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Crítica | Perseguindo o Gelo

por Leonardo Campos
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Registros de guerras. Modelos nas passarelas. Vida das celebridades. Os caminhos da fotografia são variados e Perseguindo o Gelo nos mostra a relação deste meio de produção com as preocupações de cidadãos preocupados com questões ambientais. Lançado em 2012, o documentário escrito por Mark Monroe e dirigido por Jeff Orlowski, também responsável pela exuberante direção de fotografia, nos mostra uma expedição que passeia pelo Ártico, comandada por James Balog, fotógrafo que utiliza câmeras de efeito time-lapse para capturar as mudanças que anualmente ocorrem nas geleiras destas zonas extremas do planeta, transformação da natureza com resultados catastróficos segundo a previsão de ambientalistas. Fundador do Extreme Ice Survey, o grupo investe em pesquisas com aparatos tecnológicos que revelam como o derretimento das geleiras segue um ritmo assustador e põe o nosso atual cenário geográfico em risco. Em suma, um documentário que entretém, mas possui nicho bem desenhado.

Ao longo de seus 75 minutos, acompanhamos os três anos de análise do processo, capturados e transformados nesta narrativa que teve como condução musical, o trabalho de J. Ralph, eficiente, complementado pela colaboração de Troy Whitmer como supervisor dos efeitos visuais, necessários para o didatismo de algumas passagens. Numa trajetória que atravessa os territórios da Islândia, Groelândia, Alasca e Montana, Perseguindo o Gelo nos mostra o empenho da equipe de James Balog, um grupo composto por cinegrafistas, geólogos, engenheiros, voluntários, dentre outros interessados no projeto cidadão e empreendedor de uma visão ambientalista importante num cenário de atual degradação do que ainda nos resta de recursos naturais. O seu ponto nevrálgico aqui é o aquecimento global e as suas ressonâncias, isto é, a diminuição do estoque de água doce e o aumento do nível dos oceanos, dois grandes problemas gravíssimos.

Com o desmoronamento de uma estrutura glacial considerável nas geleiras da Groelândia, algo equivalente ao território total do sul de Manhattan, o documentário pesa no discurso e põe em destaque a urgência na busca por resolução da questão. A produção nos faz retomar o Tratado de Paris, assinado em 2015, documento que tinha como objetivo, registrar o compromisso de 195 nações em minimizar os impactos do aquecimento global. Ao propor posturas mais assertivas diante desta crise, caso houvesse uma continuação, o documentário iria sem dúvida se ater aos registros para acelerar as engrenagens de seus debates. Financiado pela National Geographic Society, o documentário tem como ponto de partida e de chegada, a deflagração de um mundo movido pelo interesse no carbono, combustível fóssil que é essencial para algumas dinâmicas econômicas, mas prejudicial em seu uso proporcionalmente maior que o tempo pedido pela natureza para recuperação diante de seus impactos. Com a implantação de 25 câmeras fixas durante três anos, a equipe nos apresenta a mudança abrupta das paisagens, numa discussão que pode parecer menos urgente para alguns, mas que na verdade é pauta de emergência se quisermos dar ao planeta e seus habitantes, a oportunidade de recuperação para o futuro.

Ademais, a proposta em time-lapse, recurso que consegue comprimir as imagens entre 2007 e 2010 em apenas alguns segundos, torna a experiência em Perseguindo o Gelo genial. É uma forma alternativa para a nossa contemplação diante de documentários. Aqui, a tecnologia não funciona apenas para promover malabarismos dos realizadores, fascinados pelas possibilidades de seus aparatos tecnológicos. O que temos é o uso do recurso para filosofar firme sobre questões pontuais, sem deixar de lado o prazer da estética para quem adora imagens de grande beleza. O que dizer dos enquadramentos que contempla os belíssimos e poéticos blocos de gelo? São estruturas exuberantes que fascinam, associadas ao filme que tal como mencionado, retrata com esmero o tema, mas não se perde na beleza de suas imagens. O tema também foi discutido no terceiro episódio da série documental Terra, O Poder do Planeta. Na produção, discute-se o papel preponderante do gelo na formação de paisagens, moldagem da evolução humana, hoje transformado numa imagem de perigo para a humanidade, haja vista a formação de icebergs e a condução dos impactos já mencionados no desenho do planeta.

Perseguindo o Gelo — (Chasing Ice- EUA, 2012)
Direção: Jeff Orlowski
Roteiro: Mark Monroe
Elenco: James Balog, Paula DuPré Pesmen, Billy Ray, Stacy Sherman, Jeff Orlowski, Jerry Aronson, James Billmaier
Duração: 74 min.

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