Há spoilers. Confira as críticas para os outros episódios da série aqui.
Após uma sequência de bons episódios mostrando possíveis caminhos promissores para o desenvolvimento de Powerless, Emergency Punch-Up consegue a façanha inesperada de ser, através de um setting intimista e uma trama simplificada, o episódio mais bem sucedido da série até então.
A história inicia-se com uma premissa clássica para comédias situadas em ambiente de trabalho: o clássico retiro corporativo, sendo aqui organizado por Emily (Vanessa Hudgens), com direito a camisetas com frases de efeito em fonte Impact e promessas de karaokê, meio a um clima de relativa apreensão após o histórico de desastres que a atividade possui na empresa. Clima esse que não afeta Van (Alan Tudyk), que conta aqui com mais uma aparição fantástica, em terno de linho branco e estranhamente acertando diversas piadas e tiradas com precisão – o que rapidamente revela sua estratégia de ter contratado uma dupla de roteiristas para escreverem e passarem para ele falas divertidas via ponto eletrônico, o que garante diversos momentos hilários, A coisa toda parece encaminhar-se para mais um episódio ao menos regular. Porém, um ataque com gás, de autoria do supervilão Dr. Psycho (vilão da Mulher-Maravilha datando da Era de Ouro, tendo estreado em Wonder Woman v1 #005, de 1943) muda completamente o rumo das coisas. Ainda no prédio da Wayne Security enquanto aguardavam Dorothy (Dorothy Schock) – a simpática velhinha que, no início do episódio, dá um spoiler gratuito a Ron (Ron Funches), que assistia a um documentário sobre o próprio Psycho – nosso elenco principal se vê isolado em um lockdown de segurança do prédio quando o perigoso gás toma conta das ruas. Enquanto que a própria Dorothy aparentemente já estava a caminho do retiro. nem mesmo o helicóptero particular de Van Wayne é capaz de resgatar nossos heróis após o ataque do supervilão.
Com o elenco reduzido estritamente aos seus elementos principais temos então Van, Emily, Ron, Teddy (Danny Pudi), Wendy (Jennie Pierson) e Jackie (Christina Kirk) obrigados a se virar com o fato de terem perdido a viagem em troca do perrengue do isolamento no prédio e, em última instância, em uma situação de vida ou morte que envolve um “gás da verdade”. Trata-se de um ótimo uso do setting no universo DC, que garante a possibilidade de que haja uma situação de isolamento de tamanha seriedade e com a capacidade de se desdobrar em situação de real perigo, ao mesmo tempo em que é capaz de ser apresentada de forma leve e com a relativa despreocupação dos personagens soando crível, já que não deve ser a primeira vez em que passam por situação semelhante. Uma situação que só poderia acontecer nesse universo quadrinhesco – é disso que a série precisa e é isso o que o público provavelmente espera dela.
O isolamento é bastante proveitoso para nossos personagens principais. A dinâmica interna da equipe continua a se provar amadurecida, e é bem desenvolvida aqui em praticamente todas as interações entre os personagens, cujas vozes soam cada vez mais bem alinhadas para uma boa comédia. Ron e Danny discutindo o bromance, Wendy imaginando como seria levar Van para uma ilha deserta e Jackie assertiva a respeito de seu desejo de morrer sozinha são alguns dos momentos que fluem organicamente e divertem o espectador. Distanciando-se de suas caracterizações unidimensionais e desajeitadas dos primeiros episódios, os personagens parecem mais nuançados e humanizados aqui. Mesmo Emily e Wendy, atrasadas no processo de amadurecimento tanto pelos roteiros quanto pela caracterização, acabam apresentando-se aqui com bons momentos e com a esperada leveza.
Não bastassem os bons momentos de comédia, o episódio nos traz também nuances de aventura como nenhum outro episódio da série mostrara até então. A forma como a bebedeira leva ao vazamento do gás (há de se questionar a qualidade da blindagem do vidro do escritório da Wayne Security, ainda mais em se tratando da empresa que fabrica esse tipo de produto – embora este possa ser justamente o ponto), encaminhando para um isolamento dentro do isolamento, quando Wendy conduz a todos erroneamente para o laboratório, para enfim então a situação em que o time se vê forçado a se aventurar em meio ao gás para recuperar as máscaras, tudo se arma de forma convincente, ao contrário do que acontecia nas “cenas de ação super-heróicas” que tivemos anteriormente, que na maioria das vezes pareciam forçadas e fora de lugar. A direção de Linda Mendoza também não deixa a desejar e se mostra especialmente competente em comparação ao que a série vem apresentado.
Com isso, vemos a premissa da série sendo usada de forma efetiva, com nossa equipe de pessoas ordinárias tendo que se virar na situação extraordinária em que se encontram. De forma simples e direta, o “gás da verdade” não apenas coloca efetivamente a vida de nossos personagens em perigo pela primeira vez, como também proporciona algumas das melhores cenas de Emily, mostrando um pouco de seu lado menos conhecido, o que garante uma boa cena de humor e também adiciona para a personagem, que sai do episódio mais humanizada. Seu minuto de fúria convence e empolga ao nos mostrar um lado inusitado de sua personalidade sempre tão exageradamente positiva até o limiar da irritabilidade.
Emergency Punch-Up diverte com sucesso em 20 minutos que passam sem que o espectador perceba. O elenco parece ter pegado o passo e a dinâmica dos personagens soa mais forte do que nunca, com o roteiro do episódio servindo perfeitamente para lançar os holofotes sobre as estrelas da série, que são seu verdadeiro ponto forte.
Powerless – 1X09: Emergency Punch-Up — EUA, 20 de abril de 2017
Direção: Linda Mendoza
Roteiro: Lillian Yu
Elenco: Vanessa Hudgens, Danny Pudi, Christina Kirk, Ron Funches, Alan Tudyk, Jennie Pierson, Sandra Purpuro, Ryan Alvarez, Brandon Plush, Dorothy Schock
Duração: 22 min.