original, só que com novo elenco, começou a ir ao ar.
XXXXXXXXXX
Para todos os efeitos, Quantum Leap, ou, como foi transmitida originalmente no Brasil, Contratempos, é a herdeira espiritual da clássica série sessentista Túnel do Tempo. As duas obras tratam de pessoas “perdidas no tempo”, com a diferença que, em Contratempos, só há um cientista nessa condição, sem conseguir voltar para seu presente (de certa forma equalizado por ele ser acompanhado de um holograma de uma pessoa viva em seu tempo que só ele é capaz de ver), e esse cientista tem uma memória de “queijo suíço” como ele mesmo diz, em razão do primeiro e apressado salto no tempo que, nas duas séries, se dá para evitar que o projeto seja cancelado pelo governo por falta de resultados. Além disso, diferente de Túnel do Tempo, em que os cientistas pulavam fisicamente de época em época, na série de 89 o cientista troca de lugar com alguém do tempo que visita, com as pessoas ao seu redor vendo a pessoa temporalmente correta e os espectadores vendo o personagem que fez a “transição quântica”, valendo dizer que a viagem no tempo só é possível para algum momento a partir do nascimento do viajante.
Essa introdução longa, que já deixa – espero – bem claro a premissa da série, parece bem mais interessante do que sua execução no episódio duplo inicial, lembrando que minha análise se restringe ao piloto, não à série como um todo ou mesmo a primeira temporada. Meu ponto é que, enquanto Irwin Allen soube com maestria contar uma história bem concatenada no piloto de Túnel do Tempo, o mesmo nem de longe acontece com o roteiro do criador de Quantum Leap, Donald P. Bellisario, com a direção de David Hemmings mostrando-se, em alguns aspectos, corrida demais e, em outros, frustrantemente lerdas.
A velocidade se dá praticamente nos primeiros cinco minutos em que vemos o mulherengo almirante Albert Calavicci (Dean Stockwell) pilotando um carro futurista e parando para dar carona para uma bela mulher com um veículo quebrado e que usa brincos e saltos ridiculamente piscantes como a grande ideia da produção para se martelar que o presente da série se passa em algum futuro próximo. Em cortes sucessivos, mas bruscos e quase amadores, vemos um brilho no céu, Calavici fazendo uma ligação e um homem servindo de cobaia do projeto Contratempos. Depois desse começo desnecessariamente veloz e confuso, a lerdeza que mencionei começa e não acaba mais. Vemos a cobaia, um homem que depois aprendemos que é o Dr. Samuel “Sam” Beckett (Scott Bakula), criador da tecnologia de viagem no tempo, acordando no corpo do Capitão Thomas “Tom” Stratton (Layne Beamer) e ao lado de sua bela e muito grávida esposa Peggy (Jennifer Runyon) em uma casa próxima de uma base militar americana em 1956, durante os testes do avião X-2. Sem memória do que aconteceu – inicialmente, Sam só lembra de seu próprio nome – a história vai lentamente seguindo em frente com a ajuda do holograma de Calavici que aparece nas horas menos apropriadas para ajudar o protagonista a voltar a seu tempo ou a pelo menos “pular de corpos”, algo que só é possível quando Sam corrige “um erro” no passado que um computador chamado Ziggy que, nesse começo, é apenas mencionado, indica para ele.
Mesmo considerando a premissa de ficção científica, em que praticamente tudo vale, a construção da história da série nesse começo é no mínimo desajeitada, cheia de conveniências narrativas de revirar o olho e um roteiro que simplesmente não se decide se é um drama, uma comédia ou mesmo uma dramédia, o que faz com que Bakula não tenha consistência alguma em seu trabalho dramático, com Stockwell sendo muito mais irritante do que realmente interessante. A impressão que dá é que o roteiro do piloto não estava pronto e Bellisario foi inventando moda na medida em que as filmagens aconteciam, pois nada é realmente fluindo, mais parecendo um monte de ideias desordenadas despejadas na forma de dois episódios cansativos e, muito sinceramente, completamente desinteressantes.
É bem provável que a série melhore na medida em que progride – afinal, ela durou por cinco temporadas, com um revival tendo começado na semana de publicação da presente crítica -, mas esse início é desafiador para o espectador que espera uma narrativa com alguma lógica interna e que seja tonalmente consistente. Quantum Leap até pode ser uma série “descendente” de Túnel do Tempo, mas é uma pena constatar que ela não aprendeu quase nada como seu parente mais maduro e veterano.
Quantum Leap (Contratempos) – 1X01 e 1X02: Genesis (EUA – 26 de março de 1989)
Criação: Donald P. Bellisario
Direção: David Hemmings
Roteiro: Donald P. Bellisario
Elenco: Scott Bakula, Dean Stockwell, Layne Beamer, Tim Martin, Jennifer Runyon
Duração: 48 min. cada episódio