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Crítica | Poster Boy (2004)

Saída do armário e tensões políticas num drama excepcional.

por Leonardo Campos
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A saída do armário é uma temática tratada com mais frequência no circuito de produção cultural contemporânea, mas em 2004, ocasião do lançamento do envolvente Poster Boy, a relação do público com discussões deste tipo era algo menos comum, pois filmes nesta linha eram exibidos em festivais ou geralmente ganhavam distribuição mais tímida no mercado de VHS e DVD. Os sinais de alguns avanços são trombetas da mudança catalisada por muita gente que há décadas se entregou ao processo de militância contra o preconceito. Essa luta, no entanto, ainda é uma batalha atual, constante e que diariamente nos mostra o quanto o mundo preciso mudar seu posicionamento diante do ódio gratuito, geralmente oriundo de discursos religiosos hipócritas ou de indivíduos com as suas questões heterossexuais fragilizadas pela falta de resolução dos seus desejos mais íntimos, não desenvolvidos na terapia e na vida.

Sob a direção de Zak Tucker, cineasta que comanda a narrativa de 104 minutos, tendo como base o roteiro escrito por Lecia Rosenthal e Ryan Shiraki, acompanhamos a jornada de Jack Kray (Michael Lerner), homem que se candidatou para a reeleição e que se encontra diante de um grande conflito familiar que pode mudar todo o jogo político que envolve a situação. Conservador e altamente radical, sem algum espaço para flexibilidades, o patriarca da família Kray depende do filho, Henry (Matt Newton) para o angariamento de votos das faixas etárias mais jovens, tendo em vista transformar a sua plataforma num espaço de concentração de poder para vencer as eleições com maior força e facilidade. A sua esposa, Eunice (Karen Allen) não concorda muito com a exposição do filho dentro destas demandas e a família começa a se incendiar simbolicamente, um problema para quem é parte de um projeto conservador estadunidense.

Para piorar, o filho demonstra seguir um caminho aparentemente inesperado por todos. Ao se apaixonar por Anthony (Jack Noseworthy), um ativista político com militância cotidiana, ele se declara homossexual e mina qualquer possibilidade de abafar os problemas familiares que até então atravessavam outra fase mais amena. Em casa, ao se declarar gay, o jovem deixa todos em pânico e transforma o interior da residência numa arena conflituosa, cheia de momentos irônicos, dramáticos e cômicos, mesclados pelo texto divertido, dirigido com alguma segurança por Zak Tucker. Para contar esta história sem grandes novidades, mas sempre interessante por sua estrutura dramática pretensa para a geração de polêmicas, o realizador contou com a direção de fotografia de Wolfgang Held, ágil e sempre movimentada, a acompanhar os dramas internos e externos dos personagens, guiados pela condução musical de Mark Garcia.

Integrante do circuito independente de cinema, Poster Boy é um filme de óbvia vinculação ao processo de produção com baixo orçamento. A questão, no entanto, não diminui a qualidade dramática da história que talvez precisasse de um pouco mais de ritmo nos diálogos e revisasse alguns desempenhos caricatos do elenco, em especial, o político interpretado por Michael Lerner, um pouco excessivo demais, como se estivesse numa espécie de paródia aos arquétipos da comédia italiana. As suas necessidades dramáticas, no entanto, refletem cabalmente os interesses conservadores de apoio ao livre mercado, a forte defesa das forças armadas, as restrições aos sindicatos e a busca por valores tradicionais, tais como a postura contrária ao aborto, aos gays e ao fim de programas sociais, além do apoio ferrenho ao ensino religioso na educação básica, estratégia para a execução de seus mecanismos de dominação e controle.

Ademais, Poster Boy é uma narrativa que trata com leveza, temas densos. Há personagens coadjuvantes que brilham e dão volume aos desempenhos centrais. Carisma também é outra vantagem da produção que conta com atuações sinceras e um encadeamento de fatos que evita uma abordagem histriônica para uma comédia dramática familiar que tinha tudo para descambar pelas malhas do dramalhão novelesco. Herbert Ross, cineasta responsável pelo filme, faleceu antes das filmagens iniciarem, outro diretor assumiu, mas logo depois abandonou o projeto e por fim, Zak Tucker tomou para si os créditos de realizador e deu segmento ao material que se transformou numa produção pouco conhecida, mas de fácil acesso para quem tem o mínimo de curiosidade em desvendar narrativas com temática homossexual e política que não estejam na superfície da disponibilidade dos serviços de streaming e afins.

Poster Boy (idem, EUA – 2004)Direção: Zak TuckerRoteiro: Ryan Shiraki, Lecia Rosenthal, Joshua Davis (não creditado)Elenco: Matt Newton, Karen Allen, Michael Lerner, Jack Noseworthy, Valerie Geffner, Ian Reed Kesler, Austin Lysy, Lorri Bagley, Neal Huff, Ebon Moss-BachrachDuração: 98 min

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