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Crítica | Pinguim – 1X01: Tempo Extra

Um copo de ambição.

por Kevin Rick
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Uma semana após os eventos de Batman (2022), em que Gotham City foi devastada por inundações graças ao Charada e seus seguidores, acompanhamos Oswald “Oz” Cobb, vulgo Pinguim (Colin Farrell) tentando se reerguer em meio à destruição da cidade e uma mudança de poder do crime organizado depois da morte de Carmine Falcone. Logo na abertura da minissérie, o protagonista mata Alberto Falcone, filho do falecido chefe do crime, que estava prestes a assumir os negócios da família, mas é surpreendido quando um dos seus superiores, Johnny Vitti (Michael Kelly), informa que sua operação será transferida de Gotham, ao mesmo tempo que Sofia Falcone (Cristin Milioti), outra filha de Carmine e uma serial killer que estava presa no Arkham, ressurge para ajudar a reestabelecer a direção da família e começa a desconfiar de Oz quando seu irmão desaparece.

Em linhas gerais, o que se segue a partir disso é um episódio inicial sólido, promissor e introdutório para os diversos temas da temporada, muitos dos quais eram esperados desde o anúncio da produção, como a narrativa principal sobre a ascensão ao poder do Pinguim em meio a traições, assassinatos, esquemas sórdidos e outros clichês de produções sobre mafiosos e gângsteres. Ainda é cedo para dizer se a obra vai saber utilizar essas convenções ou se será genérica, mas Tempo Extra demonstra que a equipe criativa está ciente de suas inspirações e que não pretende negá-las, algo que Matt Reeves tratou com muita consciência em seu longa.

De início, gosto de como a produção mantém o estilo formal do filme de 2022, passando pela atmosfera melancólica e a direção mais para um suspense noir/crime do que algo necessariamente típico do que estamos acostumados com obras de super-heróis, além de uma trilha sonora intensa, apesar de ser mais distante do grunge do que o longa. Obviamente que o orçamento limitado da minissérie não deixa o episódio atingir o mesmo nível de qualidade visual com o uso aprimorado da iluminação e das penumbras na fotografia, a construção de cenários com aquele aspecto diegético fora do tempo ou grandes sequências de Gotham, inclusive com mais cenas à luz do dia, mas a essência ainda está lá e é perceptível o bom trabalho da produção em todos os departamentos.

Um desses departamentos é o de maquiagem, que novamente faz um trabalho magistral com o Pinguim, que fica no limite do grotesco com o realismo para não deixar o personagem cair numa caricatura, com destaque para a sequência de tortura do personagem, em que o trabalho com próteses beira o horror corporal. Colin Farrell continua lidando muito bem com a maquiagem pesada, dessa vez com mais tempo para personificar o personagem em todos os seus maneirismos. Ainda não compro o ator totalmente para as cenas dramáticas, mas Farrell não faz feio nas sequências emocionais do episódio e se destaca ainda mais na parte humorística do texto e na acidez do protagonista, passando pelo seu andar, suas falas irônicas, constante dissimulação e comicidade perversa, especialmente nas cenas de brutalidade criminal.

Nesse sentido, a adição de Victor (Rhenzy Feliz) como uma espécie de Robin para o vilão é uma escolha assertiva, criando uma dinâmica interessante nesse primeiro episódio, passando tanto pela intensidade de seu encontro inicial quando o jovem está ameaçado, até uma amizade/mentoria forjada das maneiras mais perturbadoras possíveis até o desfecho da estreia. A presença de Victor abre espaço para humor, mas também para mostrar um lado melancólico e até certo ponto empático do Pinguim, que é um monstro criado pelo seu próprio ambiente, com destaque para a sequência na casa da mãe do protagonista. Assim como Matt Reeves fez um estudo do vigilante em seu filme, Lauren LeFranc parece seguir a mesma perspectiva narrativa aqui, desenvolvendo o homem por trás dos atos hediondos.

Penso que vai ser interessante ver o desenvolvimento dessas dinâmicas do personagem em meio às tramoias e reviravoltas de suas batalhas no mundo do crime, que, inclusive, são bem compostas e bem estruturadas no episódio. Começando pela maneira como vemos Oz passando por diferentes partes de Gotham, quase onisciente na maneira como conhece cada pedaço da cidade, até a forma que o roteiro introduz as principais peças e adversários (os Falcone e os Salvatore) à medida que o protagonista os engana, temos uma narrativa esperta, que sabe utilizar bons clichês desse tipo de história e que deixa um tabuleiro muito interessante para o restante da temporada. Entre a guerra entre diferentes famílias, a disputa por Gotham e uma nova droga na área, temos bons elementos para uma possível boa série de crime.

A escolha da música 9 to 5, da Dolly Parton, é apropriada para finalizar o episódio, porque acena para a jornada do Pinguim na mesma medida que adiciona um toque de humor muito bem vindo à produção, que em Tempo Extra faz uma ótima introdução para os conflitos e temas da série, dá continuidade para o que foi feito em Batman enquanto adiciona sua própria identidade e inicia uma expansão orgânica para esse universo do morcegão na DC. Vi muitas comparações à Família Soprano e à Boardwalk Empire, que acho exageradas, apesar de entender de onde vêm, passando pelo estilo da história, o fato de serem produções da HBO e agora até os problemas maternos de Oswald que se assemelham aos de Tony Soprano, mas se Pinguim vai alçar esse nível de excelência ou ser “mais uma” série do gênero, só o tempo dirá. Até agora, porém, a estreia é um indicativo muito positivo.

Pinguim – 1X01: Tempo Extra (The Penguin – 1X01: After Hours) | EUA, 19 de setembro de 2024
Criação:
Lauren LeFranc
Direção: Craig Zobel
Roteiro: Lauren LeFranc
Elenco: Colin Farrell, Cristin Milioti, Rhenzy Feliz, Deirdre O’Connell, Clancy Brown, Carmen Ejogo, Michael Zegen, Berto Colón, James Madio, Joshua Bitton, David H. Holmes, Daniel J. Watts, Ben Cook, Jayme Lawson, Michael Kelly
Duração: 65 min.

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