Não é nenhuma novidade que o cinema de Nicolas Cage tem sido inconsistente há mais de uma década, oscilando entre algo preguiçoso como Willy’s Wonderland e o brilhante Pig: A Vingança, ambos lançados no mesmo ano. Isso rende todo tipo de piada em cima de sua carreira, a minha favorita sendo um episódio inteiro na série Community, onde uma personagem participa de uma aula intitulada “Nicolas Cage: Bom ou Ruim?”, e desde então abordo todo trabalho de Cage da forma que a série o define, considerando que talvez ele “atue bem em filmes bons, e mal em filmes ruins” apenas para conseguir uma grana extra, o que na verdade é o atestado do seu verdadeiro talento: saber exatamente em que tipo de produção está se envolvendo.
Plano de Aposentadoria é um caso peculiar, com a clara intenção de arrecadar bilheteria o suficiente para se pagar em cima da figura que é Nicolas Cage na cultura pop, mas também carrega o certo charme de uma obra que parece estar se divertindo com a premissa, brinca com a metanarrativa de seu próprio contexto e chega a explorar bem seus personagens, caricatos de início, porém bastante envolventes.
Ashley (Ashley Greene) e seu marido tem a “brilhante” ideia de roubar um importante documento de uma organização criminosa internacional, mas assim que o plano do casal é descoberto, Ashley consegue escapar e foge com sua filha para as ilhas Cayman à procura da única pessoa capaz de ajudá-las, o pai de Ashley, Matt (Nicolas Cage). Ausente na maior parte da vida de sua filha, Matt agora vive bebendo e dormindo nas praias locais, mas logo Ashley descobre que o passado do pai envolve segredos maiores do que poderia imaginar.
Com essa premissa fica fácil entender o caminho tomado pelo longa, e não há qualquer surpresa em volta do dito “mistério” por trás da personagem de Cage, o que também evidencia o maior problema de Plano de Aposentadoria, a falta de comprometimento com uma consistência na trama, em momentos criando confusão por conta de uma montagem mal trabalhada, que nunca chega a deixar o espectador completamente perdido, mas nem sempre o filme parece saber se utiliza o alívio cômico como ferramenta exclusiva na quebra de tensão ou se entrega completamente à comédia –talvez essa fosse uma decisão melhor considerando que é a única parte que funciona, ao lado das personagens carismáticas, principalmente o núcleo de antagonistas, os capangas incompetentes que rendem as melhores sequências do filme, com destaque para a personagem do grande (literal e metaforicamente) Ron Perlman, sendo o escolhido para interagir com a única criança do filme, conversando sobre Shakespeare e crime organizado de forma tão engraçada que outro ator poderia estragar a cena parecendo que está apenas lendo o texto, mas Perlman parece estar se divertindo de verdade nesse núcleo dramático.
Plano de Aposentadoria talvez possa ser apenas uma desculpa para arrecadar dinheiro em cima da imagem de Nicolas Cage, mas consigo ver ele facilmente se tornando um tipo de guilty pleasure, indo além de um enredo preguiçoso e uma direção tão ausente quanto a própria personagem de Cage, conquistando exclusivamente por conta da divertida interação entre o elenco e alguns segmentos onde o longa se entrega de verdade para a comédia, onde ele pertence.
Plano de Aposentadoria (The Retirement Plan – EUA, 2023)
Direção: Tim Brown
Roteiro: Tom Brown
Elenco: Nicolas Cage, Ashley Greene, Thalia Campbell, Ron Perlman, Jackie Earle Haley, Ernie Hudson, Grace Byers, Joel David Moore
Duração: 103 minutos