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Crítica | Physical – 2ª Temporada

Trocando de vício.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

Em sua segunda temporada, Physical não faz muitas concessões e, com isso, não perde sua marca principal, que é criar uma combinação ousada de temas desagradáveis com personagens igualmente ou mais desagradáveis, tendo Rose Byrne como Sheila Rubin, mulher casada e mãe de uma filha pequena que secretamente sofre de bulimia e que decide ser mais do que uma dona de casa, usando seu gosto por exercícios aeróbicos para fazer como Jane Fonda famosamente fez nos anos 80, década em que a série se passa: vender fitas de VHS com suas rotinas. É, definitivamente, uma obra repleta de gatilhos psicológicos que precisam ser observados antes de o espectador mergulhar no drama proposto.

Ao final da primeira temporada, Sheila e John Breem (Paul Sparks), dono do shopping center em que ela descobrira a humilde academia de Bunny Kazam (Della Saba), e rival político de seu marido Danny Rubin (Rory Scovel), têm uma apoteótica sessão masturbatória no mall que, conforme descobrimos logo no começo do segundo ano, deu origem a um caso extraconjugal. Por um tempo, essa aventura de Sheila substitui seus rituais de degustação neandertal de hambúrgueres seguidos de regurgitações no banheiro do motel, com John, por seu turno, lutando para conciliar seus desejos carnais – e mais do que apenas isso – com sua educação mórmon profundamente religiosa que o prende profundamente à sua família.

Esse novo status quo é acompanhado de diversas modificações em relação aos demais personagens. Danny diminui sua intensidade política e passa a perceber que sua esposa precisa de ajuda em casa para permitir que seu novo negócio floresça, o que leva à eliminação de seu insuportável amigo Jerry Goldman (Geoffrey Arend) da série a certa altura, com uma integração mais completa do personagem com os problemas de Sheila que ele aos poucos vai descobrindo. Greta Hauser (Dierdre Friel), amiga de Sheila, passa a ser sua sócia capitalista em razão da riqueza de seu marido, o que cria conflitos também bem integrados à narrativa. E, com John Breem como amante de Sheila, sua história antes talvez muito externa à linha narrativa principal, passa também a integrar o núcleo central, mesmo que, claro, de maneira tangencial em razão justamente de seu relacionamento com ela.

Curiosamente, porém, é Bunny, sentindo-se traída por Sheila e tentando vingar-se com a ajuda de seu namorado surfista Tyler (Lou Taylor Pucci) que é afastada do núcleo da história por muito tempo na temporada, com suas aparições em boa parte dos episódios parecendo forçadas, com os roteiros sofrendo para conseguir criar ritmo e naturalidade ao que vemos. Assim como John na temporada anterior, Bunny continua importante para a história macro sendo contada, mas a grande verdade é que a personagem é substancialmente apagada da temporada, ainda que ela ressurja aqui e ali para mostrar que existe e que, no final das contas, ainda tem sua relevância dentro dos planos da showrunner Annie Weisman.

Um dos fatores que certamente contribuiu para esse “apagamento” foi a introdução de Vinnie Green, intrutor de aeróbica bem sucedido que tem um pequeno império de produtos com sua marca que ele vende em informerciais pela televisão. Vivido pelo excelente Murray Bartlett, que arrasou no papel do gerente do resort havaiano na primeira temporada de The White Lotus, o personagem pode ser visto como uma versão futura de Sheila, o sonho empresarial da protagonista que ela procura justamente para aprender seus segredos e estratégias, mas acaba tendo que enfrentar Marika Green, a esposa controladora de Vinnie hilariamente encarnada por Anna Gunn (a Skyler, de Breaking Bad). Apesar de seu arco na temporada ter um fim abrupto demais e, por isso, mal resolvido, a energia do ator e seu pareamento com Byrne funciona muito bem com uma novidade positiva na temporada.

E o mesmo vale para a abordagem do distúrbio alimentar de Sheila. No lugar de mais uma vez mantê-lo escondido, ele finalmente vem à luz sem rodeios, com um particularmente preocupado e compreensivo Danny ganhando pontos por fazer de tudo para levar sua esposa ao caminho de um tratamento. Mas, de forma semelhante ao que acontece com o arco de Vinnie, a internação de Sheila em uma clínica em que ela recebe a atenção que precisa tem um passo acelerado demais para um assunto tão central à história, o que leva a momentos satisfatórios e consideravelmente sóbrios sobre o problema, mas que parecem estar ali apenas para cumprir tabela, sem que a questão seja abordada com a calma e a profundidade que merecia.

Em seu segundo ano, Physical avança em seus temas e em suas histórias, e Sheila ganha bom desenvolvimento. No entanto, creio ser possível notar com bastante nitidez que o freio de mão é puxado em diversos momentos, talvez para permitir que a narrativa seja protraída no tempo, ao longo de mais temporadas do que talvez precisasse. Ainda é cedo para afirmar isso com toda a certeza, mas a saga da transformação e reinvenção de Sheila Rubin não parece precisar de muito mais para chegar a seu fim natural.

Physical – 2ª Temporada (Idem – EUA, 18 de junho a 06 de agosto de 2021)
Criação: Annie Weisman
Direção: Stephanie Laing, Dan Lazarovits
Roteiro: Annie Weisman, Rachel Caris Love, Jessica Dickey, K.C. Scott, Justin Bonilla, Jackie Li, Coleman Herbert, Rosa Handelman
Elenco: Rose Byrne, Rory Scovel, Paul Sparks, Della Saba, Lou Taylor Pucci, Dierdre Friel, Ian Gomez, Erin Pineda, Grace Kelly Quigley, Wallace Langham, Murray Bartlett, Anna Gunn, Tawny Newsome, Donny Divanian, Emjay Anthony
Duração: 286 min. (10 episódios)

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