- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios da série.
Ao longo da temporada, os roteiristas fizeram um ótimo trabalho em tornar Oz um personagem simpático. Nunca bom ou identificável (pelo menos espero que não…), mas razoavelmente empático em torno de algumas narrativas sobre traumas infantis, seu relacionamento com sua mãe e seu discurso de underdog – o tom de humor em diversos momentos também ajudou a suavizar o personagem. Claro que aos poucos a verdade foi vindo à tona, com as mentiras contadas pelo protagonista, tanto para os outros quanto para ele mesmo, surgindo à medida que tivemos novas revelações e flashbacks. Chegamos em Algo Grave ou Trivial não apenas esperando a resolução do jogo entre Sofia e Oz, mas também com a expectativa da conclusão do arco do protagonista em torno do questionamento: como um monstro é criado?
Em Cent’anni vimos essa resposta perturbadora com Sofia e em Manda-chuva temos uma visão parcial dessa resposta para Oz quando descobrimos seu passado sombrio. Para sua mãe, Francis, seu filho nasceu um monstro. Mas essa explicação é muito superficial, muito unidimensional, por mais sinistra que seja a história de origem. Faltava aquele ponto final para vermos a versão conclusiva de Oz, algo além de um monstro, algo além de insano, onde o personagem efetivamente se torna O Pinguim. O final da minissérie vem para responder, mostrar e personificar a ascensão – ou derrocada, dependendo do ponto de vista – de Oz, com direito a cartola e guarda-chuva, faltando apenas o monóculo!
Estou me adiantando, porém.
O início do episódio é mais uma volta ao passado, dessa vez em torno de Francis revelando que sabia da verdade sobre a morte de seus outros dois filhos e pedindo para Rex assassinar o jovem, mas com uma pequena bola curva visual: estamos vendo tudo em forma de memórias da personagem sendo manipulada por Sofia e Rush. É um toque criativo tão bacana, seja porque nos deixa ver aqueles momentos através da interpretação magistral e agoniante de Deirdre O’Connell, seja porque evidencia como Francis fica remoendo o passado e como sua condição mental piora ainda mais seu estado emocional, algo que justifica e recontextualiza as interações dela com Oz na temporada.
A sequência seguinte é de cartas na mesa, com Sofia fazendo de tudo para que Oz e Francis confrontem a verdade. É, talvez, a melhor cena de todo o seriado, com as características do protagonista completamente transparentes para o público. Vemos sua carência, narcisismo, dissimulação e principalmente como o personagem cria narrativas para si próprio, chegando ao ponto de preferir que cortem os dedos de sua mãe do que confessar seu crime. Muito do que foi apresentado durante a temporada com Oz vem à tona, como na cena do ataque cardíaco de Saul, onde o personagem se recusa a “perder”, ou como mente para si mesmo que é um “homem do povo” na sequência do carro com Sofia, sempre “enganando a si mesmo”. Para além do ótimo desenvolvimento do protagonista, essa cena em si é tensa, muito bem dirigida entre os closes dos personagens, todos em grandes atuações, e os diálogos são absolutamente viscerais, cheios de ódio e remorso. Um verdadeiro espetáculo.
Talvez minha grande crítica ao episódio seja direcionada a como a cena termina, com Oz facilmente fugindo. Já disse algumas vezes que essas facilidades da produção acabam sendo o ponto crucial para eu não considerá-la a obra-prima que muitos dizem, quase como uma versão preguiçosa de outras séries de crime mais inventivas nesse lado narrativo, como Breaking Bad ou Ozark, para dar exemplos famosos. A sacada seguinte com o político também me soa muito conveniente, mas, ainda assim, não são questões que pesam demais no saldo do episódio, que é realmente excelente em todo o resto. A própria reviravolta final do seriado, com Sofia perdendo em razão de traições nas gangues, é relativamente anticlimática, mas é uma resolução tematicamente apropriada para o que o protagonista representa com ambição, deslealdade e manipulação. O fato dele colocar Sofia de volta no Arkham é a cereja no bolo da guerra entre os personagens, com a personagem efetivamente terminando numa nota de simpatia com o público.
O que se segue a partir disso com Oz finalmente no poder é absolutamente brutal. Como pontuei no início da crítica, por mais perverso que o personagem tenha sido ao longo da minissérie, faltava aquele momento icônico e sem volta para Oz, algo que é representado com a morte de Vic. Essa cena é nojenta, asquerosa, hedionda e completamente sensacional para não deixar qualquer dúvida de que o protagonista é algo além de um monstro, concluindo um dos melhores e mais surpreendentes arcos de um vilão dos últimos anos. O melhor de tudo é que essa tragédia é anunciada e orgânica, era algo esperado e ainda assim foi impactante, pelo momento que aconteceu, pelo que foi dito e pelo vínculo que foi criado entre os dois. O fato de que Oz ainda deixa sua mãe viva em um estado vegetativo (algo que ela implorou para ele não deixar) e coloca Eve naquele papel deturpado são os requintes de crueldade de um antagonista inesquecível. O Rei de Gotham chegou e o Batman que se prepare.
Pinguim – 1X08: Algo Grave ou Trivial (The Penguin – 1X08: A Great or Little Thing) | EUA, 10 de novembro de 2024
Criação: Lauren LeFranc
Direção: Jennifer Getzinger
Roteiro: Lauren LeFranc
Elenco: Colin Farrell, Cristin Milioti, Rhenzy Feliz, Deirdre O’Connell, Clancy Brown, Carmen Ejogo, Michael Zegen, Berto Colón, James Madio, Joshua Bitton, David H. Holmes, Daniel J. Watts, Ben Cook, Jayme Lawson, Theo Rossi, Emily Meade, Ryder Allen
Duração: 68 min.