Home TVTemporadas Crítica | Plantão Noturno (The Night Shift) – A Série Completa

Crítica | Plantão Noturno (The Night Shift) – A Série Completa

Uma série de plantões e situações caóticas de um atendimento de emergência.

por Leonardo Campos
3,K views

Diante do cenário não conclusivo para um amontoado de dramas médicos lançados na década de 2010, Plantão Noturno durou mais que o esperado. A trama ligeiramente “vulgar” dramaticamente mesclou, constantemente, elementos da maior referência contemporânea no tema, isto é, o dramalhão Grey’s Anatomy e pincelou com traços emergenciais de Plantão Médico e seus derivados, tendo ainda como foco, a associação de alguns membros do elenco principal com histórico militar recente, todos traumatizados ou sensibilizados por questões ligadas ao luto, causador de dores originadas por perdas pessoais ou alheias. Quando mencionei “referência”, anteriormente, não apontava o vocábulo no sentido “tendência a ser seguida”, pois sabemos que a série de Meredith Grey é amada e desejada por nós todos, inclusive quem vos escreve, nas os arcos dramáticos da galerinha de Seattle já se esgotaram há eras.

Desta forma, não é um caso a ser seguido, mas é a tipologia de drama médico que se tem produzido contemporaneamente, com alguns poucos casos que se diferenciam por mais robustez dramatúrgica, dentre os exemplos, New Amsterdan, The Good Doctor e The Resident, sendo os dois últimos, ambos em suas terceiras temporadas, engrenadas para se tornar o mais do mesmo aqui criticado, receio que vem com as suas renovações para o quarto ano. Criada por Jeff Judah e Gabe Sachs, Plantão Noturno durou quatro temporadas, exibidas entre 2014 e 2017, tendo como foco, o atendimento de emergência dos médicos no San Antonio Memorial Hospital, profissionais constantemente em linha de combate com um sistema de saúde burocrático, necessidades dramáticas pessoais solapadas pelo trabalho sem interrupções para vítimas de estupro, acidentes de trânsito, desastres ambientais ou promovidos pela própria humanidade em zonas urbanas, atiradores psicologicamente abalados, etc.

A multiplicidade de casos e o aumento constante de tensão geram em Plantão Noturno um clima de pouco tempo para amar, dormir, assistir aos filmes ou espetáculos do interesse diletante de cada personagem. Nos 35 textos assinados pela dupla de criadores, apoiados por uma considerável sala de roteiristas, o estereótipo vence a subversão de narrativas e aqui, os doutores vivem exclusivamente para tratar dos outros, mesmo quando em situações irritantes para seus espectadores, os heróis deixam se levar pelo ego e preferem colocar os pacientes, a própria carreira e a imagem do hospital em risco, tendo em vista testar métodos que quase sempre dão certo, mas tornam as principais figuras ficcionais da trama um painel de arquétipos já insuportáveis na seara da dramaturgia televisiva contemporânea. São indivíduos que acredito, pensam mais em si que nos demais, necessitados da desgraça alheia para que ao longo do atendimento, exorcizem os seus próprios demônios internos.

Isso não significa que Plantão Noturno deixe o seu público sem se envolver. Mesmo nos momentos ruins ou irregulares, ficamos até o final para compreender como tudo termina, parece uma espécie de pacto com a ficção. Funciona assim também com vocês? Com os habituais episódios em torno dos 42 minutos de duração, a série apresenta uma paleta urbana, mas também muito próxima dos tons que nos remetem ao que se convencionou a ser uma representação de um espaço bélico, sépia, empoeirado, por vezes, ensolarado nas cenas externas, com o tradicional verde, azul, branco e tons em contraste discreto na parte interna do hospital, organizado pelo design de produção, setor encabeçado por Helen Huang. Ela assina a maioria dos episódios padronizados do programa, ao lado de Lex duPont e Arthur Albert, diretores de fotografia mais dominantes no setor que trabalha do lado do design para dar o tom e construir a atmosfera visual convincente para nós nos sentirmos num ambiente hospitalar.

Ao longo de seus 45 episódios divididos em quatro anos, a série contou com a condução musical adequada de Fred Coury, recurso narrativo bem dosado entre o melodrama e a ação ofegante entre os poucos momentos de pausa e as intensas compressas, curativos e demais cuidados com pacientes entubados, engessados e até mesmo em cirurgias emergenciais antecipadoras de momentos fatais para alguns pobres coitados que não conseguem a ajuda em tempo hábeis para a manutenção da vida por mais algum tempo. As aberturas de Plantão Noturno dificilmente são puladas por quem assiste, haja vista o empolgante tema musical e o recorte ao estilo videoclipe que estabelece o clima de cada unidade dramática do programa. Em comparação aos demais do estilo, a abordagem de soldados homossexuais e as celeumas de um relacionamento assim diante do preconceito e da cristalização da imagem que se tem de militares foi um tema trabalhado com cautela pela série, por meio do Dr. Andrew Alister (Brendan Fehr).

No panorama de personagens mais centrais, temos Dr. TC Callahan (Eoin Mackeen), um jovem médico com passado recente militar. Ele possui estresse pós-traumático depois de ter sido testemunha da morte de seu irmão, também soldado, morto numa frente de batalha. TC é chato, teimoso, arrogante e inconsequente, mas como mandam os estereótipos deste tipo de série, quase sempre acerta e próximo ao ato de colocar tudo a perder não apenas para si, mas para quem lhe acompanha, reajusta as coisas e demonstra que merece a confiabilidade que exala de sua personalidade. Ele é ex-namorado da Dra. Jordan Alexander (Jill Flint), a personagem mais carismática da série. Segura, mas cautelosa, a jovem médica domina a ação na sala de emergência e exerce um protagonismo feminino forte, sempre a manter os ânimos dos demais colegas em equilíbrio nos momentos de maior exaltação. Dr. Topher Zia (Ken Lung) é um dos médicos do eixo central até a terceira temporada, momento de sua saída do programa.

Completam o time, Dr. Scott Clemmens (Scott Wolf), Dra. Krista Bell (Jeananne Goossen), o chefe do hospital, Dr. Michael Ragosa (Freddy Rodríguez), dentre outros residentes, enfermeiros e demais personagens extra-hospitalares, importantes (ou não) para a manutenção de conflitos exibidos no desdobramento das quatro temporadas. Produção da NBC, Plantão Noturno manteve a padronização dos dramas médicos da década em que se situa: romances inacabados, traumas do passado sem a devida resolução, médicos colocados em situação limitadas, tanto fisicamente quanto emocionalmente, além de embates entre os profissionais da saúde e os esquemas burocráticos que regem o que chamamos de “sistema”. Ah, a instabilidade da manutenção do hospital também foi tema pra algumas tensões, bem como a “paternidade”, tópico que atracou no porto da série da segunda metade para o final e transformou alguns tópicos conflitantes em “puro drama” para seu último ano, feixe de episódios ao menos digno para os seus personagens, com encerramento de arcos dramáticos, alguns felizes outros nem tanto.

Plantão Noturno (The Night Shift, Estados Unidos/2014-2017)
Criação: Jeff Judah, Gabe Sachs
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: EoinMacken, Jill Flint, Brendan Fehr, Robert Bailey Jr., JR Lemon, Alma Sisneros, Esodie Geiger, Ken Leung
Duração: 42 min. (Cada episódio – 45 episódios no total)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais