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Crítica | Primo Cruzado (Perfect Strangers) – 1X01: Knock Knock, Who’s There?

Um "mineiro" perdido em Chicago.

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 8
Número de episódios: 150
Período de exibição: 25 de março de 1986 a 06 de agosto de 1993
Há continuação ou reboot?: Não, mas a série gerou o spin-off Family Matters que foi ao ar entre 22 de setembro de 1989 e 09 de maio de 1997, com nove temporadas e 215 episódios.

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Ninguém, no Brasil, conhece Perfect Strangers ou o co-protagonista dessa sitcom oitentista Balki Bartokomous, da ilha fictícia de Mypos, no Mar Mediterrâneo, vivido por Bronson Pinchot. Mas todo mundo que viveu a época em que a série aportou por aqui logo no ano seguinte de sua estreia nos EUA que a levaria a uma mais do que respeitável carreira composta por oito temporadas e 150 episódios, conhece Primo Cruzado e o mineiro do interior Zeca Taylor vivido pelo mesmo Pinchot, mas com a voz carregada de sotaque regional do dublador Newton da Matta. São “dois” personagens de origens, vozes e sotaques diferentes com o mesmo rosto servindo exatamente ao mesmo propósito narrativo, que é criar o choque entre o americano citadino que acabou de se mudar para Chicago Larry Appleton (Mark Linn-Baker) e seu primo mais do que distante que ele nunca ouvira falar e que não conhece nada da vida “na civilização” que chega do nada ao seu pequeno apartamento de solteiro.

Tentei, mas não consegui me lembrar de alterações tão grandes e ao mesmo tempo tão perfeitas entre uma obra original americana e sua versão “tropicalizada” por aqui. Seria perfeitamente possível manter a origem myposiana de Zeca/Balki na versão em português, pois Mypos não existe e o choque cultural continuaria valendo, mas, ao trazer para algo mais relacionável – ainda que, talvez, somente para quem vive na Região Sudeste do Brasil -, a versão nacional ganhou conexão e reconhecimento mais fáceis por aqui. Eu apenas não saberia dizer se os mineiros, hoje, se sentiriam ofendidos em serem retratados como “jecas” carregados de sotaque e completamente deslumbrados por qualquer coisa na cidade grande, mas o fato é que as alterações feitas no personagem de Pinchot marcaram sua época.

O piloto da série é um dos raros “episódios de origem” de sitcoms da época, ou seja, ele arma o começo da história e não apresenta os fatos já consolidados, com a abertura mostrando Larry e Zeca saindo de casa pela primeira vez, o primeiro de uma família numerosa no meio-oeste americano e o segundo de uma região idílica e uma família de pastores de ovelhas, em direção a Chicago, com Zeca batendo na porta do pequeno apartamento de Larry, apresentando-se como parente distante e basicamente dizendo que chegou para ficar, o que leva Larry ao desespero. Alguns minutos de conversa, porém, com direito a Zeca ficar desapontado e Larry sentir-se culpado, tudo se resolve e os dois passam a coabitar, com Zeca infernizando Larry, no dia seguinte, em seu trabalho como vendedor de uma loja de objetos usados sob o olhar rígido e ganancioso do Senhor Twinkacetti (Ernie Sabella).

O tom é estabelecido logo de início e tudo, absolutamente tudo no piloto é baseado ou no confronto entre os modos de vida bem diferentes dos dois primos ou na inocência de Zeca que, claro, é deixado sozinho na loja e, quando Larry volta, ele vendera produtos por uma fração do preço da etiqueta, iniciando uma reação em cadeia que os deixa reféns de Twinkacetti. Além disso, a sitcom é levemente na linha do pastelão, com seu humor dependendo da “ausência” de reação de Pinchot, que está em linha com a incompreensão da vida na cidade por parte de seu memorável personagem. E, como todo pastelão, a fisicalidade e a repetição são elementos importantes que, porém, são muito salientes e quase artificiais nesse começo, ainda que seja realmente hilário ver Zeca oferecer-se como escravo (outra coisa que não sei se seria aceitável hoje em dia…) para Susan (Lise Cutter), a bela vizinha de Larry, além de breves momentos realmente inspirados do roteiro como quando Zeca diz que, por estar endividado, agora sim pode considerar-se americano, uma verdade que se mantém até hoje e não mais só nos EUA.

O começo de Primo Cruzado mostra imediatamente o potencial do humor pastelão “de contraste” da série, o que é, em razão da repetição, ao mesmo tempo confortável e pouco desafiador para o espectador, ainda que o subtexto de crítica social esteja presente em muitos momentos. No entanto, às vezes um pouco de conforto é tudo que precisamos no audiovisual e, se ele vier ainda com uma saudável dose de risadas, tanto melhor, não é mesmo?

Primo Cruzado – 1X01: Knock Knock, Who’s There? (Perfect Strangers – EUA, 25 de março de 1986)
Criação:
Dale McRaven
Direção: Joel Zwick
Roteiro: Dale McRaven
Elenco original: Bronson Pinchot, Mark Linn-Baker, Ernie Sabella, Lise Cutter
Elenco (vozes no Brasil): Newton da Matta, Eduardo Borgerth, Amaury Costa, Adriana Torres
Duração: 25 min. (cada episódio)

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