- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Caso alguém tenha ficado com um ponto de interrogação na cabeça, além de ter sofrido de preguiça de pesquisar, Vidarr é o deus nórdico da vingança que é mencionado pelo chefe viking para seu filho Eldar quando ambos estão escalando a face de uma escarpa para usar dois Argentavis como transporte tático para darem um fim no trio que é alvo deles, perfeitamente batizando o episódio de retorno à “programação normal” de Primal, depois do ousado, estranho, mas espetacular The Primal Theory. Assim como The Red Mist foi quase que integralmente dedicado a Spear e Fang dizimando a aldeia dos vikings, Vidarr é quase que integralmente dedicado à vingança, ainda que o fato de pai e filho não conseguirem ser muito mais do que incômodos aos protagonistas e Mira me incomode um pouco.
Mesmo que, lá para a frente, o chefe agora completamente sem família retorne de alguma maneira vitaminado pela figura demoníaca que ele vê na fogueira e cause verdadeiros estragos, creio que teria sido muito satisfatório ver algo mais grave acontecendo com pelo menos um dos personagens fixos de maneira a equilibrar um pouco o jogo. Sim, a gravidez de Fang de seu parceiro falecido Red é uma excelente notícia e tudo ao que gira nesse redor é muito bem conduzido, especialmente a alegria esfuziante de Spear que, porém, hilariamente, não pode tocar no ninho. E é claro que os ovos ali, desprotegidos, contribui para aumentar um pouco a tensão e esquentar as apostas sobre o que o chefe e Eldar conseguirão causar a eles.
Mas a verdade é que, mesmo com todas as razoavelmente exageradas piruetas aéreas à la Avatar, o que, confesso, não sou muito fã, com direito a todo mundo, em algum momento, caindo lá de cima (mas somente o pobre Eldar morrendo…), nada acontece a Spear, Fang, Mira ou aos ovos azulados. É – e não me xinguem muito nos comentários – como um verdadeiro episódio filler que não só não traz nada de novo como não afeta a história para além dos ovos de Fang e a promessa do tal demônio lá aparecer de alguma maneira mais relevante do que uma visão na fogueira. Sei que talvez o mesmo possa ser dito do episódio anterior, mas ele primeiro é inusitado e, segundo, traz paralelos muito interessante para a história principal. Seja como for, Vidarr foi como assistir uma particularmente incompetente dupla de vingadores lidando com uma particularmente imortal trinca de heróis sendo que, temos que lembrar, dois deles foram responsáveis pela morte de mulheres, idosos e crianças de um vilarejo. Fica aquela impressão de falta de consequências imediatas, mesmo que elas venham em algum momento lá para a frente, pois o momento era agora, de alguma forma contundente (mas não necessariamente a morte de alguém).
Obviamente que tudo continua esplendoroso na série. A conexão quase que completamente silenciosa entre pai e filho, as feições de horror quando o pai vê Eldar morto, os momentos meigos entre Spear e Fang em razão dos ovos e tudo mais funcionam maravilhosamente bem, assim como a trilha sonora e, claro, toda a arquitetura sonora que dá real vida ao que vemos na telinha. Esse virtuosismo técnico com arte em 2D é admirável, mas, claro, tornou-se o mínimo que esperamos da série. Para ela realmente despontar, são necessários outros ingredientes que Genndy Tartakovsky sempre soube muito bem usar, com Vidarr sendo, para mim, apenas um exemplo em que a mistura é menos do que ela tinha o potencial de ser, ainda que continue mais do que apetitosa. Agora é esperar para ver a prole de Fang e o provável retorno do chefe com mais sangue nos olhos ainda e uma potencial pitada sobrenatural.
Primal – 2X06: Vidarr (EUA – 19 de agosto de 2022)
Criação: Genndy Tartakovsky
Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Genndy Tartakovsky, Darrick Bachman
Elenco: Aaron LaPlante, Laëtitia Eïdo, Fred Tatasciore
Duração: 23 min.
