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Crítica | Primal – 1X10: Slave of the Scorpion

por Ritter Fan
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Genndy Tartakovsky encerrou o que todo mundo achava que seria uma temporada curtíssima de apenas cinco episódios com um cliffhanger que deixava em aberto o destino de Fang, depois da luta contra os hominídeos que transformavam os outros em versões pré-históricas do Hulk. Foi um “final” simples e bem executado, exatamente como o espírito da série pedida. Slave of the Scorpion, o efetivo encerramento de temporada, por sua vez, muda o jogo completamente. A pergunta que fica é: muda para melhor ou para pior?

Como já cansei de mencionar, sempre que Tartakovsky descamba para o sobrenatural em seu mundo primordial, os episódios tendem a cair de qualidade, pois tudo fica muito aberto e ele deixa de ter os freios auto impostos pela premissa original. Mas é uma escolha do autor, claro, de certa forma deixando claro que sua criação não se passa exatamente no passado da Terra, mas sim em algum outro lugar em que tudo vale e nada está descartado. Esse parece ser o jogo e é pegar ou largar.

O 10º episódio da temporada inaugural não apela para o sobrenatural, mas muda todo o panorama do que sabíamos sobre esse universo ao introduzir Mira (Laetitia Eido-Mollon), uma mulher em tese pré-histórica, só que infinitamente mais evoluída que Spear. Não só ela é alta e esguia, como fala uma língua complexa, cozinha a comida e sabe usar ferramentas para muito além da tosca lança do protagonista. Para todos os efeitos, ela é uma homo sapiens sapiens, ainda que esse tipo de classificação não faça sentido mais no cenário de Tartakovsky.

Aparecendo na vida de Spear e Fang de surpresa, em fuga de um lugar distante pelo mar e perseguida por um liopleurodonte, Mira logo recebe a proteção de Spear e o “ciúmes” de Fang em uma relação hesitantemente cômica no início, mas logo aquecendo-se com a situação de escravidão da mulher e sua inteligência. É muito interessante ver Spear sentindo admiração e extrema curiosidade pela jovem que se mostra no início dependente dele, mas, depois, claramente capaz de lidar sozinha com as ameaças ao seu redor. Em breves 23 minutos, a direção e roteiro de David Krentz consegue criar uma conexão com Mira que parece que ela já faz parte da dupla – agora trinca – há muito tempo, mesmo considerando as diferenças físicas entre ela e Spear que muito claramente demonstram que são duas espécies diferentes de humanos.

A revelação do passado de Mira, com o uso de desenhos na areia e não flashbacks, uma escolha perfeita, é o que realmente amplia o universo da série. Seu povo foi aparentemente escravizado pelo Escorpião do título e da tatuagem atrás de sua cabeça e levado via navio para uma terra distante. Isso estabelece a existência não apenas de um povo evoluído, mas sim de dois, a não ser que sejam duas tribos do mesmo povo. Seja como for, Spear, mais ainda do que antes, parece ser o único sobrevivente de sua raça depois que sua esposa e filhos foram mortos e será interessante ver como Tartakovsky lidará com isso.

Afinal, pela primeira vez na série, o episódio não é autocontido. Diferente do que agora é o episódio de metade de temporada, que apenas deixava o destino de Fang incerto, Slave of the Scorpion nada revela sobre os sequestradores de Mira e deixa até mesmo a dúvida de como Spear conseguirá ir atrás deles. E, chegando ao seu destino, como a dupla será capaz de reverter o quadro e eliminar o grande vilão e se isso significará que eles, agora, não mais ficarão sozinhos, aí sim alterando todo o conceito da série. Muitas perguntas ficaram no ar, o que é sempre algo bom para amplificar o interesse pela vindoura 2ª temporada, mas, aqui, o episódio realmente parece ter o poder de mudar absolutamente tudo se assim seu criador quiser.

O que me deixou incomodado em Slave of the Scorpion, porém, foi a velocidade com que tudo aconteceu. Por um lado, há sem dúvida que se aplaudir a capacidade da equipe de produção em inserir tanta coisa de maneira tão eficiente em tão poucos minutos. Por outro, penso como seria interessante se esse episódio fosse em duas partes, com a primeira sendo usada para dar mais tempo para Spear, Fang e Mira tornarem-se inseparáveis, o que, por sua vez, faria de seu sequestro ao final algo ainda mais arrasador na vida dos dois amigos. Tenho para mim que a riqueza do que foi espremido para caber aqui poderia ter se beneficiado de mais tempo e mais desenvolvimento. E não digo aqui nenhum tipo de envolvimento amoroso entre Spear e Mira. Não era necessário chegar a esse ponto, mas diria que estamos diante de um caso em que um ritmo mais vagaroso teria beneficiado ainda mais esse diferente episódio da série.

Se o futuro que aguarda Spear e Fang será melhor ou pior do que foi apresentado até agora, realmente não sei dizer. O que tenho certeza é que Genndy Tartakovsky conseguiu, mesmo correndo demais, criar um final muito interessante capaz de deixar o espectador curiosíssimo pelo que acontecerá agora, encerrando a temporada com um belo episódio que tem o potencial de revirar completamente o mundo até agora apresentado. Resta torcer para que a próxima temporada não demore muito.

Primal – 1X10: Slave of the Scorpion (EUA – 1º de novembro de 2020)
Criação: Genndy Tartakovsky
Direção: David Krentz
Roteiro: David Krentz (baseado em história de Darrick Bachman, David Krentz, Bryan Andrews e Genndy Tartakovsky)
Elenco: Aaron LaPlante, Laetitia Eido-Mollon
Duração: 23 min.

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