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Crítica | Power Rangers (2017)

por Guilherme Coral
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Mighty Morphin Power Rangers certamente fez parte da infância e juventude de um geração inteira, seja o original ou No EspaçoZeoNinja, o seriado, inspirado nos tokusatsus japoneses dificilmente poderia ser evitado, passando nos principais canais com programação infantil da época. Estamos falando, porém, de uma das típicas obras que, se olharmos para trás, veremos a tragédia que era, não somente em efeitos, como em toda a construção narrativa. Dito isso, é inegável que Haim Saban soube muito bem aproveitar essa sua adaptação, que perdurou por diversos anos, gerando inúmeros action-figures, que, para nós, eram somente bonecos e outros produtos. Simplesmente não há como não reconhecer os guerreiros coloridos, mesmo aqueles que nasceram após sua “época de ouro”. Power Rangers, mais recente adaptação cinematográfica da série, vem para aproveitar esse fator, atualizando o programa para os dias atuais.

Elementos sci-fi são introduzidos na trama desde seu início, quando, em um prólogo, acompanhamos a morte dos últimos rangers na Terra, ainda na Era Cenozóica, tentando impedir Rita Repulsa (Elizabeth Banks) de completar seu plano, que envolve extrair um cristal místico do centro do planeta a fim de, com ele, dominar o universo. À beira da morte, o Ranger Vermelho, Zordon (Bryan Cranston), enterra os dispositivos de morfar, esperando que eles encontrem jovens determinados futuramente. Milhões de anos se passam e encontramos Jason (Dacre Montgomery), o astro de futebol americano de sua cidade, que cai na desgraça após cometer um crime. Na detenção de seu colégio, ele conhece o excêntrico Billy (RJ Cyler) e Kimberly (Naomi Scott). Com eles, Zack (Ludi Lin) e Trini (Becky G.), descobrem os dispositivos e, posteriormente, uma nave enterrada, onde se encontram o robô Alpha 5 ( Bill Hader) e uma representação holográfica de Zordon, que revela a eles seus papéis como Power Rangers e que devem impedir que Rita dê continuidade a seus planos colocados em prática há tantos anos.

De início já podemos ver como o roteiro se apoia muito no “destino” para justificar inúmeros pontos da trama – convenientemente todos os cinco jovens se encontravam no mesmo lugar, na mesma hora e se tornam os guerreiros coloridos ao mesmo tempo que Rita ressurge, mas até podemos perdoar tal fator, visto que é algo bastante comum em filmes de super-heróis. Isso, contudo, é apenas o começo dos problemas de Power Rangers, que, apesar do título, só realmente vemos os jovens com garra em ação nos minutos finais, tornando todo o resto uma lenta e torturante jornada envolta em dramas adolescentes que não nos convencem e que ainda oferecem algumas ideias bastante erradas quando se trata da personagem de Kimberly.

A obra até tenta introduzir seus personagens principais a fim de que nos aproximemos deles, mas eles permanecem como figuras tão rasas, sem qualquer desenvolvimento ao longo do filme, que verdadeiramente não conseguimos nos importar com qualquer um deles, algo visto claramente em um dos momentos do interminável segundo ato da narrativa. Se precisarmos elencar uma qualidade positiva em todo o longa-metragem, contudo, temos de dizer que a forma como a sexualidade de Jason é trabalhada poderia servir de exemplo para outros filmes de heróis – em momento algum temos certeza de sua homossexualidade, mas o roteiro nos dá a entender conforme avançamos na história. Infelizmente, tal fator é rodeado por cenas de treinamento enfadonhas, que basicamente consistem em Zordon dizendo que eles não irão conseguir derrotar Rita e momentos de bonding que forçam a conexão dos jovens tão bem quanto Esquadrão Suicida.

A direção de Dean Israelite não ajuda, visto que o diretor parece ser apaixonado por movimentos circulares de câmera, que saltam ao olhar e não contam com qualquer propósito dentro da narrativa, apenas confundindo o espectador, que deve se concentrar para verdadeiramente entender o que acontece. Esse problema já se faz presente nos primeiros minutos do filme, em uma perseguição de carro, que, apesar de capotar, parecia estar andando a trinta quilometros por hora. Nas sequências de luta, felizmente, Israelite não peca através de planos tremidos ou curtos demais, mas são tão poucas tais cenas que, de fato, não chegamos a ser cativados por nenhuma, especialmente considerando que não há uma sequer realmente memorável. Se você esperava ver os Rangers lutando de armadura, pode desistir, eles só aparecem assim em, no máximo, dez minutos de filme, pulando, posteriormente, para os zords.

Já nessa questão, os efeitos especiais da obra são o equivalente atual da adaptação cinematográfica de Lanterna Verde, algo extremamente espalhafatoso, que claramente é realizado por CGI, quebrando completamente nossa imersão de imediato. A confusão em tais sequências, contudo, é tamanha, que sequer entendemos o que são alguns dos robôs gigantes. A verdadeira tragédia, porém, está nas criaturas invocadas por Rita, especialmente uma de ouro, que chega a ser vergonhosa de tão artificial que é o efeito. De fato, a direção de arte poderia ter trabalhado com elementos visuais mais sóbrios a fim de mascarar os eventuais deslizes da computação gráfica – ela só acerta, realmente, no interior da nave de Zordon, que é muito mal explorada. O rosto gigante, por sua vez, parece ser um daqueles objetos pinart de captura de formas (que geralmente colocávamos o rosto ou as mãos). Mesmo a transformação em megazord soa como um gigante deus-ex machina, visto que não é explicado em momento algum do filme, soando conveniente demais para forçar a vitória dos guerreiros.

As tragédias do filme, infelizmente, não param por aí. As atuações do grupo de jovens são simplesmente tenebrosas, ora soando excessivamente dramáticas, ora repletas de clichés, refletindo a unilateralidade de suas personalidades. O mesmo pode ser dito de Rita, que é apenas a vilã que quer dominar o universo e nada mais, chegando ao ponto que até rir olhando para o alto ela faz, fornecendo um senso de ridículo gigantesco à obra. Mesmo Bryan Cranston não se destaca, por ter muito pouco com o que trabalhar, por mais que o prólogo introduza sua persona, o Zordon metalizado que conhecemos, que insiste em deslizar seu rosto de um lado para o outro de um painel, apesar de claramente estar no campo de visão de todos, se resume à sua falta de fé em relação aos novos Rangers.

A trilha não ajuda ao trabalhar com melodias nada memoráveis, a não ser um fan-service que dura cinco segundos, e ao  utilizar Stand by Me para forçar um momento dramático que, a tal ponto, já não conseguimos mais nos importar com qualquer um dos personagens. Para piorar, a inclusão da música de Kanye West soa completamente desconexa ao filme, a tal ponto que parece que estamos em um daqueles music-videos de canções criadas para filmes, que mostram cenas do longa-metragem.

Dito isso, Power Rangers continua sendo algo que deveria ter permanecido enterrado como apenas memória de nossas infâncias. Com péssimos efeitos visuais, personagens unilaterais representados da maneira mais dramática possível, um roteiro que se apoia em pontos convenientes demais e repleto da mais pura enrolação, essa adaptação cinematográfica se configura como uma verdadeira tragédia, soando como uma experiência interminável na sala do cinema, com 124 minutos muito dilatados, fazendo parecer como se estivéssemos assistindo o filme desde a Era Cenozóica. Mesmo os evidentes fan-services não conseguem salvar essa produção, que parece errar em tudo o que tenta fazer.

Power Rangers — EUA/ Canadá, 2017
Direção:
 Dean Israelite
Roteiro: John Gatins
Elenco: Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Ludi Lin, Becky G., Elizabeth Banks, Bryan Cranston, Bill Hader
Duração: 124 min.

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