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Crítica | Procura-se um Amor que Goste de Cachorros

Uma comédia romântica sobre a busca de relacionamentos na internet.

por Leonardo Campos
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Para algumas pessoas, o surgimento da internet e as supostas facilidades para relacionamentos por meio de aplicativos se tornou um caminho favorável, haja vista o smartphone e sua tela como escudos que separam os indivíduos do flerte físico, algo complicado para quem tem dificuldade de sociabilizar no esquema da paquera. São perfis criados, como um produto numa vitrine, para que olhemos e contemplemos os “personagens” cuidadosamente elaborados, de características bem específicas, delineadas para o par ler, avaliar e tentar marcar algo. Quem vive na perspectiva do “encalhe”, o ciberespaço se tornou um refúgio. Facilita as coisas, filtra processos e resolve coisas que seriam trabalhadas ao longo de semanas de conversas. Estas questões se encontram, de maneira divertida, na comédia romântica Procura-se Um Amor Que Goste de Cachorros, lançada em 2005, narrativa que reflete ao longo de seus 98 minutos, o relacionamento como um projeto na vida de seus protagonistas.

Dirigida por Gary David Goldberg, também responsável pela elaboração do roteiro, texto baseado no livro homônimo de Claire Cook, a trama nos apresenta dois desajustados na dança do amor na contemporaneidade. Temos Sarah (Diane Lane), uma professora da educação infantil, mulher divorciada que chegou aos 40 anos e não tem um novo relacionamento. O seu tempo é preenchido com trabalho e situações diletantes em duas vias, isto é, ou está com as amigas e os familiares, ou se encontra sozinha, a ler e assistir algo descomprometido na televisão. As coisas tendem a mudar quando a sua irmã Carol (Elizabeth Perkins) acredita que um perfil na internet, num site de namoros, pode transformar o cotidiano da “solteirona”. Não só a irmã, mas praticamente todos que gravitam em torno da personagem acreditam que ela é um desperdício ao se manter sozinha, alguém que precisa alterar o status social e se envolver com um homem novamente. Este âmbito familiar, semelhante ao que podemos ver numa das ilustrações das Quatro Liberdades, de Norman Rockwell, fará de tudo para assegurar mudança da personagem em sua fixidez.

É quando entra a internet na história, culminando em um painel de encontros bizarros para Sarah. Em seu perfil, a irmã delineia que ela é voluptuosa, sensual, atraente e divertida, interessada em alguém que goste de cachorros. A conexão não parece, até então, um caminho tão favorável quanto o imaginado, até surgir Jake (John Cusack) na história, um relutante em relação ao espaço virtual, artista recluso, pacato, homem que passa constantemente por sessões do clássico Doutor Jivago como principal atividade de entretenimento, figura ficcional que adentra, após alguma insistência de outros, nas malhas do ciberespaço, tendo em vista encontrar o par ideal. Assim, os algoritmos permitem o encontro entre a professora de educação infantil e o design de barcos, uma dupla que afirma não estar interessada em se relacionar, mas que ao longo do desenvolvimento da narrativa, deixa escancarado para os espectadores a química inegável que estabeleceu desde o primeiro encontro. O amor, os encontros e a internet como lugar de novas dinâmicas sociais são tópicos temáticos apresentados com humor, numa proposta simpática, mas demasiadamente rasa.

Lançada em 2005, a comédia romântica em questão é um dos filmes que demonstra os primeiros passos para a exaustão do subgênero hollywoodiano, um tipo de produção que era garantia de fartas bilheterias, algo que começou a se esgotar vertiginosamente. Na época, todo ano, aguardávamos ansiosos a nova comédia cheia de romance e amor, geralmente com a Julia Roberts ou a Sandra Bullock, talvez a Meg Ryan. Depois, foi a vez de Kate Hudson e Jennifer Aniston. Com o tempo, o formato perdeu o fôlego e hoje até possui temáticas subversivas e interessantes, mas sem o mesmo vigor de antes. Procura-se Um Amor Que Goste de Cachorros é parte deste pacote de desaparecimento: engraçadinho, repleto de clichês que funcionam, focado no público adulto, em especial, os divorciados em busca de identificação, numa trama que dialoga com as trapalhadas da internet, espaço de vantagens e desvantagens para o amor. O material, no entanto, é pouco aproveitado, rendendo numa produção passageira que poderia garantir um filme bem mais memorável se fosse melhor trabalhada.

Procura-se um Amor que Goste de Cachorros (Must Love Dogs – EUA, 2005)
Direção: Gary David Goldberg
Roteiro: Gary David Goldberg
Elenco: Diane Lane, John Cusack, Elizabeth Perkins, Christopher Plummer, Dermot Mulroney, Stockard Channing, Ali Hillis, Brad William Henke, Julie Gonzalo, Glenn Howerton
Duração: 98 min.

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