Há spoilers. Confira as críticas para os outros episódios da série aqui.
A terceira semana de Powerless chega com a obviamente difícil missão de suceder um começo de série no mínimo cambaleante. Se por um lado o segundo episódio (Wayne Dream Team) entregou uma comédia competente, é de se imaginar que a série ainda sofra da primeira impressão negativa causada pela fraquíssima estréia (Wayne or Lose). Como já vem se tornado regra, Alan Tudyk continua a carregar por si grande parte desse fardo, nos propiciando novamente um Van Wayne divertido e, na medida do possível, envolvente. Sua centralidade na trama do episódio e a forma como ela o leva a trabalhar de perto com Emily (a ainda chatinha Vanessa Hudgens), ressaltando uma divertida dinâmica de opostos, acaba por beneficiar a ambos, protagonista e episódio, de forma bastante visível. Infelizmente, se o roteiro propicia bons momentos para Van e Emily, o mesmo não se pode dizer em relação a Teddy (Danny Pudi), que acaba jogado para escanteio. Jackie (Christina Kirk) e Ron (Ron Funches) protagonizam uma sub-trama própria, onde investigam a possibilidade de um colega de escritório, Alex (Matthew Atkinson) ser, na verdade, o Olimpiano, personagem classe Z, apresentado originalmente em DC Comics Presents #46, de 1982, por Nelson Bridwell e Alex Saviuk. Trata-se talvez da parte mais fraca do episódio, o que significa muito, já que é consideravelmente mais divertida do que o Piloto inteiro.
A trama principal, que por hora (felizmente) nada tem a ver com o patético Olimpiano, envolve inicialmente uma disputa entre Van e Emily a respeito da atribuição de crédito ao aumento expressivo nas vendas que a Wayne Security teve desde a chegada da moça. Obviamente, Van tenta puxar a sardinha para o seu lado e se usar dos feitos de Emily para conseguir moral com o pai, Van Senior (Corbin Bersen). Trata-se do clássico plot de problemas paternos em sitcoms, mas que é salvo do marasmo por Alan Tudyk, que entrega algumas das melhores linhas do roteiro em uma interpretação nonsense, cretina e amável, ao melhor estilo de Michael Scott, da versão americana de The Office, figura certamente presente na constituição dessa versão de Van Wayne.
Após uma pisada na bola colossal de Van, a Wayne Security perde um de seus contratos mais valiosos, ninguém menos a Ace Chemicals. Trata-se da empresa proprietária da usina onde ocorreu o acidente que criou o Coringa em diversas versões do personagem, além de cenários de criação de outras vilanias do multiverso DC (como por exemplo o Rastejante, na série animada do Bruce Timm) – fato que é aludido na invenção que a divisão de Emily prepara, que consiste em uma grade protetora para evitar possíveis mergulhos indesejados em misturas químicas. Após um fiasco de comunicação, pelo qual Van assume a responsabilidade, cabe agora a ele, motivado por Emily, correr atrás de um novo cliente, para ganhar de volta o orgulho perdido e quiçá algum respeito do pai.
É onde entra na história a cidade submersa de Atlantis, que recentemente sofreu um ataque bem às vésperas do Sinking Day, data comemorativa que homenageia a submersão da cidade de proporções continentais. Fechar negócio com os atlanteanos mais do que compensaria o fracasso com a Ace Chemicals, e Emily e Van se colocam na missão de negociar com os atlanteanos. Trata-se de um bom episódio para ambos personagens, que possuem vários momentos interessantes neste que é o primeiro episódio em que trabalham juntos por um motivo em comum.
O desenrolar da trama não é exatamente surpreendente, mas rende cenas genuinamente divertidas, o que é um ganho, tendo em vista que na estreia mesmo este nível mais básico de comédia encontrava-se ausente. O desenvolvimento dos personagens é orgânico e competente, mas fica sempre a vontade de ver mais de Jackie, Ron e mesmo Wendy (Jenny Pierson), e menos da cansativa Emily. Talvez seja antipatia pela atriz, talvez seja falta de boa atuação da parte dela, mas infelizmente ela continua a ser um ponto fraco para a série. Por outro lado, o episódio agrada ao utilizar-se bem do fato de se situar no universo DC, certamente de forma melhor do que nos dois episódios anteriores (o que não significa muita coisa, mas um ganho é um ganho) – várias das piadas envolvendo o setting único são bem desenvolvidas e entregues de maneira orgânica, como por exemplo o fato de Ron ser um imigrante atlanteano (que inclusive poderia ter sido mais explorado), o aceno à relação entre as famílias Wayne e Kane e todo o lidar com os costumes e cultura atlanteana. Além disso, a própria chatice de Emily é alvo de piadas por parte de Van, que não aguenta mais ouvir falar da loja de flores do pai da moça – mesmo que ele nunca deixe que ela conte sua história até o fim. Ou seja, pelo menos há alguma autoconsciência do tipo de reação que a personagem provoca, e isso é bom, na medida em que podem levá-la para lugares mais interessantes no futuro. Ou então pode ser simplesmente que eu seja tão chato e amargo quanto Van Wayne, vai saber…
A série continua a penar um pouco para encontrar seu tom, mas parece ter dado dois passos consecutivos em uma boa direção. O potencial da premissa é enorme (“Better Off Ted encontra The Office no universo DC? Quero para agora! ” – foi o que pensei na época, ignorando de forma otimista as notícias a respeito dos problemas de produção), mas claramente trata-se de uma série que tem tido dificuldades em estabelecer sua identidade. Este episódio, no entanto, ao contrário dos dois anteriores, me deixou com vontade de assistir ao próximo. Já é alguma coisa. Torçamos para que a coisa dê certo e esta série sobre a Wayne Security consiga nadar, ou, caso seja demais, pelo menos boiar.
Powerless – 1X03: Sinking Day — EUA, 16 de fevereiro de 2017
Direção: Jay Chandrasekhar
Roteiro: Paul Mather
Elenco: Vanessa Hudgens, Danny Pudi, Christina Kirk, Ron Funches, Alan Tudyk, Corbin Bernsen, Jennie Pierson, Matthew Atkinson, Bill A. Jones, Sandra Purpuro, Eric Nenninger, Laird Macintosh, Paul Hertel
Duração: 22 min.