É engraçado Poder Absoluto ter sido lançado logo depois do excelente As Pontes de Madison, de 1995, um drama romântico que mostrou a versatilidade de Clint Eastwood como diretor. Infelizmente, ao retornar para suas raízes de narrativas de ação e crime dois anos depois, entregou um dos longas mais fracos e sem identidade de sua carreira. Adaptado do livro homônimo de David Baldacci, Poder Absoluto explora a corrupção em um país tomado pela incerteza e o ceticismo de uma população já familiarizada com polêmicas de figuras públicas, como aconteceu no famoso caso Watergate, um escândalo político tão grande que terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon.
Tomado por essa sensação de injustiça, Clint Eastwood decide contar a história de Luther Whitney (interpretado pelo próprio Eastwood), um experiente ladrão, que ao invadir uma mansão em Washington acaba presenciando, através de seu esconderijo, o presidente dos Estados Unidos (Gene Hackman) com sua amante. O que começa como surpresa, logo se transforma em uma tragédia, quando o presidente briga com a mulher e faz com que seus seguranças atirem nela.
Com um segredo e milhões de dólares roubados da mansão, Luther se encontra em um dilema. Ele pode fugir e deixar o caso para trás, ou tentar entregar o presidente. Independente de sua decisão, ele ainda terá agentes federais o procurando, então corre contra o tempo para derrotar o presidente ao mesmo tempo que evita os agentes, enquanto também deve se preocupar com a segurança de sua filha.
Talvez a proposta funcione melhor em forma literária, isso porque a adaptação cinematográfica acaba com uma execução cansativa, tentando entregar um thriller policial que preza por longas sequências de tensão, raramente envolventes. A própria cena responsável por engatilhar a trama tem uma câmera bem planejada, com o protagonista assistindo a ação através de seu esconderijo, deixando tudo mais claustrofóbico e desconfortável, mas a longa duração do presidente se debatendo com a sua amante, enquanto Luther reage com uma infinidade de reações, faz com que a consequência seja mais previsível.
Por mais que Eastwood tenha se provado um ótimo diretor em diversas instâncias, Poder Absoluto não carrega qualquer traço seu, e por vezes parece ser o tipo de projeto entregue às mãos de um diretor que estava apenas interessado em recolher sua parte da bilheteria. O longa sofre com uma falta de foco e montagem repetitiva, com um enredo que provavelmente funcionaria muito bem nas mãos de alguém interessado em arriscar com a estrutura narrativa, mas aqui é apenas uma história que depende demais da paciência do espectador e o talento do elenco, facilmente o maior destaque do filme, mesmo que nem isso tenha sido muito bem aproveitado.
Mesmo interpretando um criminoso, Eastwood evidencia a humanidade e um senso de integridade no personagem, resultando em um protagonista carismático, principalmente através de sua relação com sua filha Kate, interpretada por uma jovem Laura Linney. Outra boa interação do núcleo dramático está entre Eastwood e Ed Harris, que assume o papel do oficial Seth Frank. Os dois dividem algumas das cenas mais genuínas e interessantes do longa, salvando até alguns dos fracos diálogos. Entretanto, há nomes como Judy Davis, Richard Jenkins e até Gene Hackman, que não parecem confortáveis o suficiente com seus papéis e acabam entregando as atuações mais caricatas do longa.
Ainda que tenha uma proposta promissora e um elenco de primeira, Poder Absoluto não consegue executar a trama de maneira eficiente e se perde em uma história previsível. A intenção é boa, mas acaba sendo uma das tentativas mais frustradas de Clint Eastwood por trás das câmeras, embora mantenha a pouca atenção do espectador com um protagonista bem construído.
Poder Absoluto (Absolute Power – USA, 1997)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: William Goldman (baseado no romances de David Baldacci)
Elenco: Clint Eastwood, Laura Linney, Gene Hackman, Ed Harris, Richard Jenkins, Judy Davis, Scott Glenn, Dennis Haysbert
Duração: 121 min.