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Crítica | Pretty Little Liars: Curso de Verão – 2ª Temporada

Regra é não ser slasher.

por Felipe Oliveira
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Há quem diga que, se olharmos bem, Pretty Little Liars sempre teve uma atmosfera slasher pedindo para ser trabalhada em sua trama. Chegando ao quarto spin-off, a oportunidade parecia perfeita para adentrar a subcategoria prestigiado por fãs há décadas, e por mais que Kevin Williamson tenha trazido um argumento para satirizar uma categoria desgastada em seu próprio molde, isso serviu como base para o que quer que viesse depois passasse a prestar uma espécie de homenagem mergulhada numa caricatura. O exercício vem quase como uma regra de que o slasher precisa de metalinguagem e referências para funcionar, mas já dizia a versão televisiva de Pânico: não dá para levar o slasher para uma série, pelo fato do formato precisar que as coisas sejam desenvolvidas lentamente, enquanto num filme, a estrutura é mais rápida. Porém, no final, tudo depende que uma boa história seja contada.

Se a série Chucky tem o legado do seu personagem principal para dar continuidade, Pretty Little Liars tem a figura misteriosa de “A” para personificar o clássico vilão mascarado presente no slasher, mas acima disso, as tramas complexas que envolvem o leque de protagonistas. Soa bastante promissor imaginar a série mãe se assumindo com o subgênero, mas quando se tem a oportunidade é Roberto Aguirre-Sacasa escrevendo uma história pensando o que o Twitter diria sobre ela. Chase scenes com parkour, uma super grávida lutando contra um assassino com ares de Michael Myers foram elementos extintos na segunda temporada do reboot, que em comparação ao seu ano de estreia, é uma versão mais orgânica, em um nível nunca visto para as Maldosas. Arcos dramáticos, escolhas duvidosas, problemáticas e estúpidas para deixar cinco adolescentes no mínimo inspiradas, são substituídas pelo que parece ser moda: jovens desconstruídas para ter o momento de lacração a ponto do elenco interpretar uma caricatura de seus respectivos papéis.

Tal como Pânico da MTV e a série Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Curso de Verão é o subgênero em sua forma mais imaculada, onde todas características que moldaram o subgênero são usadas apenas como uma vitrine, onde a trama pode ser sobre qualquer coisa, menos slasher. Se antes Aguirre-Sacasa e  Lindsay Cahloon Bring aproveitaram o cenário dos requels para introduzir as características do subgênero tendo como base os títulos clássicos, aqui, falta inspiração. A ideia era funcionar como um filme-sequência, onde o senso de urgência e perigo parece maior para as final girls; porém, para a dupla de criadores, ser slasher se resume em fazer referências. Como se não bastasse a cinéfila de Twitter, Tabby, fazendo citações recorrentes a filmes e personagens da cultura pop – como se isso servisse como lógica para contextualização, ou pior, metalinguagem – agora trouxeram um affair também cinéfilo e fã de filmes de terror para dar match. Enquanto Pânico 5 apresentou os sobrinhos de Randy – sendo Mindy um eco no mínimo aceitável do legado – em PLL acharam que seria muito empolgante ter duas figuras sem personalidade fazendo citações. E a coisa é tão cafona que falam de Ari Aster e A24 como se fossem nomes obrigatórios do terror ao mesmo tempo que acenam para George Romero – já dá para imaginar o nome do filho: Ari Aster Romero Jr – e insistem em linhas repetitivas do suposto slasher que está sendo feito.

O que Williamson escreveu em 1996 foi uma sátira que revolucionou o subgênero como era conhecido, mas cá Bring e Sacasa entenderam isso como numa caricata metalinguagem expositiva, a ponto do texto dizer para o telespectador que o grupo de atrizes estão apenas performando seus papéis de sobreviventes – não sendo pouco a repetição do texto em reafirmar o que está sendo feito, até um dos cartazes de divulgação foi usado em um dos arcos da temporada envolvendo o mistério maior, servindo no final como uma autorreferência ao que desenvolveram. Isso é metalinguagem? É é incrível como nenhuma subtrama funciona com naturalidade, deixando a impressão de que escreveram um amontoado de situações exageradas em que o leque de personagens principais vão se envolvendo; com a ausência de autenticidade fica evidente nos detalhes: decupagem, transição de cenas, cenários, fotografia, diálogos e atuação. Se no ano de estreia ao menos acrescentaram conflitos para equilibrar com os elementos slasher, aqui substituíram isso a propostas sem sentido. 

É o que dá escrever personagens inspiradas na métrica do Twitter em vez de simplesmente manter o mesmo clichê adolescente de sempre. O pior é que há uma noção de que ao traçar uma linha politicamente correta a série está humanizando esse quinteto que, acima de tudo, estão se apoiando. Mas não dá, é tudo muito plástico. A ideia é dizer que está consciente de pautas importantes, de que há discussões e representações sendo feitas, contudo, a base da artificialidade. O que tornou a série mãe uma atração mesmo com as controvérsias – que o Twitter não está preparado – foi a sua fórmula em função do mistério e mentirinhas que dava título à série. Mas aqui o título é só título enquanto cinco garotas fazem picuinha, colocam máscaras de monstros e assustam outros trinta adolescentes numa festa cristã com tema de “traumas dos não-convertidos” com direito a energético e refrigerante. 

Enquanto um terceiro ano temático com um episódio musical é prometido por Bring e Sacasa, o slasher que se baseou em O Massacre da Serra Elétrica e Halloween na primeira temporada ficou em dívida em Curso de Verão. Cada capítulo fez – claro – uma referência a um filme de terror, à medida que a vilã da vez desafiava as malandrinhas para um jogo de sobrevivência – seguindo o cartaz inspirado em Midsommar porque Aster inventou o folk horror. Se Mouse pode ter o título da mais desviada do grupo como uma incel que faz ponte para Blood Rose, o que dizer de Faran depois de segurar uma viga nos ombros por duas horas? Mas uma coisa Summer School revolucionou: já que demorou tanto para maquiar o visual mais sem personalidade de um vilão do slasher, na revelação, o assassino diz seu nome, mas não tira a máscara.

Pretty Little Liars: 2ª Temporada – Curso de Verão (Pretty Little Liars: Summer School – EUA, 2024)
Criação: Roberto Aguirre-Sacasa, Lindsay Cahloon Bring
Roteiro: Roberto Aguirre-Sacasa, Lindsay Cahloon Bring, Sarah Saedi, Michael Grassi, Danielle Iman, Katie Avery, Delondra Mesa, Jenina Kibuka
Direção: Lisa Soper, Maggie Riley, Alex Pillai, Roxanne Benjamin, Rob Seidenglanz
Elenco: Bailee Madison, Chandler Kinney, Maia Reficco, Zaria, Malia Pyles, Mallory Bechtel, Alex Aiono, Jordan Gonzalez, Elias Kacavas, Brian Altemus, Sharon Leal, Derek Klena, Ava Capri, Antonio Cipriano, Noah Alexander Gerry
Duração: 47 a 53 min (8 episódios, cada).

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