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Crítica | Poder Absoluto e DC All In Special (2024)

O caminho para o Universo Absoluto.

por Ritter Fan
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Apesar de, há muitos anos, eu ter perdido a paciência com os quadrinhos mainstream de super-heróis da Marvel e DC, deixando de acompanhar suas publicações mensais e só mesmo tendo curiosidade eventual por alguns encadernados, a chegada do Universo Absoluto da DC Comics, uma iniciativa semelhante ao Universo Ultimate da Marvel Comics lá de 2000 e que eu gostava muito no começo (e que voltou repaginado recentemente), levou-me a procurar as HQs que pelo menos em tese abriram o caminho para esse evento. Com base nisso, Poder Absoluto é uma saga que encerra a fase Dawn of DC e DC All In Special é o one-shot duplo que começa a fase DC All In e inaugura o tal novo universo que vendeu muitas revistas nos EUA nos últimos meses, sendo essas duas histórias criticadas separadamente aqui. Vamos lá?

Poder Absoluto

Sendo burro velho de quadrinhos, sei muito bem que ler somente as edições principais das “sagas” e “eventos”, ignorando todas as publicações que levam à eles e os respectivos tie-ins é receita para a frustração, já que é natural que muita coisa fique de fora. Mas existem os eventos que dependem demais da leitura dos penduricalhos e outros que não dependem tanto e fico feliz em afirmar que, mesmo que o resultado seja inevitavelmente um quadro incompleto, algo que simplesmente tinha que esperar dada a minha escolha, Mark Waid, no roteiro, maneja muito bem a narrativa, condensando informações e recapitulações de maneira razoavelmente natural, mesmo que espremido em um espaço relativamente pequeno de apenas quatro edições, ainda que de tamanhos avantajados. E isso considerando que ele consegue imprimir um ritmo alucinante à história que pode até cansar pelo frenesi, mas, no momento em que esse cansaço se torna sensível, tudo já acabou, mostrando que Waid teve um domínio excelente de uma infinidade de elementos convergentes e, claro, de super-heróis ocupando as páginas com funções importantes.

Mas do que se trata Poder Absoluto? Em poucas palavras, trata-se da “solução final” da despótica Amanda Waller para livrar-se de todos os super-heróis e super-vilões da Terra, primeiro despoderando-os completamente e, em seguida, aprisionando-os. Explicar como ela consegue isso simultaneamente é um pouco mais complicado, mas creio que basta dizer que se trata de algo que ela vem planejando já há algum tempo, arregimentando como peças principais a Rainha Brainiac e Salvaguarda, um super-androide do Batman criado pelo Batman de Zur-En-Arrh, além de outras subsidiárias como Sonhadora, Sargento Steel e, claro, um exército de super-Amazos para absorver os poderes de todo mundo. Some-se a isso, claro, a onipotência de um roteiro de quadrinhos, que é quase que a materialização da conveniência, criando situações impossíveis em cima de situações impossíveis que o leitor simplesmente precisa aceitar para não ter sua pressão arterial muito elevada.

O que realmente importa é, dentro de uma lógica beeeem elástica, o plano de Waller é interessante e é mais interessante ainda ver praticamente todos os heróis do panteão da DC apanharem feito boi ladrão, com duas cenas iniciais muito boas, a primeira em que vemos o Superman ser efetivamente baleado por ladrões comuns e, a segunda, em que o Homem Animal e sua filha, chegando de uma semana de desintoxicação da vida urbana acampando no meio do mato, sendo recebido por uma população revoltada com os super-heróis a ponto de Buddy Baker parar no hospital depois de ser brutalmente espancado. E essa revolta é explicada pelo dilúvio incessante de deepfakes que Waller manda para a internet em que vemos os super-heróis massacrando humanos na base do “porque sim” e com as pessoas simplesmente acreditando no que veem sem discutir, sem verificar e sem pensar, exatamente como acontece aqui em nosso mundinho real. Mas o problema é que esses forte início é logo esquecido na narrativa, com o Superman voltando muito facilmente apenas usando seu traje preto de contenção e a questão das fake news logo ficarem em segundo e terceiro plano com o ataque colossal dos minions de Waller a todos os supers.

Por outro lado, o que funciona muito bem é Waid deixar os heróis mais importantes um pouco de lado, em missões paralelas, sem efetivamente liderar o levante contra Waller, algo que é marcado logo no início com uma hilária discussão entre Batman, Superman, Senhor Incrível e outros sobre quem será o grande líder, somente para Asa Noturna subir no púlpito lá na Fortaleza da Solidão e, sem nem pedir a palavra, começar a organizar todo mundo em grupos e dando missões a cada um. E assim a coisa vai, já que a Liga da Justiça havia debandado há pouco tempo e apenas os Titãs continuaram juntos, o que justifica e explica Dick Grayson tomar o microfone para si e organizar a baderna de super-heróis derrotados tentando ver alguma luz no fim do túnel. E é lógico que essa luz vem, ainda que ela exija diversos sidequests que vão, aos poucos, virando o jogo, com direito a reviravoltas que são óbvias, mas mesmo assim boas e um sem-número de momentos super-heróicos bacanas, além de uma dose salutar de autorreferências jocosamente inesperadas, como quando o Flash precisa fechar um portal multiversal e dizem para ele que ele precisa fazer o que ele faz sempre, ou seja, alcançar seu objetivo ou morrer tentando.

A arte de Dan Mora é como o texto de Waid: corrido, mas perfeitamente inteligível. Não quero traçar comparações diretas dele como o saudoso George Pérez, mas devo dizer que Mora tem um senso de distribuição espacial de dezenas de personagens nas páginas que é invejável e que orgulharia Pérez, tenho certeza. Aliás, diria que sua arte é a que mais sofre pelo espaço confinado das quatro edições e tenho certeza de que, se a minissérie tivesse seis ou até mais edições, ele poderia se beneficiar de mais páginas inteiras e duplas para lidar com momentos de ação de maneira ainda mais espetacular.

Poder Absoluto é um evento veloz e furioso que funciona assim solto, apenas com a leitura das quatro edições centrais, mas que, tenho certeza, ganha mais consistência com a leitura pelo menos dos tie-ins. O que é um pouco frustrante é que os acontecimentos que vemos desenrolar na história não parecem estar intimamente conectados com o Universo Absoluto, com exceção do momento em que o universo principal da DC fica sem acesso ao multiverso, algo que é mencionado no one-shot que comento em seguida.

Poder Absoluto (Absolute Power – EUA, 2024)
Contendo: Absolute Power #1 a 4
Roteiro: Mark Waid
Arte: Dan Mora
Cores: Alejandro Sánchez
Letras: Ariana Maher
Editoria: Matthew Levine, Paul Kaminsky
Editora: DC Comics
Data original de publicação: setembro a dezembro de 2024
Páginas: 160

DC All In Special #1

O grande “tchan” desse one-shot de 64 páginas de Joshua Williamson e Scott Snyder é contar a mesma história duas vezes, mas sob ângulos bem diferentes, com a convergência se dando justamente na página dupla final que se passa na Terra-Alfa, ou Elseworld, um dos pilares do Metaverso, que tem como característica maior ser “influenciado pela energia de Darkseid” em oposição ao universo principal que é “influenciado pela energia do Superman”. Para fazer isso, a publicação é daquelas que conta com duas capas, uma virada de cabeça para baixo, com duas histórias desenhadas por artistas diferentes, mas com a mesma dupla de roteiristas, o que, claro, é um  artifício chamativo e, confesso, bem executado, ainda que as histórias em si, que bebem de uma sucessão de eventos pregressos da DC, incluindo O Relógio do Juízo Final, sejam bastante bagunçadas e afobadas.

A primeira delas, Alfa, se passa no dia da inauguração do novo satélite que é base da nova Liga da Justiça Sem Limites, que decorre dos eventos de Poder Absoluto. Williamson e Snyder dão grande destaque ao Gladiador Dourado e o quanto ele sempre foi um membro da Liga que ninguém nunca deu valor e o quanto ele deseja ser membro novamente da equipe, algo que acontece na HQ, claro, somente para que ele, sendo um homem fora de seu tempo, tendo a oportunidade de seguir Darkseid pela fenda multiversal que ele deixa quando a história acaba. Sei que me adiantei, mas é basicamente isso que acontece no quartel-general da Liga: Darkseid chega ali fundido ao Espectro e causa o rebuliço que podemos esperar, somente para ser derrotado e em tese morto no que diz respeito o universo central, de maneira que ele, então, seja a base para o Universo Absoluto. A arte de Daniel Sampere é suficiente boa para lidar com a situação, mas seu comando espacial das páginas é inferior ao de seu colega Dan Mora, levando a ação confusa, que se perde demais entre raios e diálogos.

No outro lado da HQ, temos a história Omega em que vemos como Darkseid fundiu-se ao Espectro e, ainda que a explicação seja muito na base do “porque sim”, algo que simplesmente temos que aceitar, a arte bem característica de Wes Craig é belíssima, fazendo-nos retornar à era de Jack Kirby à frente do Quarto Mundo. É uma homenagem bonita, em uma pequena história sobre o grande vilão da DC Comics que força bastante a barra para a criação de um novo universo, mas que só pela arte já merece destaque, certamente bem mais destaque do que sua contrapartida mais burocrática no lado Alfa.

DC All In Special é uma experiencia… digamos… inusitada e vale a leitura, ainda que eu tenha certeza de que sua influência no desenrolar do Universo Absoluto será acanhada, a não ser que os planos da editora sejam de curto prazo para o novo universo, algo que duvido. Darkseid ter um universo só dele em que ele é a pedra fundamental tem potencial, eu sei, mas resta saber como será a execução desse ambicioso plano editorial da DC Comics.

DC All In Special #1 (EUA, 2024)
Alpha
Roteiro: Joshua Williamson, Scott Snyder
Arte: Daniel Sampere
Cores: Alejandro Sánchez
Letras: Steve Wands
Editoria: Marquis Draper, Paul Kaminsky, Chris Conroy
Omega
Roteiro: Joshua Williamson, Scott Snyder
Arte: Wes Craig
Cores: Mike Spicer
Letras: Steve Wands
Editoria: Sabrina Futch, Katie Kubert, Chris Conroy
Arte do spread central: Dan Mora
Cores do spread central: Tamra Bonvillain
Editora: DC Comics
Data original de publicação: dezembro de 2024
Páginas: 64

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