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Crítica | Pets Unidos! (Pets United)

por Luiz Santiago
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Filmes com animais são aqueles conseguem rapidamente chamar a atenção da maioria dos espectadores, e por um motivo fácil de se imaginar: a maioria das pessoas gostam de animais, especialmente de animais de estimação. A lista de obras que narrativa e visualmente ganharam peso e importância com isso é bem grande, e o cinema já nos deu um bom número de excelentes exemplos com esse tema animalesco em cena. Na animações, eles são usados frequentemente, e com uma liberdade bem maior, possibilitando todo tipo de trabalho criativo.

Em Pets Unidos! (Pets United), que se passa em uma cidade futurista que aparentemente ainda não conseguiu resolver seus problemas com acolhimento e adoção de animais, temos um roteiro que pega esse tema tão querido e simplesmente o passa por um moedor de absurdos, por um rolo-compressor de estupidez e por uma miríade obrigatória de falta de foco, nos deixando com um filme que só vale a pena se o espectador tiver muito tempo para gastar e se quer ter um bom exemplo de como seria se uma criança de cinco anos fosse convidada para escrever um roteiro juntamente com uma criança de seis anos. Aparentemente ganhariam milhões para uma produção entre China, Alemanha e Reino Unido sobre… pois é. Sobre o que mesmo?

Logo nos primeiros minutos eu caí na armadilha de impacto frente a beleza da animação. A direção de Reinhard Klooss consegue despertar a nossa atenção ao mostrar diversas curiosidades dessa cidade e a posição do cão Roger (Patrick Roche) frente aos desafios que ali encontra diariamente, procurando comida e fugindo de um policial robô específico. Mas são bem poucos minutos de ilusão. O primeiro choque negativo vem quando o roteiro se esquece por completo da introdução falante e bem musicalizada para entrar numa longa sequência de onomatopeias, beirando o desconfortável, porque destoa totalmente daquilo que nos trouxera inicialmente. E isso serve como um verdadeiro prenúncio do que viria: momentos musicais bizarros sem quê nem por quê (com uma dessas canções sendo interrompida “porque sim“) e no topo de tudo, a constante mudança de foco que o roteiro faz.

A certo ponto do andamento do filme eu comecei a rir de nervoso. A inicial história de Roger passa a ser uma história dele com o amigo Bob (Felix Auer), um “robô pet” e outros personagens que moram nas ruas. A trama muda levemente para validar a conexão desses personagens iniciais com os bichos ricos e bem cuidados da cidade, mas o motivo dessa ligação é ruim, começa no nada e quase termina em lugar nenhum. Por sorte há uma nesga de trama de reencontro sendo trabalhada com certo cuidado, e encontramos uma surpresa até interessante na reta final. Todavia, ela está no meio de um plano mal estruturado, com uma justificativa reticente, para dizer o mínimo, e com nuances de desvio que atira para todos os lados, desde a inserção de um grupo vilanesco de feras do zoológico que não serve para absolutamente nada até diálogos ou cenas inteiras que a gente só olha para tela e clama mentalmente “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?“.

O mais engraçado no meio desses desvios todos é que fizeram questão de mostrar que a China é um dos países produtores do longa, mas é um tipo de tiro no pé horroroso. Não é por nada não, mas EUA, França e Reino Unido conseguiram fazer uma “animação comunista” cem mil vezes melhor do que essa torpe tentativa de mostrar uma revolução aqui em Pets Unidos!, com um ajuntamento de robôs trabalhadores e de cidadãos (no caso, os pets) procurando algum tipo de valorização de seu trabalho e de suas próprias existências. Deveriam ter aprendido as lições (técnicas E teóricas!) com a impagável e sensacional A Fuga das Galinhas!

Pets Unidos! é um verdadeiro desastre de desenvolvimento narrativo. No escopo da obra, certa simpatia pela presença dos animais ganham um pouco o nosso coração, assim como a já citada linha dramática de reencontro, que nos toca pelo caráter que esse tipo de drama tem sobre nós, mas, novamente, é algo bem menor do que seria em um enredo verdadeiramente bom. Isso sem contar que tudo está coberto por piadinhas de mal gosto e por insinuações sexuais despropositadas e bem ridículas que vão desde que os bichos ricos entram em cena até o final da obra. Se tem uma coisa verdadeiramente unida aqui é a falta de foco e a burrice. Valha-me!

Pets Unidos! (Pets United) — Alemanha, China, Reino Unido, 2019
Direção: Reinhard Klooss
Roteiro: Reinhard Klooss, Oliver Huzly
Elenco: Patrick Roche, Natalie Dormer, Felix Auer, Jeff Burrell, Harvey Friedman, Marty Sander, Bryan Larkin, Naomi McDonald, Andres Williams, Tom Haywood, Ian Odle, Frank Schaff, Eddie Marsan
Duração: 89 min.

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